Política

COMBATE AO CRIME

Por 370 votos a 110, Câmara aprova projeto para combate a facções criminosas

Texto prevê aumento da pena para ações ligadas a organizações criminosas; Motta diz que é ação mais dura da Casa contra o crime organizado, e governo

Da Redação

Terça - 18/11/2025 às 23:23



Foto: Agência Câmara Plenário da Câmara na votação do Projeto de Lei antifacção
Plenário da Câmara na votação do Projeto de Lei antifacção

A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (18) o Projeto Antifacção para combate ao crime organizado. O placar foi de 370 a 110. O projeto foi enviado pelo governo federal ao Congresso Nacional em outubro. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), escolheu o deputado Guilherme Derrite (Progressistas-SP) como relator.

Essa decisão incomodou o governo, que criticou a decisão de Motta de dar um projeto de autoria do governo para o secretário de segurança de São Paulo, do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), e que deixou o cargo apenas para fazer a relatoria.

A tramitação da pauta também foi tumultuada, com governo e oposição tecendo críticas às propostas de Derrite.

O texto endurece penas, cria novos crimes, amplia poderes de investigação e determina regras especiais para líderes de organizações criminosas.

Entre os pilares do texto, está o aumento da pena para ações ligadas a organizações criminosas que podem chegar a 40 anos de prisão.

O que diz o projeto?

O texto do projeto se voltou para as “organizações criminosas, paramilitares ou milícias privadas” com ações praticadas “mediante violência ou grave ameaça”.

O relator também estabeleceu a definição de “organizações criminosas ultraviolenta”. Apesar disso, o governo criticou a ausência de menção explícita a “facções criminosas”, e afirmou que buscará a votação para a inclusão deste trecho separadamente.

A proposta dificulta ainda a progressão de regime de pena para membros de grupos criminosos.

O texto atual endurece penas, cria tipos penais específicos para ações de facções e amplia instrumentos de investigação.

O texto não altera a Lei Antiterrorismo e não mexe nas regras que tratam das atribuições da Polícia Federal, como chegou a ser previsto nas primeiras versões do relatório.

A oposição tentou incluir a equiparação com terrorismo de última hora, na votação no plenário, por meio de um destaque (alteração ao texto). Motta, que ao longo de toda a discussão se colocou contra a equiparação, barrou o destaque e prosseguiu com a votação.

Na última versão do relatório, Derrite também incluiu o garimpo ilegal como agravante para ações de organização criminosa com um aumento de pena nesses casos.

Risco de descapitalização da PF

Apesar do acordo parcial para o texto, líderes governistas avaliam que a versão atual ainda “descapitaliza” a União e a Polícia Federal, especialmente no trecho que define o destino dos bens confiscados de facções.

Segundo relatos feitos ao g1, integrantes da articulação afirmam que Derrite atendeu ao pedido de reforçar o Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), mas o texto mantém a regra de divisão dos recursos quando houver atuação conjunta de órgãos federais e estaduais — o que, na visão do governo, reduz a disponibilidade de verbas para áreas estratégicas.

Mesmo com a migração dos valores para o FNSP, e não mais para o Funapol, líderes afirmam que Outros fundos federais perderiam recursos, como o Fundo Nacional Antidrogas (Funad).

Para tentar reverter o cenário, o PT apresentou um destaque que buscava retomar a redação original do governo. Mas esse destaque foi rejeitado.

A versão do governo previa que “o produto da alienação depositado em conta vinculada ao juízo será destinado à União, aos Estados e ao Distrito Federal, na forma prevista na legislação” atual — ou seja, com maior participação federal no rateio.

Outros pontos

O texto cria:

- penas de 20 a 40 anos para crimes cometidos por facções ultraviolentas;

- definições específicas para novo cangaço, domínio territorial e ataques com explosivos, armas pesadas e drones;

- regras para que líderes de facções cumpram pena obrigatoriamente em presídios federais de segurança máxima;

- mecanismos de monitoramento audiovisual de parlatórios, inclusive no contato com advogados em hipóteses excepcionais;

- medidas de confisco mais amplas, com bloqueio e alienação antecipada de bens, contas e criptoativos;

- possibilidade de intervenção judicial em empresas usadas pelas facções.

Divergências

Governistas se queixaram principalmente que Derrite buscar equiparar as facções criminosas com grupos terroristas, o que, na visão do Palácio do Planalto, deixaria o Brasil vulnerável à interferência externa.

Este ponto foi cedido por Derrite, mas o governo teme que o PL proporá uma votação para retomá-lo.

Também não agradava o governo e a Polícia Federal mudanças nas atribuições da corporação propostas por Derrite. A PF temia perder autonomia nas investigações.

Progressão de pena e presídios federais

O texto prevê percentuais máximos de progressão, que podem chegar a:

70%, 75%, 80% ou 85% da pena, a depender do caso.

O texto determina internação obrigatória em presídio federal de segurança máxima para lideranças e núcleos de comando de organizações criminosas. “O objetivo é interromper comunicações ilícitas e reduzir o poder de comando exercido a partir dos presídios”, apontou o relator.

Guilherme Derrite e Hugo Mota: dupla força para Tarcísio de Freitas/ Foto - Kebec Nogueira 

Fonte: Agência Brasil

Siga nas redes sociais

Compartilhe essa notícia: