Saúde

Fábrica de mosquitos

Nova tecnologia usa mosquitos com vacina natural para combater dengue

Pesquisadores transferiram uma bactéria para o mosquito transmissor da dengue, descobrindo que ela impede a multiplicação dos vírus dentro do inseto

Segunda - 06/10/2025 às 15:58



Foto: Divulgação FMS registrou 953 casos de dengue somente este ano em Teresina
FMS registrou 953 casos de dengue somente este ano em Teresina

Uma tecnologia inovadora que utiliza mosquitos com uma bactéria natural está sendo implementada no Brasil como nova arma no combate à dengue, zika e chikungunya. Chamada de Wolbachia, a técnica funciona como uma "vacina" para os mosquitos Aedes aegypti, impedindo que transmitam vírus para os seres humanos. Para ampliar o acesso a essa tecnologia, foi inaugurada na semana passada uma fábrica em Campinas, interior de São Paulo, que vai produzir esses mosquitos em larga escala. A nova instalação da Oxitec Brasil tem capacidade para fornecer até 190 milhões de ovos por semana, quantidade suficiente para proteger até 100 milhões de pessoas anualmente contra a dengue.

A Wolbachia é uma bactéria que existe naturalmente em mais de 60% dos insetos no mundo, mas não estava presente no Aedes aegypti. Pesquisadores transferiram essa bactéria para o mosquito transmissor da dengue, descobrindo que ela impede a multiplicação dos vírus dentro do inseto. "Funciona mais ou menos como uma vacina", explicou Natalia Verza Ferreira, diretora-executiva da Oxitec Brasil. "Quando uma fêmea com a Wolbachia acasala com um macho do ambiente, toda a descendência desse cruzamento vai ter a bactéria e não vai conseguir transmitir doenças".


A fábrica também produz outra tecnologia complementar chamada Aedes do Bem, que funciona de maneira diferente. Enquanto a Wolbachia impede a transmissão de doenças, o Aedes do Bem reduz diretamente a população de mosquitos. São liberados apenas mosquitos machos que, ao acasalar com fêmeas selvagens, fazem com que todas as fêmeas da próxima geração morram ainda na fase larval. Como só as fêmeas picam e transmitem doenças, essa tecnologia já demonstrou capacidade de reduzir em 95% as populações de Aedes aegypti em comunidades urbanas.

As duas tecnologias são estratégias complementares, mas não podem ser usadas simultaneamente. A recomendação é usar primeiro o "Aedes do Bem" para reduzir a população de mosquitos e depois introduzir a Wolbachia para "vacinar" os mosquitos que restaram. O momento ideal para essa transição é após a temporada de calor e chuvas.

A nova fábrica surge em um momento crítico, com casos de dengue atingindo níveis recordes no Brasil e no mundo. A instalação foi construída para atender à demanda crescente por soluções eficazes e econômicas no controle da dengue. A tecnologia Wolbachia já foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde e adotada pelo Ministério da Saúde brasileiro como parte do Programa Nacional de Controle da Dengue.

Agora, a
fábrica aguarda a aprovação da Anvisa para começar a fornecer os mosquitos com Wolbachia ao governo brasileiro, com expectativa de que estejam disponíveis para o início dessa temporada de mosquitos no país, que coincide com o começo do período mais quente e chuvoso do ano no país.

Fonte: Agência Brasil

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