
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), prestou depoimento à Polícia Federal em que reafirmou não ter utilizado perfil no Instagram para tratar sobre sua delação premiada. A ação ocorre no âmbito da investigação que apura uma tentativa de golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder após a derrota eleitoral em 2022. A negativa de Cid acontece apesar da existência de novos registros e mensagens que podem comprometer sua versão, obtidos por meio de dados fornecidos pela Meta, dona do Instagram, ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante o interrogatório, Cid voltou a afirmar que não discutiu o teor de sua delação pelo Instagram, o que violaria o sigilo do acordo. Ele é delator no inquérito que apura uma suposta articulação para desestabilizar o resultado das eleições presidenciais. O militar integra o que o Ministério Público descreve como “núcleo crucial” da organização golpista, enquanto Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, estaria no “núcleo dois” da trama.
O caso ganhou novo capítulo quando, na segunda-feira (23), a Meta encaminhou ao STF um ofício com detalhes da conta do militar na rede social, aberta em 2005 com o e-mail pessoal de Cid e a data de nascimento dele. O documento também incluiu os endereços de IP usados para acessar o perfil, que podem ajudar a rastrear a autoria das publicações.
Em depoimento ao STF em 9 de junho, Cid foi questionado pelo advogado de defesa de Bolsonaro, Celso Vilardi, sobre o uso de sua conta para tratar da delação. O militar negou ter feito interações relacionadas e desconversou sobre um perfil chamado “GabrielaR702”, dizendo que Gabriela seria o nome da esposa, mas sem confirmar se o perfil era dela.
Após a publicação de mensagens atribuídas ao perfil “GabrielaR702” pela revista Veja, que supostamente revelavam detalhes da delação de Cid, os advogados do militar negaram a autoria e pediram investigação. O ministro Alexandre de Moraes atendeu ao pedido e exigiu que a Meta entregasse os dados da conta.
No entanto, na semana passada, o advogado Eduardo Kuntz, defensor de Marcelo Câmara, informou ao STF que havia mantido conversas com Cid através desse perfil no Instagram. Além disso, apresentou novas mensagens que corroboram essa versão, contradizendo as alegações de Cid.
Diante dessas evidências, Moraes determinou a prisão de Câmara e instaurou investigações por possível obstrução da Justiça contra ele e seu advogado. O ministro ressaltou que “são gravíssimas as condutas noticiadas nos autos, indicando, neste momento, a possível tentativa de obstrução da investigação, por Marcelo Costa Câmara e por seu advogado Luiz Eduardo de Almeida Santos Kuntz, que transbordou ilicitamente das obrigações legais de advogado”.
Os dados fornecidos pela Meta também indicam conversas entre Kuntz, o perfil “GabrielaR702” e Paulo Amador Cunha Bueno, advogado da defesa de Bolsonaro, que agora também serão alvo de investigação.
O inquérito segue em andamento no STF, enquanto as autoridades analisam as mensagens, registros e eventuais conexões entre os envolvidos na suposta trama para tentar modificar o resultado da eleição presidencial de 2022.
Fonte: Brasil 247