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Vargas, historiadores e história do tempo presente

É o caso de Vargas. Até hoje não se faz política sem ele. Seu legado, de algum modo, sempre está presente exigindo respostas.

Antônio Máximo

Terça - 07/06/2022 às 21:21



Foto: Divulgação Charge
Charge


Vargas é inesgotável, com possibilidades de abordagem sempre abertas. Ao teatro, cinema, literatura, também um cartum permanente. Talvez seja daqueles, na historiografia, perfeito pra testes, pra  capacidade da História do Tempo Presente, na função que põe ao historiador de um intelectual com responsabilidade no espaço público, à parte o debate de constituir-se um campo, com aporte e método próprios, ou se recorre a categorias da antropologia, sociologia ou marxistas ( História Social ou Cultural ou Marxista do Tempo Presente?) ou, conforme o historiador Carlos Fico, uma operação na qual “pesquisador, objeto de pesquisa e público leitor estão mergulhados em uma mesma temporalidade que não terminou.” (FICO, 2012)


É o caso de Vargas. Até hoje não se faz política sem ele. Seu legado, de algum modo, sempre está presente exigindo respostas. Lacerda, em seu Depoimento, chega a dizer que o golpe de 64 foi o “10 de novembro sem Getúlio”; a economia com Geisel continuava a política de substituição de importações; Fernando Henrique acreditava ser a pá de cal na “Era Vargas”; o próprio Lula, o Novo Sindicalismo, porque houve o “velho”, “cupulista”, “pelego”, “varguista”; Dilma, da Nova Matriz; Temer, desmontando a Legislação Trabalhista – a barbárie, esse erro de revisão histórica a ser superado e superado, de novo, envolvendo Vargas, pois uma das bandeiras corretas de Lula será a revogação da revogação de Temer.
Para não falar do maior de todos, Leonel Brizola, grande figura histórica, despojado das circunstâncias para equiparar-se à grandeza de Vargas e cuja falta é particularmente sensível hoje. Brizola imprimira ao Trabalhismo uma inflexão, um viés de esquerda imbricante ao popular, para uma investigação ainda por ser feita. Ou já tenha sido. A Força do Povo: Brizola e o Rio de Janeiro, organizado pela historiadora Marieta de Moraes.


Diante de Vargas, verifica o historiador o espaço público e o papel que nele não se exime de ocupar. Cito o exemplo do Professor Jorge Ferreira, reconhece a relevância do seu tempo, identifica as capacidades da HTP que mobiliza a fim de não furtar-se a se posicionar. Fica evidente, na introdução ao seu Imaginário Trabalhista: Getulismo, PTB e Cultura Política Popular 1945-1964, o incômodo com a pacificação do “populismo” enquanto conceito acadêmico. Praticamente, um hábito, em sucessão acrítica, uma vez cânone estabelecido por autoridades como Ianni e Weffort. “Noções como manipulação, cooptação, demagogia, traição e desvio seguem no rastro de análises.” (FERREIRA, 2005, p. 9)
Nesse populismo canônico todos são sujeitos, burguesia, líderes carismáticos, outros quaisquer agentes de mediação, menos os trabalhadores que não passam de “massas – própria para amassar.” Não dispondo de História, eram narrados, entre 1930 e 1964, em versões terceirizadas nas quais cabiam toda sorte de recursos, categorias, heróis e vilões. Mas, o final, já bastante conhecido, acabou cansando. Indispensável roteiro novo. Por que não tentar a própria História?
Fica pra outra postagem.
Abraço
Antônio Máximo, da Vila do iconoclasta Noel

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