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Três mortes em Floriano provam que a cloroquina não faz milagres para vítimas da Covid-19


O Hospital Tibério Nunes: polêmica por oportunismo

O Hospital Tibério Nunes: polêmica por oportunismo Foto: Sesapi

As três mortes de vítimas da Covid-19 registradas num único dia no Hospital Tibério Nunes, em Floriano, comprovam que ainda não há remédio que faz milagres e que salva a vida de pacientes infectados com coronavírus, principalmente em estado avançado da doença.

Ao todo, seis pessoas morreram ontem (13) naquele hospital. Três estavam, comprovadamente, com a doença causada pelo novo coronavírus. As causas das mortes das outras três não foram divulgadas.

Os mortos ontem (13) por Covid-19 no Tibério Nunes são três homens. Eles eram dos municípios de Socorro do Piauí (66 anos), Manoel Emídio (57 anos) e Júlio Borges (76 anos), cidade que tem o segundo óbito por causa da enfermidade.

Os pacientes já sofriam com outras doenças graves. Segundo o boletim da Secretaria Estadual de Saúde - Sesapi, eles tinham cardiopatia, diabetes e hipertensão, respectivamente.

O Hospital Tibério Nunes tem atualmente 11 pacientes internados. Desse total, sete já estão com diagnósticos confirmados de infecção pelo coronavírus. Os outros estão aguardando resultados dos exames.

O hospital conta com 200 leitos, destes, 15 leitos clínicos e 10 de UTI são destinados unicamente para pacientes de UT. Mais 50 leitos clínicos devem ser abertos ainda nesta semana num anexo do hospital, segundo informou o diretor técnico do HRTN, médico Justino Moreira.

Em Floriano, o Tibério Nunes é único o hospital referência para Covid-19. Mas uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade está em plantão de 12 horas (das 7 da manhã às 19 horas) para receber pacientes com suspeitas da enfermidade.

Tratamento e estudos

Estudos científicos até agora realizados pelos maiores especialistas do mundo na área de saúde destroem os argumentos dos defensores dos "milagres" da cloroquina para a cura de pacientes em estado avançado da Covid-19.

As pesquisas provam que o uso da hidroxicloroquina em pacientes na fase grave da doença não surte nenhum efeito. A substância só tem algum resultado positivo fase inicial da doença, até nos  primeiros cinco dias dos sintomas.

Ontem (13), o médico Justino Moreira, diretor técnico do Hospital Regional Tibério Nunes, disse ao portal Piauí Hoje.Com (www.piauihoje.com) que todos seus colegas estão seguindo o protocolo oficial da Secretaria Estadual de Saúde para o tratamento das vítimas do novo coronavírus.

Justino esclareceu que os pacientes que morreram na quarta-feira não receberam a medicação - nem cloroquina, nem corticoterapia, porque já eram doentes graves. Um tinha câncer de pulmão e os outros estavam com problemas cardíacos e diabetes e não poderiam receber os remédios.

Ele explicou que a cloroquina está sendo usada da mesma forma que nos demais hospitais de referência para Covid-19. O protocolo é o mesmo. Na atenção básica, o remédio é usado para tratar pacientes em estado inicial, por até cinco dias após os primeiros sintomas.

Já a partir dos sete dias, no início da segunda fase da doença, os pacientes internados estão sendo submetidos a corticoterapia, ou seja, recebem medicamentos injetáveis base de cortisol (corticóides) para evitar o agravamento do quadro clínico e a consequente internação na UTI.

Ele disse que o Hospital Tibério Nunes é pioneiro nesse tratamento porque recebeu orientação da médica piauiense Marina Bucar Barjud, que mora na Espanha e testou essa terapia, que apresentou bons resultados aos primeiros pacientes submetidos e ela no hospital piauiense. Pelo menos cinco teriam sido curados sem precisar do uso de UTI.

Os corticóides são hormônios que possuem ação anti-inflamatória, muito utilizados no tratamento como asma e outras alergias e outras doenças como artrite reumatóide e lúpus.

Como está sendo feito

O médico Justino Moreira (foto) explica que a primeira semana da doença é o período em que o vírus está circulando no corpo, podendo apresentar sintomas como febre, dor de cabeça, náuseas, vômitos, a falta de gosto e de cheiro.

