O Partido dos Trabalhadores (PT), partido que há três décadas orbita em torno da figura de Luiz Inácio Lula da Silva, já começa a desenhar, em vozes baixas e altas, o mapa do futuro pós-Lula. E um nome ganha contornos nítidos nesse cenário projetado para 2030: o do governador do Piauí, Rafael Fonteles.
A afirmação mais explícita sobre isso veio de um peso-pesado da história petista, o ex-ministro José Dirceu. Em entrevista ao Estadão, no domingo (30), Dirceu foi direto: “Fernando Haddad é um nome; o Rafael Fonteles, governador do Piauí, está se projetando nacionalmente”.
A declaração não é um voo solitário. Ela captura um sentimento que já circula em diversos setores do partido e em análises políticas. Dirceu, retomando protagonismo nos bastidores, não apenas listou Fonteles, mas construiu um argumento sobre a vitalidade petista. Ele lembrou o período de forte rejeição entre 2013 e 2019, que considera superado, e contrastou:
“Quem não tem nomes é a direita. No nosso caso, estamos falando de 2030”. Ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do prefeito do Recife, João Campos, Fonteles é apontado como parte de uma nova geração com “visibilidade nacional” e capacidade de preencher o que chama de “vazio político” da oposição.
A projeção de Fonteles não se baseia apenas em especulação. Seu mandato à frente do Piauí, ainda em curso, e, sobretudo, sua atuação como presidente do Consórcio Nordeste, lhe conferem uma plataforma regional robusta e um palco político de alcance nacional.
O Consórcio, uma das principais ferramentas de articulação e captação de recursos para os nove estados, coloca Fonteles em contato direto com o governo federal e em evidência na discussão sobre o desenvolvimento da região mais carente do país. Essa posição estratégica faz com que analistas o vejam como um lider capaz de dialogar tanto com as bases tradicionais do PT quanto com setores mais amplos.
A reação do próprio governador à cotação foi típica de quem navega as águas da política com cautela. Em declarações a jornalistas nesta segunda-feira (1º), Fonteles afirmou ter ficado “muito lisonjeado” e “feliz” com a menção, mas foi rápido em redirecionar o foco: “Olha, o nosso foco é o Piauí. Claro que eu fico muito lisonjeado, mas o nosso foco total é o Piauí e também concluir esse meu mandato como presidente do consórcio nordeste”. É a postura clássica do político que não quer queimar etapas, mantendo a discrição no presente enquanto o futuro é desenhado por outras vozes influentes.
O que a movimentação em torno de Rafael Fonteles revela, portanto, vai além do surgimento de um nome. Ela indica um partido que, mesmo com Lula ainda no centro do palco e candidato a reeleição em 2026, é obrigado a olhar para frente. O PT, historicamente associado à sua principal liderança, ensaia os primeiros passos de um processo complexo de renovação de seu topo. Enquanto a direita, na avaliação de Dirceu, ainda patina para encontrar uma alternativa pós-Bolsonaro com a mesma força, o petismo parece começar a semear suas opções.
A sucessão de Lula é o maior desafio estratégico do PT neste século. E se hoje as peças estão apenas sendo colocadas no tabuleiro para 2030, a ascensão metódica de nomes como Rafael Fonteles mostra que o jogo já começou. A capacidade do partido de promover essa transição de forma orgânica, apresentando “novos quadros” ao eleitorado, como defendeu Dirceu, será decisiva para definir seu destino na era pós-Lula. O governador do Piauí, com sua base regional consolidada e projeção em ascensão, tornou-se, querendo ou não, uma peça-chave nesse xadrez.
Luiz Brandão
Mais conteúdo sobre:
#Rafael Fonteles #PT 2030 #sucessão de Lula #José Dirceu #governador do Piauí #Consórcio Nordeste #eleição presidencial 2030 #pós-Lula #nomes do PT #Fernando Haddad #João Campos