Um fenômeno perturbador ganha força nas redes sociais nos últimos dias: bolsonaristas radicais, autointitulados "patriotas" e "homens de bem", torcem abertamente por uma invasão dos Estados Unidos à Venezuela. No entanto, uma análise mais aprofundada revela que o alvo desejado no discurso é apenas um ensaio para um objetivo mais delirante. O que esses grupos realmente anseiam é que o poderio militar norte-americano seja direcionado ao Brasil, numa fantasia de "salvamento" do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados, condenados pelo STF pela tentativa de golpe de estado entre 2022 e 2023.
Esse desejo, porém, nasce de uma completa desconexão com a realidade geopolítica e estratégica. Vive-se numa realidade paralela, alimentada por fake news e discursos de ódio, onde a complexidade das relações internacionais é reduzida a um roteiro simplista de vilões e heróis. Eles estão longe de imaginar o que seria uma ação militar de grande escala contra o Brasil e suas consequências arrasadoras para o país e para o mundo. É como se vivessem um dos efeitos do chamado chá de cogumelo.
A motivação por trás desse sonho distópico é clara: a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão e dos outros envolvidos na tentativa de golpe de estado no Brasil entre 2022 e 2024 criaram um desespero que busca uma solução messiânica e externa. Na lógica distorcida desses grupos, se os EUA podem ameaçar Nicolás Maduro, poderiam fazer o mesmo para "restaurar" Bolsonaro no poder.
O que ignoram é que qualquer potência mundial que ousasse atacar o Brasil enfrentaria uma reação de proporções intercontinentais. O Brasil é uma nação continental, com uma das maiores populações e PIBs do mundo, membro fundador do BRICS e com parcerias estratégicas sólidas com potências como China, Rússia e nações da União Europeia. Um ataque ao Brasil desestabilizaria todo o globo, provocando uma crise diplomática e econômica sem precedentes, com repercussões imprevisíveis. A comunidade internacional não ficaria inerte. A ideia é não só impossível como beira o absurdo estratégico.
O espelho venezuelano
Se a invasão do Brasil é um delírio, torcer pela da Venezuela já é uma demonstração de ignorância sobre a complexidade de um conflito armado. Os bolsonaristas radicais adotam a narrativa simplista de Trump, que justifica a ação militar no Caribe como um combate ao narcotráfico. No entanto, a história se repete: por trás do discurso moralista, o verdadeiro alvo dos norte-americanos é o petróleo venezuelano, uma das maiores reservas do mundo, seguindo o mesmo script das invasões ao Kuwait e ao Iraque.
Contudo, mesmo contra a Venezuela, uma ação militar não seria um passeio. Conforme revelado por agências internacionais de notícias, o regime de Maduro prepara uma estratégia de "resistência prolongada" no estilo guerrilheiro e planeja criar "anarquia" nas ruas de Caracas para tornar o país ingovernável para forças estrangeiras. A Venezuela conta com armamentos de origem russa, mesmo que defasados, e mantém relações militares estreitas com China e Rússia, que poderiam intervir no conflito de formas indiretas, fornecendo inteligência, apoio diplomático ou armamentos.
Fontes militares venezuelanas admitem que não durariam "duas horas" em uma guerra convencional, mas é justamente aí que reside o perigo: a guerra irregular e a insurgência são um cenário de pesadelo, capaz de arrastar um conflito por anos, com um custo humanitário incalculável. O governo Trump, que mobilizou seu maior porta-aviões para o Caribe, busca uma "justificativa jurídica" para atacar, mas subestima o caos que pode gerar.
O discurso que torce pela invasão de uma nação irmã e, na sombra, deseja o mesmo para o próprio país, é a face mais grotesca da radicalização política. É um sonho nascido do ódio e da desinformação, que ignora a soberania nacional, a paz regional e a vida de milhões de pessoas.
Enquanto se alimentam de notícias falsas em seus grupos de WhatsApp, esses radicais não compreendem que estão torcendo pela própria destruição. O Brasil não é a Venezuela, mas uma guerra em nosso continente mancharia de sangue toda a América do Sul. O verdadeiro patriotismo não se encontra no desejo de intervenção estrangeira, mas na defesa intransigente da democracia, da Constituição e da soberania do país, valores que, ironicamente, os condenados pelo golpe tentaram subverter.
A guerra, em qualquer tempo e qualquer lugar, sempre foi o maior flagelo da humanidade
Luiz Brandão
Mais conteúdo sobre:
#Bolsonaristas #invasão Estados Unidos #Venezuela #golpe de estado #Jair Bolsonaro #STF #condenados #guerra #petróleo #Donald Trump #Nicolás Maduro #resistência #guerrilha #fake news #realidade paralela #Brasil