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Golpe 16: novos lances

Ainda quando escrevo esta nota, dia 11, há caminhões de empresários ruralistas-golpistas

Fonseca Neto

Quinta - 16/09/2021 às 07:47



Foto: Divulgação 7 de Setembro
7 de Setembro

Dias de tensão estes que enredam o Sete de Setembro de 21: as costumeiras marchas de militares e de estudantes agitando o verde-amarelo da dinastia de Bragança, deram lugar a aglomerações de milhares de pessoas pedindo “golpe militar” e o fechamento do STF.

Ainda quando escrevo esta nota, dia 11, há caminhões de empresários ruralistas-golpistas, nas imediações da sede do STF, em Brasília, declaradamente se colocando ao comando golpista para invadir a Casa. Tb. para impor o marco temporal contra povos originais... 

Simbologia? Não deixa de ser. Mas se trata mesmo é da força bruta movendo as disputas pela cabeça do Poder institucional. Comandando a cena, o chefe militar da República. E mais que simbólico, voando rasante sobre seus apoiadores ensandecidos. Brancos, envelhecidos. 

A República se move sob os caprichos de uma facção política que deu um golpe em 2016, tomou a Presidência e agora articula-se para recrudescer a força de seu mando, agindo fora da lei. E o Supremo agora atacado? Apoiou então o golpe, por cálculo político.    

As manifestações golpistas pedindo a militarização ditatorial explícita, dia 7, levaram assim ao desnudamento do projeto bolsorista de aprofundar a ação do golpe 16 que, depondo Dilma Rousseff, impôs ao Brasil uma severa anulação de direitos sociais dos brasileiros.

Os vitoriosos do golpe não perderam tempo e garfaram as bases da legislação reguladora da contratação trabalhista, a CLT e leis conexas e afins. O golpismo quer zerar esses direitos enquanto para eles é tempo, temerosos da rearticulação contrária dos trabalhadores.

Mas a esperteza da convocação para o total Estado de Fato não resultou, exatamente, no que queriam e continuam querendo a chefia militar e a liderança econômica, branca e direitista extremada, apaixonada pela feiura nazifascista. Que mancha de vergonha a Bandeira.

Propala-se que a esculhambação que o chefão deu no Supremo em seus comigolpes não era isso que ele queria fazer. A chefia golpista 2016 teria enquadrado o recalcitrante e o colocou para assinar uma nota dizendo que não queria dizer o que disse. “Não era minha intenção”.

Fracassaram na radicalização golpista? Nada autoriza dizer isso. Tiveram um revés momentâneo? Sim. Por quê? Porque dependerá da coragem histórica de instituições do quilate do próprio STF fazer valer a lei contra criminosos confessos. Há dúvidas? Muitas.

Golpistas dependem para sua vitória o aumento do caos, o estado de guerra civil para invocar o que mais sabem fazer: tacar chibata no lombo do povo trabalhador. O próprio STF, neste momento, atacado, se faz um dique de proteção da ideia democrática. Melhor assim. 

A pandemia afigurou-se ao golpismo miliciano reinante a oportunidade de levar a esse caos. Já matou quase seiscentos mil. Foi relativamente refreado. Mas o rastro de dor, a violência da miséria escancarada na forma de fome, carestia, roubo... É ainda a aposta golpista.

As sondagens eleitorais indicam que o núcleo golpista bolsorista pode não passar de 20 por cento do eleitorado em 2022. Por isso tenta golpear, desde já, a possibilidade de ocorrer o referido pleito. Como a dizer: “Devolver o poder por quê?”  

Desmoralizado o devoto da tortura, pela covardia explicita, correndo de medo da cadeia? Mas poderoso: pau mandado da san-trumpinagem, da escória capitália, capitólia. Quem porá nele as algemas da lei? Que lei? E desde quando ela não é apenas para os outros...

Diga-se, quatro dias depois da tentativa de assalto às arcadas supremas de Niemeyer, que nada disso aconteceu. É vero. E tem isso bastante significação. Deve-se isso ao Brasil esperançoso, lutador contra as tiranias? Não se tenha dúvidas. E não cause acomodações.

Verso potente de Lennon lembra que “só o povo trabalhador sabe como mudar o mundo”. Chico de Holanda também o diz. Mudar com a construção do justo, este butim inebriado na estética da fraternidade radical, mãe da igualdade: este o civilizar que mais importa. 

Poesia? “A arte existe porque a vida não basta”. 

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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