Olhe Direito!

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Inteligência artificial e vida inteligente

Vamos imaginar todas as variáveis de uma sentença judicial, com informações em gigabytes

Alvaro Mota

Quinta - 04/05/2023 às 18:34



Foto: Divulgação Inteligência Artificial
Inteligência Artificial

O debate sobre inteligência artificial, com seus usos e riscos, mudanças profundas na economia e no mundo do trabalho, está apenas em seu começo. Muito ainda teremos que debater e muito há que ser feito, por exemplo, no espaço do Direito a respeito dessas novas realidades. Há debates que vão desde o uso dessa tecnologia na produção de uma peça até sua utilidade como instrumento orientativo para uma melhor decisão do magistrado, por exemplo.

Mas diante de um debate como esse, o primeiro ponto a ser deixado claro como o dia é a existência de uma diferença larga entre inteligência artificial e vida inteligente. Não são a mesma coisa, nunca, e há que se esperar que nunca o sejam. Inteligência artificial decorre da evolução da vida inteligente – que para além de um sentido cartesiano do pensar precisa sempre ser melhor expressa pela força da imaginação.

Vamos imaginar todas as variáveis de uma sentença judicial, com informações em gigabytes, capazes de traçar uma decisão favorável sem sombra de dúvida a uma das partes. Bem, tecnicamente uma dessas novas tecnologias de A.I. poderá fazer uso das informações, cruzar leis e tornar por exemplo um sem-número de ações similares, adotando ao fim e ao cabo a decisão mais adequada. Bem, isso é razão e técnica. Mas, mas neste caso em que fica bom senso e percepção fina de um detalhe visualizado no último instante? Sim, porque as pessoas podem também considerar essa viável.

Neste caso vamos voltar à questão já posta: a inteligência artificial não é inteligência humana, não é vida inteligente. Supondo que, em um universo de dados lançados para uma decisão sobre a guarda de uma criança, o equilíbrio das partes em disputa seja tão grande que a AI proponha cortar em duas a criança, dando a cada mãe pedaço dela, estaria a inteligência artificial satisfeita? É possível que sim. Neste caso, a inteligência artificial teria julgado com técnica e equilíbrio, mas produzido um cadáver dividido por duas mulheres. E sabemos que na narrativa bíblica de Salomão não foi isso que se deu porque há bom senso e sabedoria expressos pela vida inteligente se fizeram presentes neste caso.

É claro que esse exemplo é um extremismo de minha parte, que faço para evidenciar uma convicção de que sempre será a razão humana – logo nosso pensamento eivado de variáveis – o guia para decisões em todas as áreas de nosso conhecimento. Por mais que avance uma tecnologia de Inteligência Artificial, por mais que esses processos possam ser eficientes o bastante até para substituir a ação humana em muitos trabalhos, nossa humanidade estará sempre produzindo perspectivas de avanço porque, reafirme-se o enorme abismo a separar inteligência artificial de vida inteligente.

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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