Proa & Prosa

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Bonfim da Conceição do Piauí

No século XVII do tempo colonial, esse espaço e sua gente foram alcançados por agentes oriundos da Bahia à cata de bens vendáveis e de espaços úteis.

Fonseca Neto

Domingo - 05/11/2023 às 22:45



Foto: Divulgação Bonfim do Piauí
Bonfim do Piauí

Conta-se em milênios o tempo que a ciência evidencia ser povoado o espaço geofísico que recentemente se chama de Piauí. Povoamento original historicamente reconfigurado com a presença de exploradores vindos de longe, nos últimos 350 anos.

Afirma Odilon Nunes, historiador cuidadoso e ético, com acuradas balizas de pesquisa, que a primeira atividade econômica desses forâneos foi o aprisionamento de povoadores originais aqui encontrados, com vistas, sobretudo, a venda destes, num mercado interno de escravizados. Desenvolve-se, junto, a economia do gado e da lavra da terra.

São muitas as evidências e abundantes os indícios desse processo de formação histórica, já conhecidos por obra de laboriosos pesquisadores e seus bons textos. E há muito por investigar no campo da pesquisa cientificamente referenciada.

Um grupo da APL, em dias recentes, excursionou pelo vale alto do rio Piauí, quase ao sopé do maciço serrano hoje tomado por limite entre o Piauí e a Bahia. Por essa região muito árida, o que impõe que quase toda sua cobertura arbustiva a víssemos hibernando para não gastar oxigênio fazendo clorofila, o reino vegetal se apresenta num quase não colorido cinza-amarronzado.

Esse aparente ermo perpétuo tem a presença humana há milênios e nela sua fauna típica. E atravessa seu arranjo de natureza em curiosa calidez silenciosa nos albores do beerreobró. O leito sem correnteza do rio Piauí, lá, é uma espécie de cânion raso, com exuberante formação rochosa, em que ressalta imensos pedrões arredondados – aqui, a visão capturada nas proximidades da sede municipal de Bonfim do Piauí, lugar do Sobrado da Conceição, permeado da favela

No século XVII do tempo colonial, esse espaço e sua gente foram alcançados por agentes oriundos da Bahia à cata de bens vendáveis e de espaços úteis. Ao atravessarem a serrania tornam-se senhores não apenas de um rio afluente mas do vale quase inteiro do “rio grande dos tapuias” – depois chamado rio Parnaíba.

Passadas cerca de 14 décadas, em 1819, os pesquisadores europeus Spix e Martius, percorrem esses caminhos antigos e por eles ingressam no sertão do Piauí, rumo a Oeiras, no médio Canindé. Dessa expedição, S. & M. fixam uma descrição bastante detalhada, que bem referencia aspectos locais. Dizem: “A oeste da Travessia Nova, a província do Piauí comunica-se com o sertão do rio São Francisco pela Travessia Velha. Esta estrada começa na povoação Sobrado, à margem do rio, e acompanha o curso do rio Piauí, que ela ora alcança na sua nascente, ora mais abaixo, conforme as suas diversas direções. A Travessia Nova, por onde também seguíamos, é atualmente a mais frequentada; mas nela se faz sentir, como nas outras, a falta de água, durante a estação seca, que ocorre aqui de agosto a dezembro e dizem [...] e o sopro da primavera animava-nos com as mais fagueiras esperanças quanto ao bom sucesso da viagem pelo Piauí para o almejado Maranhão. [...]. Adiante, o terreno era mais seco, alternando-se campinas com altas matas de catinga, cuja folhagem começava justamente a brotar. [...]. O caminho eleva-se quase insensivelmente, e embora aqui chegássemos na proximidade do divisor das águas de dois poderosos rios, o São Francisco e o Parnaíba, não avistamos serra alguma mais extensa e mais alta. [...]. A 1º de maio, depois de várias vezes atravessar o rio Canindé nos seus múltiplos meandros, alcançamos a fazenda Poções de Baixo. Era Conceição a primeira das 33 fazendas do Piauí, ....”.

Estiveram os europeus em Oeiras e saíram do Piauí pela Passagem de Santo Antonio, no Parnaíba, em direção de Caxias.

Em Bonfim do Piauí a caravana acadêmica, em companhia do prefeito Paulo Henrique, historiador, professores e outras autoridades municipais, avança a ruralidade e visita o lugar da secular fazenda Conceição, uma espécie de reino mais imaginário que real e que a Prefeitura projeta qualificar como área de preservação e finalidade histórico-cultural. Iniciativas que a APL aplaude e apoia. 

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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