Olhe Direito!

A cidade é o povo!


Ponte Estaiada

Ponte Estaiada Foto: Rômulo Piauilino

O título deste texto é, na verdade, uma apropriação do slogan que Wall Ferraz (1932-1995) usou em seu segundo mandato como prefeito de Teresina, entre 1986 e 1989. Ele que já tinha sido prefeito da cidade, de 1975 a 1979, e morreria no cargo, eleito que foi em 1992, empossado no ano seguinte e morto em março de 1995. Toma-se o slogan de um político com importância histórica muito grande para a cidade, no mês de seu aniversário, para a reafirmação de que a cidade é feita por gente.

Vamos imaginar a cidade em seu começo, em agosto de 1952. Era muito mais uma ideia que um projeto posto em prática, porque havia pouca gente. Éramos não um povoado, mas um lugar despovoado. A expansão da cidade como um lugar de morada vai se dar mais para o final do século XIX, quando, segundo muitos registros de historiadores, além do aumento vegetativo da população, Teresina recebeu levas de migrantes tangidos para cá pela seca de 1877 no Ceará.

Então, a história nos mostra que, desde o século passado, quando Teresina era não mais que o tabuleiro de xadrez de seu desenho inicial, eram mais as pessoas que a fazia. A cidade resultava do povo – e dentro do contingente total da população, aqueles que se destacavam por suas iniciativas ousadas ou inéditas, como Frei Serafim de Catânia, que dá nome à principal avenida de nossa cidade, que liderou a iniciativa de dar à capital do Piauí um de seus mais lindos monumentos arquitetônicos, a Igreja de São Benedito. Não haveria a igreja sem a ousadia do clérigo católico, igualmente como a ideia feita pedra e monumento nada seria sem povo para fazê-la sólida.

Assim, ao longo de 169 anos de sua existência, a cidade fez-se melhor, maior, mais desenvolvida em razão de seu povo. Tem a decisiva participação das pessoas toda e qualquer obra, grande ou pequena, pública ou particular realizada na cidade de Teresina ao longo de quase 17 décadas de existência. Mas para além da contribuição física no fazer da cidade, temos a fundamental importância das pessoas em uma construção ainda mais rígida: a cidade enquanto um espaço social e de cultura.

Nossos modos de falar, de gesticular, de abordar uma pessoa a quem se tem afeto ou ainda o que nós apreciamos comer ou beber, o nosso modo de encarar nosso clima nem sempre amistoso ou a maneira de encarar dificuldades e vicissitudes são construções firmes, feitas pelo nosso povo ao longo de nossa história. Isso indica que a cidade física é obra do povo, a cidade imaterial também o é.

Somos resultados de nós mesmo como povo teresinense e isso guarda em si uma outra coisa essencial: as mudanças possíveis nas construções imateriais pelo passar do tempo, pela evolução dos modos e usos do povo, pelos surgimentos de demandas outras formadas pelo tempo, que a tudo a transforma.

Pessoalmente, posso dar o testemunho dessa percepção da cidade como resultado de seu povo. Nasci, cresci em Teresina. Vi a cidade se alterar e ser alterada pela ação das pessoas, sobretudo das mais comuns. Gente que fez a cidade ao construir elas mesmas as suas vidas em Teresina – e ao evoluir pessoalmente, levaram a cidade adiante, dando uma contribuição pessoal, mas nunca desimportante, para que a cidade seja cada vez mais o povo.

Álvaro Fernando da Rocha Mota é advogado. Procurador do Estado. Ex-Presidente da OAB-PI. Mestre em Direito pela UFPE. Presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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