Em São Luís, dias passados, jantando com professoras e colegas de aula do meu tempo de Colinas, Maranhão, além da satisfação do rever, de regra, ali, o prazer das histórias de ontem que impactam nossas vidas até hoje.
Em mais de uma dessas colunas que escrevemos, há anos, fiz registro memorial da famosa escola dessa cidade do interior maranhense, em que muita gente estudou na década de 1960. Escola formalmente chamada de Cinec – Centro Integrado de Educação de Colinas. Rende prodígios até hoje, não a instituição, mas o exemplo e o rumo da vida de muitas pessoas: a diáspora cinecista concedeu ao Brasil um expressivo punhado de filhos valorosos. O Cinec é o experimento e realização antecipada do que muitos chamam agora de “escola de tempo integral”.
Entre as figuras luminares dessa escola, está a notável educadora Estela Rosa e Silva, designada então para dirigir a Casa do Estudante, um anexo da organização escolar integrada e que abrigava estudantes de cidades vizinhas, sem outro meio de morar em Colinas.
Este que agora escreve, um desses moradores, oriundo da cidade vizinha de Passagem Franca.
O jantar do último 24 de novembro foi oferecido por Estela, em sua casa, na Ilha do Maranhão.
Noite inesquecível porque um reencontro de inesquecidos de suas vidas e juventude, da experiência de viver e estudar juntos sob a direção da Estela. E a beleza começa e não termina aí: uma Estrela, moça, a nos guiar. Melhor dizendo: orientar. Como se diz: a segunda mãe de cada um de nós de outros lugares e nossa primeira mãe em Colinas.
Morávamos quase 50 jovens na Casa do Estudante, entre 1967 e 1969, meninos e meninas, a maioria adolescentes – lógico. O café, o almoço e o jantar – bandejão – eram reunião cheia de graça, num casarão antigo, com janelões de uma das mais saudosas esquinas da velha Picos do Maranhão.
Vieram ao jantar com Estela, sua irmã Nonata, também nossa querida professora em Colinas. Mais uns pouco mais de dez amigos daquele tempo. E esse encontro não foi para outra coisa senão puxar lembranças saudáveis e reverentes do tempo da nossa Colinas cinecista. E, claro, dizer um pouco de nós hoje em dia, mais de meio século depois.
Estela e Nonata, já aposentadas do magistério escolar, levam a vida, plenas de outras experiências do viver social-comunitário-familiar, muito antenadas com os acontecimentos do presente. Daí dizermos que incorrem noutras práticas magisteriais, pois integram e atuam intensamente nos afazeres da vida paroquial de seus bairros em São Luís, sem deixarem para trás os envolvimentos colinenses. Sobretudo se dedicam aos amigos. O amor fraterno para elas é o norte a seguir de um mundo cheio de graça.
Acrescentemos que nessa noite especial, além de muita conversa e abraços, ouvimos música, familiares ao violão, um teclado etc. Afinal, estávamos na casa de uma professora de canto e de outras artes.
Há muito se diz que recordar é viver, de novo. Também dizem que “a memória é seletiva”, poupa-nos de sentir/ressentir dores e esgrime e realça as contingências das horas, dias e anos felizes. Bom que assim seja.
Encontrar Estela e Nonata é aspiração de ter contato com duas artesãs do afeto, mudaramente lindas, corações ávidos de compartilhamentos. É reencontrar e imergir no universo cineciano e da própria Colinas dos 1960. É chance de limar as pedras do tempo para a firmeza do chão a trilhar na consecução das eras que não param de chegar.