
O prêmio Nobel de Medicina, anunciado nesta segunda-feira (6), reconhece descobertas que podem revolucionar o tratamento de câncer, doenças autoimunes e transplantes. Os cientistas Mary E. Brunkow, Fred Ramsdell e Shimon Sakaguchi foram os premiados por suas revelações sobre a tolerância imunológica periférica, mecanismo fundamental para impedir que o sistema imunológico ataque o próprio organismo.
As descobertas do trio, que dividirá o prêmio de 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões), identificaram os "guardiões" do sistema imunológico: as células T reguladoras (Tregs). Essas células atuam como um freio natural, impedindo que as defesas do corpo ataquem os próprios tecidos e órgãos, o que provoca as doenças autoimunes, condições em que o sistema de defesa ataca o próprio corpo por engano. O entendimento desse mecanismo é o que permite ao nosso organismo combater vírus e bactérias sem causar danos a nós mesmos.
"Essas descobertas foram decisivas para compreendermos como o sistema imunológico funciona e por que nem todos desenvolvemos doenças autoimunes graves", afirmou Olle Kämpe, presidente do Comitê Nobel de Medicina. O comitê do Nobel destacou que a aplicação prática desse conhecimento avança em duas frentes principais: fortalecer as Tregs para acalmar o sistema imunológico ou inibi-las para que ele atue com mais força.
No tratamento de doenças autoimunes, como diabetes tipo 1, lúpus e esclerose múltipla, e para prevenir a rejeição em transplantes, a estratégia é aumentar o número ou a atividade das células T reguladoras. Ensaios clínicos já estão em andamento testando o uso de substâncias como a interleucina-2 para fazer essas células se proliferarem. Outra linha de pesquisa investiga a terapia celular personalizada, na qual as Tregs de um paciente são multiplicadas em laboratório e reinjetadas em seu corpo para controlar respostas imunológicas indesejadas.
Já na luta contra o câncer, o objetivo é o oposto. Alguns tumores são inteligentes o suficiente para recrutar essas células reguladoras para se esconderem do sistema imunológico. Portanto, tratamentos em desenvolvimento buscam reduzir ou destruir seletivamente as Tregs no microambiente do tumor, permitindo que as defesas do corpo vejam e ataquem as células cancerígenas com eficácia.
Os cientistas premiados, cada um com trajetórias complementares, estão vendo seu trabalho ser celebrado como uma base da imunologia moderna. Mary E. Brunkow atua no Institute for Systems Biology em Seattle (EUA), Fred Ramsdell é consultor na Sonoma Biotherapeutics em San Francisco (EUA), e Shimon Sakaguchi é professor emérito da Universidade de Osaka, no Japão. Suas descobertas consolidaram um novo paradigma que explica como o corpo distingue o "eu" do "invasor" e, mais do que isso, como podemos restaurar esse equilíbrio vital quando ele falha, trazendo esperança concreta para milhões de pacientes em todo o mundo.
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