Blog do Brandão

Blog do Brandão

Ao acusar militares, Ciro Nogueira entra no radar dos investidores do golpe

Será que um ministro tão próximo a Bolsonaro e poderoso como Ciro não viu nada e não ficou sabendo nada sobre a intentona golpista?

Por Luiz Brandão

Terça - 19/03/2024 às 23:03



Foto: Fotomontagem Piaui Hoje Ciro Nogueira,  Baptista Junior e Freire Gomes
Ciro Nogueira, Baptista Junior e Freire Gomes

Ao acusar os ex-comandantes do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Carlos Baptista Junior, de prevaricação, o senador Ciro Nogueira (PP/PI), pode ter entrado no radar dos investidores da tentiva de golpe de estado planejado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, no final de 2022. 

O senador foi ousado e demonstrou lealdade ao ex-chefe. Mas a questão agora seria esclarecer quem teria prevaricado primeiro em não denunciar o plano do golpe: Ciro Nogueira, então chefe da Casa Civil e um dos ministros mais próximos de Bolsonaro e mais poderosos do governo, ou o general e o tenente-brigadeiro do ar?

Ao mexer com os militares Ciro pode entrar na mira da PF porque ninguém acredita que um ministro tão poderoso e importante como era, não tenha visto nada e nem tenha ouvido falar nada sobre o planejamento de golpe de estado bem próximo ao gabinete dele. E, se soube, porque não tomou nenhuma providência? 

A Constituição Federal diz que prevaricação é um dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral e consiste em retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.

Sigilo aberto 

No final da semana passada, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, derrubou o sigilo dos depoimentos dados à Polícia Federal por militares de alta patente que teriam testemunhado a pretensão de Jair Bolsonaro de dar um golpe de estado para evitar a posse do presidente Lula e se manter do cargo.

Diante do que disseram as testemunhas, Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, usou sua conta no "X", para insinuar que os ex-chefes do Exército e da FAB teriam prevaricado. Na visão de Ciro, se os militares não adotaram nenhuma providência contra a tentativa de golpe, no mínimo, cometeram crime de  prevaricação.

Na verdade, o senador quis desqualificar os depoimentos ao questionar o fato de só agora, depois de Lula ter assumido, os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica terem dito que testemunharam ações para perpetrar um golpe. Ele também insinuou que os dois militares "batem continência" para quem está no poder.

O outro lado

Ocorre que, na mesma época da intentona golpista, Ciro Nogueira era um dos ministros mais próximos de Bolsonaro e mais poderosos do governo. E nestas condições, é estranho que ele, vivendo ali, bem no meio das decisões, não tenho tomado conhecimento de nada do que está sendo dito à PF por ex-assessores de Bolsonaro, como o ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, e os ex-chefes do Exército e Aeronáutica.

Se realmente não soube de nada sobre o golpe, então Ciro Nogueira não era assim tão próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro e tão poderoso como mostrava ser. O gabinete do ministro da Casa Civil é um dos mais próximo da sala de despechos do presidente da República e o titular da pasta sempre tem livre acesso ao chefe da Nação.

O gabinete do ministro da Casa Cilvil também fica próximo ao grande salão onde ocorreram algumas reuniões do presidente com ministros, incluindo a que houve tratativas sobre o golpe e que foi filmada e da qual participaram quase todos os ministros importantes do governo. Ciro não foi convidado para a reunião? E nem soube do que foi tratado nela?

O outro lado

Na segunda-feira (18), ao rebater as insinuações de Ciro, o tenente-brigadeiro do ar Baptista Júnior também usou as redes sociais e disse que o senador atacou as instituições, principalmente as militares, ao colocar sob suspeitas as informações dadas pelos ex-chefes das forças à Polícia Federal.

As investigações sobre a intentona golpista estão longe de acabar. E muita gente ainda vai ser intimado a dizer o que sabe, inclusive detentores do tal do "foro privilegiado". Como Ciro Nogueira, outros poderosos ministros de era Bolsonaro, dentre eles Paulo Guedes, da Economia, ainda não deram explicações à PF sobre o que viram e estavam fazendo entre a primavera e verão de 2022.

Siga nas redes sociais
Luiz Brandão

Luiz Brandão

Luiz Brandão é jornalista formado pela Universidade Federal do Piauí. Está na profissão há 40 anos. Já trabalhou em rádios, TVs e jornais. Foi repórter das rádios Difusora, Poty e das TVs Timon, Antares e Meio Norte. Também foi repórter dos jornais O Dia, Jornal da Manhã, O Estado, Diário do Povo e Correio do Piauí. Foi editor chefe dos jornais Correio do Piauí, O Estado e Diário do Povo. Também foi colunista do Jornal Meio Norte. Atualmente é diretor de jornalismo e colunista do portal www.piauihoje.com.

Compartilhe essa notícia: