Blog do Brandão

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DELÍRIO DO COGUMELO

Na realidade paralela, bolsonaristas sonham com uma invasão dos EUA ao Brasil

Radicais fantasiam um resgate americano aos condenados por tentativa de golpe, ignorando as catastróficas consequências reais de um ataque ao Brasil

Por Luiz Brandão

Quarta - 12/11/2025 às 12:00



Foto: Redes sociais O efeito de um cogumelo real que hamunidade não precisa
O efeito de um cogumelo real que hamunidade não precisa

Um fenômeno perturbador ganha força nas redes sociais nos últimos dias: bolsonaristas radicais, autointitulados "patriotas" e "homens de bem", torcem abertamente por uma invasão dos Estados Unidos à Venezuela. No entanto, uma análise mais aprofundada revela que o alvo desejado no discurso é apenas um ensaio para um objetivo mais delirante. O que esses grupos realmente anseiam é que o poderio militar norte-americano seja direcionado ao Brasil, numa fantasia de "salvamento" do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados, condenados pelo STF pela tentativa de golpe de estado entre 2022 e 2023.

Esse desejo, porém, nasce de uma completa desconexão com a realidade geopolítica e estratégica. Vive-se numa realidade paralela, alimentada por fake news e discursos de ódio, onde a complexidade das relações internacionais é reduzida a um roteiro simplista de vilões e heróis. Eles estão longe de imaginar o que seria uma ação militar de grande escala contra o Brasil e suas consequências arrasadoras para o país e para o mundo. É como se vivessem um dos efeitos do chamado chá de cogumelo.

A motivação por trás desse sonho distópico é clara: a condenação de Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses de prisão e dos outros envolvidos na tentativa de golpe de estado no Brasil entre 2022 e 2024 criaram um desespero que busca uma solução messiânica e externa. Na lógica distorcida desses grupos, se os EUA podem ameaçar Nicolás Maduro, poderiam fazer o mesmo para "restaurar" Bolsonaro no poder.

O que ignoram é que qualquer potência mundial que ousasse atacar o Brasil enfrentaria uma reação de proporções intercontinentais. O Brasil é uma nação continental, com uma das maiores populações e PIBs do mundo, membro fundador do BRICS e com parcerias estratégicas sólidas com potências como China, Rússia e nações da União Europeia. Um ataque ao Brasil desestabilizaria todo o globo, provocando uma crise diplomática e econômica sem precedentes, com repercussões imprevisíveis. A comunidade internacional não ficaria inerte. A ideia é não só impossível como beira o absurdo estratégico.

O espelho venezuelano

Se a invasão do Brasil é um delírio, torcer pela da Venezuela já é uma demonstração de ignorância sobre a complexidade de um conflito armado. Os bolsonaristas radicais adotam a narrativa simplista de Trump, que justifica a ação militar no Caribe como um combate ao narcotráfico. No entanto, a história se repete: por trás do discurso moralista, o verdadeiro alvo dos norte-americanos é o petróleo venezuelano, uma das maiores reservas do mundo, seguindo o mesmo script das invasões ao Kuwait e ao Iraque.

Contudo, mesmo contra a Venezuela, uma ação militar não seria um passeio. Conforme revelado por agências internacionais de notícias, o regime de Maduro prepara uma estratégia de "resistência prolongada" no estilo guerrilheiro e planeja criar "anarquia" nas ruas de Caracas para tornar o país ingovernável para forças estrangeiras. A Venezuela conta com armamentos de origem russa, mesmo que defasados, e mantém relações militares estreitas com China e Rússia, que poderiam intervir no conflito de formas indiretas, fornecendo inteligência, apoio diplomático ou armamentos.

Fontes militares venezuelanas admitem que não durariam "duas horas" em uma guerra convencional, mas é justamente aí que reside o perigo: a guerra irregular e a insurgência são um cenário de pesadelo, capaz de arrastar um conflito por anos, com um custo humanitário incalculável. O governo Trump, que mobilizou seu maior porta-aviões para o Caribe, busca uma "justificativa jurídica" para atacar, mas subestima o caos que pode gerar.

O discurso que torce pela invasão de uma nação irmã e, na sombra, deseja o mesmo para o próprio país, é a face mais grotesca da radicalização política. É um sonho nascido do ódio e da desinformação, que ignora a soberania nacional, a paz regional e a vida de milhões de pessoas.

Enquanto se alimentam de notícias falsas em seus grupos de WhatsApp, esses radicais não compreendem que estão torcendo pela própria destruição. O Brasil não é a Venezuela, mas uma guerra em nosso continente mancharia de sangue toda a América do Sul. O verdadeiro patriotismo não se encontra no desejo de intervenção estrangeira, mas na defesa intransigente da democracia, da Constituição e da soberania do país, valores que, ironicamente, os condenados pelo golpe tentaram subverter.

A guerra, em qualquer tempo e qualquer lugar, sempre foi o maior flagelo da humanidade

Luiz Brandão

Luiz Brandão

Luiz Brandão é jornalista formado pela Universidade Federal do Piauí. Está na profissão há 40 anos. Já trabalhou em rádios, TVs e jornais. Foi repórter das rádios Difusora, Poty e das TVs Timon, Antares e Meio Norte. Também foi repórter dos jornais O Dia, Jornal da Manhã, O Estado, Diário do Povo e Correio do Piauí. Foi editor chefe dos jornais Correio do Piauí, O Estado e Diário do Povo. Também foi colunista do Jornal Meio Norte. Atualmente é diretor de jornalismo e colunista do portal www.piauihoje.com.
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