Proa & Prosa

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Albertagem, Alberto, Albertão

A percepção sobre Alberto filia-se nessa segunda ordem de coisas

Fonseca Neto

Sábado - 16/09/2023 às 10:52



Foto: Divulgação Estádio Albertão
Estádio Albertão

Cinquenta anos da inauguração do Albertão, há pouco lembrados com repercussão midiática e agitações memoriais de gente ligada ao futebol. E por melhor que tenha sido o esforço jornalístico dessa lembrança, nada foi capaz de dá conta do tamanho do impacto desse fato polêmico.

Aliás, pouco se disse do quanto de incompreensões, e dúvidas compreensíveis, a decisão de levantar o Estádio, naquele início da década de 1970. Apesar da sombra tirânica da ditadura militar a cercear as liberdades de manifestação, os que viveram a época – com mínima atenção – lembram do debate havido no seio popular.

Alberto Tavares Silva governava o Piauí, designado pela ditadura, em meio a relativo espanto do esquema oligárquico-histórico radicado na vida política do Piauí. Espanto não porque houvesse arranho entre o referido esquema local e o projeto repressor do regime: ao contrário. A oligarquia fechava quase cem por cento com ele.

Mas é fato que Alberto, um conservador que se dizia “técnico” e não “político”, ganhava simpatias com ideias de “desenvolvimento” deslocadas da mentalidade do soberbo atraso piauiense, expresso numa inação social, secular, em relação ao progresso humano.  Assim, Alberto parece sinaliza o novo.

Se a monstruosidade dos porões da repressão inscreve a ditadura no lixo civilizatório, o contrário se dá na percepção de gigantes tratores, grandes hidrelétricas, novas universidades e vias rodoviárias expressas – e até estádios –, que evocam os mais acatados popularmente Juscelino e Getúlio.

A percepção sobre Alberto filia-se nessa segunda ordem de coisas: um benfeitor  bondoso para muitos; um visionário. Rompera o quanto pode com certos costumes da mera politicagem e a contraprova disso foi a desafeição que logrou das mais conhecidas figuras do oligarquismo local. E o feroz ataque a ele veio de dentro desse esquema.

A ideia e a decisão de fazer o Albertão veio como que de supetão: obra fisicamente monumental, caríssima, sem estudo algum de sustentabilidade. E tendo já Teresina um estádio razoavelmente adequado para as exigências do tempo, o Lindolfo: “bastaria” requalificá-lo.

Obra inaugurada às pressas, inacabada. Um blefe de acidente gerou um acidente real e marcou para sempre a obra, nunca inteiramente concluída consoante o planejado.

[Eu, do lado ensombrado da arquibancada, assisti a tudo, entre surpreso e já sabendo do menor gravame ante o estardalhaço que muitos fizeram, instilando o surrado “eu não disse que não ia dá certo”, adversários como que comemorando].

O governador Alberto fez um governo sob vários aspectos modernizador e o Estádio, hoje mais que ontem se sabe, não é a mais relevante de seu tempo. A mais importante é a Ufpi; para esta levantou os meios para viabilizá-la.

Desde sua construção com fartos repasses “a fundo perdido” e pelas mãos de um piauiense chefiando o destino das verbas federais, independente de planejamento, o Piauí jamais teve condições de manter a obra devidamente aberta e disponível. Tão grave a situação que nem a propalada parceria público-privada para viabilizar seu funcionamento se consegue acertar. Elefante oneroso.

Mera especulação, mas válida: com os milhões gastos com a imensa obra do Albertão se teria feito, por exemplo, uma revolução virtuosa no campo da educação básica no Piauí, algo que calharia bem no momento da implantação da Ufpi, como já referido.

A exemplo do Albertão inviável, grandes obras feitas no Piauí pelo governo federal e com o ônus da manutenção à conta do Estado,  ontem e hoje, não se conservam além da circunstância de sua criação. O HUT é outro exemplo. Sem o SUS ele fecha no dia seguinte. 

Não percebi na albertagem e memórias reportadas nada sobre a comentada brincadeira do jatinho do rei Havelange sobre o Albertão repleto de gente e fossos vazios. 

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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