Proa & Prosa

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Jogador-mercadoria em campo

Os orientais, a exemplo da China, Índia, Mongólia; os médio-orientais, Irã etc., deles não se evidencia maior engajamento

Fonseca Neto

Segunda - 12/12/2022 às 16:52



Foto: Lucas Figueiredo/CBF Copa
Copa

Sei o que é Copa do Mundo desde 1966. De escutar transmissões pelo rádio. Acontecimento que encantava muita gente, de várias culturas e nacionalidades, em particular de europeus e de alguns territórios adjacentes, caso do Brasil.

Os orientais, a exemplo da China, Índia, Mongólia; os médio-orientais, Irã etc., deles não se evidencia maior engajamento. As Áfricas até tentam: continente alvo de toda espoliação, suas populações precisam primeiro comer.

Correm nestes dias mais uma Copa, agora nas Arábias. Espécie de festa e fausto exibicionista de milionários.

Jogo? Sim. Mas não mais jogadores defendendo bandeiras e camisas de nações. Não é mais assim: agora jogadores disputam posições pessoais e de poderosas empresas que se intitulam clubes de futebol. Essas empresas substituem as nações como fontes do interesse pelo jogo-negócio.

Jogador foi transformado numa mercadoria, para os joguetes do capital-bola. A Copa se tornou vitrine muito cara de exposição dessa mercadoria-gente, despojada do afeto tipo nacional, agora mero simulacro para a estampa de camisas, calções e meiões, por si sós, produtos caríssimos para consumo de poucos. Chuteiras?! Mercadoria não tem nacionalidade.

No Brasil, com milhões de adeptos dessa modalidade esportiva, o futebol ainda é uma expressão apaixonada. Ainda se joga muita bola nos campinhos de várzea, mas até isso vai virando esquema, também desaparecendo, inclusive pela voragem do capital imobiliário que os engole rapidamente.

Futebol perde o encanto de décadas atrás em que correr atrás da bola e chegar ao gol movia mentes e corações. Agora o que se nota é uma “racionalidade” que torna as partidas lentas e, em geral, de pouca graça e emoção.

Na Copa o torcedor não ver mais um coletivo de 11 jogadores num esforço integrado em nome do grande público torcedor. Nem no Brasil. A festa não vem centrada no chamado “escrete verde e amarelo”, agora é a exaltação da mercadoria-produto fulano, beltrano e sicrano de tal, anunciada como pertencendo à marca empresarial tal, e qual.

Pior, no caso do Brasil, cuja mercadoria jogadores de futebol, testados em seu país, já  vendidos para clubes europeus, isto é, não jogam mais para brasileiro ver. A Copa é mera exposição da condição de mercadoria de cada um deles para compradores lá de longe.

Não há clubes brasileiros que, também já transformados em empresas, e de segunda, possam adquirir os medalhões da bola. Não desconheço a dimensão negócio que enreda a atividade dessa grande modalidade esportiva. O que tenho por indefensável é a manipulação da alegria coletiva inerente ao torcer.

Uma marca comercial qualquer em busca de realização de ganhos máximos – mera propaganda – vem despojada dos valores que movem o espírito de jogos comunitários. Copa não é Olimpíada? O espírito deve ser igual.

A “estética” do enriquecer, do acumular, do ganho a qualquer meio e custo, não elabora a harmonia da ética/estética do espírito olímpico. Camisa-calção-meia, mera placa de propaganda, tal motorista das Fórmulas, duvido que seja esporte.     

O grande público brasileiro torcedor de Copa vai minguando, ainda que não tenha notado a dimensão desastrosa da artificialidade das competições para atender aos referidos ganhos empresariais e menos ao fator lúdico que o esporte das massas desperta nos apreciadores.

A propósito, note-se, que a maioria dos ajuntamentos de torcedores em grandes cidades perderam a graça da espontaneidade e já são feitos por encomenda e financiados pelos vultosos lucros no negócio do jogo. 

A Copa tornou-se uma gigantesca máquina de fazer dinheiro. De fazer promoção de produtos diversos. A bilheteria é um detalhe, só, entre as transações literalmente em jogo. Máquina de consumo muito mais que meio de acendrar espíritos nacionaleiros, por exemplo.  

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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