"A partir desse momento, a gente tem introduzido aqui em Floriano medicações como a cloroquina de forma precoce. Não temos dados para saber se tem uma evidência boa, mas é o que a gente vem usando no momento".

Ele se diz seguro e satisfeito e com o tratamento na segunda semana da doença. Pacientes que estão com alterações na anatomia pulmonar são submetidos à aplicação de antiflamatório potente (corticóide) na veia que regride a lesão, diminui a inflamação,  e o paciente tem dito respostas imediatas.

"Em torno de 24 horas depois os pacientes melhoram bastante. Esse tratamento dura de três a cinco dias. Os pacientes, então, são liberados, sem nenhum sintoma,para continuação do tratamento em casa, com todos os cuidados", disse Doutor Justino.

Há contestações em relação ao tratamento com hidroxicloroquina e também os corticóides. Os infectologista dizem que a Covid-19 é uma doença nova, mas que causa é uma síndrome velha do conhecimento médico, que é a Sepse.

"Os corticóides já foram testados, estudos mostraram que eles aumentam a mortalidade. As pesquisas precisam continuar. O que sabemos até agora é que os corticóides não são uma boa opção no contexto da Sepse", diz o infectologista Kelson Veras.

Oportunismo desmoralizado

Os óbitos registrados no Hospital Tibério Nunes, em Floriano, ontem (13.05), desmoralizam os ferrenhos defensores da hidroxicloroquina como um remédio "milagroso" no combate ao novo coronavírus.

Também mostram que não há nada de excepcional no tratamento adotado naquele hospital. Os médicos de lá seguem o mesmo protocolo oficial da Secretaria de Saúde do Estado e as mesmas normas do Ministério da Saúde.

Ocorre é que o uso ou não dá cloroquina não é mais só questão de decisão médica. O remédio virou um alvo de alpinistas sociais, que o transformaram em questão política. De um lado os negacionistas, que enfrentam as orientações da Organização Mundial de Saúde e a ciência. Do outro, os cientifivistas, que acreditam nos resultados dos estudos e na ciência.

Invariavelmente, são os chamados bolsonaristas que, mesmo sem conhecimento científico, passaram a defender o uso da cloroquina só para firmar a posição política do presidente Jair Bolsonaro, que para seguir seu líder, Donald Tramp, passou a dizer que o remédio cura pacientes acometidos pelo novo coronavírus.

Como se sabe, Bolsonaro e milhões e milhões de brasileiros nunca nem tinham ouvido falar nesse remédio. Para o presidente, até a pronúncia do nome do medicamento era novidade.

Mas, de repente, os seguidores do presidente nas redes sociais e na mídia passaram a ser profundos conhecedores da eficácia do remédio e começaram a espalhar o nome do salvatério.

E foi assim, com esse viés político, que o hospital de Floriano foi colocado comum dos que teria conseguido o "milagre" não alcançado por cientistas de outros lugares do mundo de zerar o número de pacientes com Covid-19 da UTI.

Todos os médicos garantem que não há protocolo que assegure a liberação do uso da cloroquina para pacientes graves da Covid-19. Nem na Espanha, onde a médica piauiense Marina Bucar Barjud mora e de onde orientou os médicos do hospital de Floriano no tratamento com uso de corticóides em pacientes ainda na fase leve da doença.

A Espanha é o segundo país do mundo com mais casos da enfermidade. Fica atrás apenas do Estados Unidos no número de casos e mortes pela Covid-19. Até ontem (12) os EUA tinham 508.575 casos confirmados, seguidos pela Espanha (161.852).

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Luiz Brandão

Luiz Brandão

Luiz Brandão é jornalista formado pela Universidade Federal do Piauí. Está na profissão há 40 anos. Já trabalhou em rádios, TVs e jornais. Foi repórter das rádios Difusora, Poty e das TVs Timon, Antares e Meio Norte. Também foi repórter dos jornais O Dia, Jornal da Manhã, O Estado, Diário do Povo e Correio do Piauí. Foi editor chefe dos jornais Correio do Piauí, O Estado e Diário do Povo. Também foi colunista do Jornal Meio Norte. Atualmente é diretor de jornalismo e colunista do portal www.piauihoje.com.
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