Olhe Direito!

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O verde de verdade

Álvaro Mota

Quinta - 11/07/2024 às 16:58



Foto: Reprodução Ipê
Ipê

Há pelo menos duas décadas o empresário Silvio Leite é um entusiasta do cultivo de árvores nativas na arborização de Teresina. Ontem, uma iniciativa dele ganhou corpo com uma reunião de personalidades, dirigentes de organizações sociais e do governo, líderes de opinião dispostos a abraçar um projeto com o fito de plantar mudas de árvores nativas nas BRs-343 e 316, em áreas residenciais da cidade e em condomínios – onde se quer trocar as chamadas plantas exóticas – que não fazem parte da flora brasileira – por árvores nativas.

É muito reconfortante que haja uma iniciativa de tal monta, seja porque favorece uma visão mais sustentável e preservacionista da cidade, seja porque a ocasião (ano eleitoral) favorece a que os atores políticos envolvidos no processo de escolha dos novos dirigentes e legisladores atentem para a necessidade de se firmar uma política pública focada em questões como os impactos das mudanças climática no bem-estar das pessoas na cidade.

A iniciativa liderada por Sílvio Leite pode e deve ser entendida não como movimento pessoal – embora se deva aplaudir quem tomou a frente deste propósito. O que se pode depreender de uma ideia assim é que já passa da hora de ampliar as áreas verdes disponíveis em toda a mancha urbana da cidade de Teresina; que o poder público precisa colocar em marcha o plano diretor de arborização da cidade; que o cultivo das essenciais vegetais nativas deve ser uma prioridade porque favorece a preservação do ecossistema e do bioma em que o território da cidade se insere.

O caso da preservação e expansão das áreas verdes exige que o poder público assuma desde logo compromissos que são inegociáveis, como o de garantir que áreas verdes possam ser preservadas, refeitas ou mesmo adquiridas pela municipalidade – já que o interesse público no caso do bem-estar climático é uma demanda que já se apresenta como essencial. Cabe lembrar, aliás, que em diversos pontos da cidade a ausência de áreas verdes poderá requerer, em futuro incerto, mas não distante, medidas mais drásticas como desapropriação de imóveis não edificados e realocação de habitações em áreas de risco para que se formem nelas parques ambientais; severidade contra qualquer ação que ponha em risco as áreas de preservação permanente em todo o município.

Contudo, mais imediatamente, as iniciativas que congregam a sociedade podem e devem ser absorvidas como um mecanismo essencial para a cidade. O alerta que se tem da reunião de ontem é que o plantio de árvores nativas e de frutíferas há muito ambientadas entre nós, é uma boa solução para a cidade. Sobre isso, é sempre devo mencionar o trabalho pouco lembrado do paisagista piauiense José Machado, que há quase 40 anos fundou uma empresa de paisagismo e sempre foi um entusiasta do uso das árvores da flora brasileira na arborização da cidade.

Machado, a exemplo de Sílvio Leite e de outros tantos que agora abraçam a ideia, defendia que a cidade de Teresina tivesse em sua arborização – em áreas públicas e privadas – árvores como o sapotizeiro, o oitizeiro, a oiticica, o abricó-de-macaco, os ipês em suas diversas cores, o angelim, a sapucaia, os angicos brancos e pretos, o gonçalo-alves, o jucá e a árvore-símbolo da cidade, o caneleiro.

Em vez disso, a cidade de tempos em tempos é tomada por uma espécie de moda de árvores, como ocorre agora com o indiano “nem”, que foi precedido pelo fícus e pelas acácias, bem antes, quando eu era criança, pelas figueiras, que se mostraram ruins porque tinham um inseto incômodo apelidado da “lacerdinha”. Se, em vez de seguir modas para o uso de espécies exóticas na arborização da cidade, cuidássemos de plantas mudas nativas e frutíferas, ainda poderíamos ter, em sabe, uma expansão de uma iniciativa ainda pouco conhecida, que é a criação das abelhas nativas (sem ferrão), conhecida como meliponicultura.

Temos, assim, que louvar a iniciativa de fazer da cidade verde mais verde de verdade, com o plantio de árvores nativas e frutíferas – o que em futuro breve pode resultar em mais qualidade de vida para todos os que aqui moram.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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