
Em um cenário de horror, no centro de Teresina, uma jovem mulher e seu companheiro foram brutalmente assassinados. A vida de Penélope, uma profissional da segurança com uma carreira promissora, foi ceifada por um homem que não aceitou a sua escolha. O crime não foi um "momento de loucura", mas a manifestação fria e calculada de um sistema que se recusa a aceitar o protagonismo feminino. O fato de isso ter ocorrido em agosto, mês simbólico da Lei Maria da Penha e do "Agosto Lilás", torna o episódio ainda mais chocante e urgente. A tragédia de Penélope e Thiciano nos obriga a confrontar uma verdade incômoda: as estruturas machistas não cederam nem um milímetro.
A Lei Maria da Penha é, sem dúvida, um marco na legislação brasileira. Ela reconhece a violência de gênero e oferece ferramentas de proteção. No entanto, o feminicídio de Penélope nos força a questionar: a lei tem sido suficiente? Ou a sociedade, de forma sutil ou explícita, a descredita, a desonra e a torna ineficaz? O problema não é a lei, mas a sua aplicação por um sistema que, no fundo, ainda aceita a ideia de que a mulher é uma propriedade.
O Machismo de Mãos Dadas com o Fascismo
A raiz dessa violência está no machismo, que glorifica a masculinidade hegemônica e prega a subserviência feminina. É um sistema patriarcal que ensina que o homem é o provedor, o líder, e que a mulher deve estar sempre à sua disposição. O agressor do caso de Penélope, um homem que já havia abandonado a família, retornou com a expectativa de que ela estivesse "no seu lugar", disponível para ele. A recusa de Penélope em voltar a uma vida de submissão foi percebida por ele como uma ofensa imperdoável, que só poderia ser corrigida com a violência.
Essa mentalidade se alinha perfeitamente com o fascismo, que, como sistema político, busca o controle social através da hierarquia, da ordem e da obediência cega. No fascismo, a mulher, a comunidade LGBTQIA+, e qualquer grupo que desafie a norma heteronormativa são vistos como uma "ameaça interna" que precisa ser neutralizada para manter a ordem. O ato de violência contra Penélope não foi apenas pessoal; foi político. Foi uma demonstração de força para reafirmar a hierarquia e o controle de um sistema que se sente ameaçado.
Rompendo o Ciclo
A aliança entre machismo e fascismo é um ciclo vicioso de dominação e violência. O machismo oferece o modelo de hierarquia, e o fascismo oferece o poder político para impor esse modelo pela força. O feminicídio de Penélope não é um caso isolado, mas o ponto de colapso de uma estrutura que nega às mulheres o direito à sua própria vida, seu corpo e suas escolhas.
O debate sobre a efetividade da Lei Maria da Penha é crucial, mas ele deve ir além. Precisamos nos perguntar a quem interessa a manutenção dessa violência? Por que o feminicídio persiste? A resposta está no medo: o medo que a estrutura tem de perder o controle. A mulher que é dona de si é uma ameaça à ordem patriarcal e, por extensão, à lógica de controle fascista.
Para quebrar esse ciclo, é necessário mais do que leis. É preciso uma revolução cultural. É preciso questionar e desmantelar o machismo que foi incutido em nós, homens e mulheres. É preciso garantir que o Estado não apenas puna os agressores, mas invista em educação e políticas públicas que valorizem a vida das mulheres em toda sua plenitude — profissional, social e pessoal. A vida de Penélope, ceifada pela violência, deve se tornar um símbolo inesquecível de que a luta pela vida das mulheres é uma luta contra um sistema que se sustenta na força, na submissão e no controle de nossos corpos e de nossas vidas.
