O futuro capturado


Para evitar disputa legítima, deputados anteciparam eleição e

Para evitar disputa legítima, deputados anteciparam eleição e Foto: Arquivo do Piauí Hoje

Somente aos adivinhos, ciganos e pitonisas é dado ao direito de prevê o futuro no campo do imaginário popular. Contudo, quando se trata da real política, toda antecipação de futuro não se concretiza conforme o seu enunciado.

Pois não é que a Assembleia Legislativa do Estado do Piauí está antecipando um futuro cujo evento só ocorrerá daqui há dois anos.? Este são relatos de um acordo político que envolve os Poderes Legislativo e Executivo que culminou com a eleição do atual Presidente da Casa, mas que já estaria consignado o nome do candidato a presidente numa eleição que ocorrerá em 2005 

Qual seria a fonte de tamanha ousadia de querer controlar o tempo e as adversidades próprias da política e antecipar o futuro.?  É como se uma certeza matemática e cartesiana tivesse o condão de controlar o movimento histórico e de neutralizar os eventos inesperados próprios da dinâmica política, em especial à complexa e competitiva arena onde ocorrem as disputas políticas nos seus variados espaços.

Aos iluminados noviços que bordejam na cena política fica a máxima do mineiro Magalhães Pinto: “A política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”, ou seja, muita água ainda vai rolar por debaixo da ponte e o ato planejado como muita antecedência poderá se esvair e escapar por entre os dedos em estado líquido.

Vale também a lição de Walter Benjamim na tese 14, em seu livro Sobre o conceito de história (Boitempo, São Paulo, 2005) ao afirmar que “a história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de “agoras”.  E continua na sua fala acrescentando que “...esses agoras têm o potencial de explodir o continuo da história.”  Dessa forma é inadmissível que a história seja este espaço homogêneo e vazio, que seguiria sua trajetória inalterada, isenta de turbulências e de perturbações no roteiro que fora projetado. 

Essa estratégia, adredemente traçada, carrega em si forte dose de autoconfiança, para não dizer autoritarismo, de quem a formulou pois o gesto corrói a autonomia e a independência do Poder Legislativo.  Ficam anuladas, intrinsecamente, as prerrogativas de parlamentares que desejam concorrer legitimamente ao cargo na conjuntura que se apresentar daqui há dois anos. E, pelo que se sabe, algumas reações já se apresentam na arena política com potencial de explodir o futuro pretendido. Mas como “o tempo é senhor da razão’ frase atribuída a Marcel Proust em “Em busca do tempo perdido -(1913).

Foto do Museu do Índio mostra trajes de festa do GueguêsAmeaça de suspensão

Enquanto o presidente Lula quer cuidar dos povos originários, em especial após o genocídio dos povos Yanomamis em Roraima, no Piauí uma ação afirmativa de resgate da língua mãe dos indígenas do Estado está ameaçada de suspensão. Trata-se a proposta de suspensão da Comissão Especial para implantação da primeira Escola Bilingue (tupy e português) que está na agenda da SEDUC, de acordo com a cacique Deusa, dos Guegês de Uruçuí-PI.   Sabe-se que a referida omissão já avançou bastante nesse propósito.

Diante dessa possibilidade a Superintendência de Igualdade Racial e Povos Originários solicitou uma reunião com o Secretaria de Educação do Piauí para tratar da ação, que além do reconhecimento da existência de índios no território piauiense é a afirmação identitária e da sua ancestralidade como povo, que está em jogo. Uma decisão como esta penaliza um povo que já foi vítima de genocídio no século XVIII. 

Não é razoável que, em pleno Século XXI, um Estado governado pelo PT, que tem em seu programa o compromisso com os mais vulneráveis e em especial os povos originários, continue a reafirmar a narrativa que no Piauí não existem índios. Só um dado para reflexão dos gestores:  saltamos de 2.296 (Censo 2010) para mais de 7.000 indivíduos autodeclarados (Censo de 2022). Por outro lado, a pressão por respeito aos indígenas virá fortemente de Brasília através do Ministério dos Povos Originários.

Lula da posse à ministra Sônia Guajajara

Lula e as entregas ministeriais

O presidente Lula, ao nomear nomear ministros e ministros, foi enfático em afirmar quem não irá tolerar erros de qualquer natureza no seu governo. Disse também aos seus auxiliares que façam as entregas previstas nas suas pastas o mais rápido possível para melhorar a vida dos brasileiros, em especial os mais vulneráveis nas áreas da saúde, educação, habitação, trabalho e emprego, combate à fome e a defesa do meio ambiente.

Entregas atrasadas

Mas já tem setores em débito com o presidente pois ainda não nomearam sequer todos seus auxiliares. Ao continuar assim tem gente que pode nem esquentar a cadeira no governo que quer agilidade para reconstruir o pais e reerguer as instituições.

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Roberto John

Roberto John

Roberto John Gonçalves da Silva é jornalista, assistente social, mestre em Ciência Sociais (PUC/SP) e doutor em Ciências Políticas (USP/SP) e professor da UFPI aposentado. Foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do Piauí, membro fundador da CUT e do PT, partido pelo qual foi deputado federal.
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