Proa & Prosa

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A hecatombe no ensino

Uma escola fechada é determinante de muitos malefícios no movimento da vida social.

Fonseca Neto

Terça - 22/09/2020 às 15:48



Foto: Divulgação Educação
Educação

Tirante a eliminação implacável de idosos e comórbidos, a vaga mortal covidênica vai deixando sua desgraça mais cruel na área do ensino escolar brasílico, em particular o ensino público estatal. O ensino-empresa-comercializado dá seu jeito; safa-se.

A interrupção da atividade escolar por causa do corona em quase todo o mundo é fato e há preocupação em como contornar as dificuldades. Mas tudo vai indicando que no Brasil essa questão não está no centro do debate, e da busca de soluções, com chances de ser levada a sério. A prioridade por aqui, medianamente, de agentes públicos e do povo-eleitor é quem vai ser premiado com um mandato nas próximas eleições.

Uma escola fechada é determinante de muitos malefícios no movimento da vida social. No Brasil das apartações gritantes, escola pública aberta é refrigério de pobreza, forma de o poder estatal – ainda que não queira – ajudar a sustentar milhões de brasileirinhos, ser sinal de algum futuro esperançoso. E até de brasileirões, pois nas universidades estatais, não fosse o que se chama de Assistência Estudantil, milhares não teriam meios de permanecer estudando.

A pergunta que uns poucos fazem e que aqui repetimos: neste exato momento da realidade pandêmica, com outras formas do cotidiano social voltando ao funcionamento de costume, ou quase, de que jeito as escolas públicas serão reabertas, voltarão a ser o mundo da infância e da juventude?

Não há quem responda claramente sobre o que acontecerá. Repita-se: praticamente todos estão ocupados é com eleições. E somente isso já é motivo conhecido para se adiar tudo. Eleições qual um fim em si mesmo. Ora, além de tudo, é fácil a omissão geral com a desculpa – entre duvidosa e cômoda: só quando existir a vacina.

Ora, se o sistema de autoridade administrativa não se sente compelido por um sentido de urgência no quesito ensino, muito menos assim se sentirão professores e outros funcionários de escola em todos os níveis, candidatos às afetações danosas do vírus. Resistirão a voltar, com razão, caso não existam as medidas adequadas anticontágio. Ou resistindo por falta de compromisso histórico quanto ao labor na esfera pública, outro flagelo difícil de superar.

No Piauí, salvo raras e localizadas exceções, há uma corrosão que parece afetar estruturalmente o sistema escolar estadual e os sistemas conexos municipais, infensos a apelos de mudança na direção da qualificação de resultados. Nesse caso, a crise pandêmica apenas significa aquele fator que faltava para agravar e até interromper tudo.

Obviamente, ao referir-nos a esse quadro sombrio, dizemos não acreditar nessa distribuição cômoda de aparelhos celulares-tabletos, a fartar as mãos e olhos da criançada, para “receber” aulas em “casa”. Que casa? Milhões não têm direito a ela. E esse é o começo da conversa. É falta gritante.

Ah se fosse só uma metáfora de certo fracasso social essa maquininha luminosa nas mãos de milhões de brasileiros a quem é imposta a sonegação não somente da casa, mas de tudo o mais... Comida, paz, as luzes e delícias da ciência e da liberdade.

Como projeto impulsionado pela ditadura dos ganhos máximos, da subtração a todo custo e com custo mínimo, a exemplo da escravidão, o Brasil não existe para si e seus filhos, conserva-se um manso senhorial das pilhagens de colonizadores cruéis. Colonizadores para quem a terra, águas e matas, são mera mercadoria e não a expressão eco-nômica de realização da vida humana e da vida em todas as formas.

Observações que trazemos para fechar esta nota no Piauí Hoje e acentuar a gravidade do ataque da Covid e a paralisação de escolas. Há quem se console com essa educação-celular como espécie de ganho que a Covid, enfim, terá deixado. Engano: as fakes news são o doce com que a tirania vigente administra sua maldade e conservação no mando.     

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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