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Primeira bariátrica do Piauí completa 21 anos

Para agravar a situação, Leonardo só encontrava alívio no consumo de doces e chocolates

Redação

Segunda - 24/06/2019 às 11:48



Foto: Claudia Bezerra Cirurgião bariátrico Gustavo Santos  e o empresário Leonardo Guimarães
Cirurgião bariátrico Gustavo Santos e o empresário Leonardo Guimarães

"Na infância tive uma vida normal e feliz! Mas na adolescência eu era chamado de guloso, e conhecido por comer muito", confessa o empresário Leonardo Barbosa Guimarães. Porém o que os amigos, familiares e o próprio Leonardo não sabiam é que o jovem sofria de uma doença ainda pouco conhecida, há 21 anos, a ansiedade que ocasionava os hábitos alimentares de comer fora de hora e acabava proporcionando o crescente aumento de peso. "Sem conhecimento adequado de que ansiedade era uma doença, descontava minhas angustias na comida. Ficava ansioso para saber resultados de notas na escola, com namoros, tudo me gerava compulsão para comer".

Para agravar a situação, Leonardo só encontrava alívio no consumo de doces e chocolates. A busca errada pela felicidade levava ao aumento de peso. "Na época procurei auxilio nos SPAs, encontrei resultados paliativos, emagrecia de dez a doze quilos em uma semana, mas depois retornava tudo, não conseguia manter o equilíbrio. Paralelo a isso, os desafios com o tempo aumentavam, comecei a sentir medo de sair de sair de casa, deixei de ir à muitas festas de casamento e 15 anos, temendo os tipos de cadeiras que tinham lá, os comentários maldosos me entristeciam e eu descontava na comida", lembra.

Com tudo isso, o jovem Leonardo mantinha seu ciclo social de amigos e era bastante querido. "Fazia de tudo para o meu humor se sobressair ao meu corpo, me tornei uma espécie de gordo engraçado. Mas com o tempo, essa situação começou a incomodar. Um dia assistindo ao programa do Jô Soares, tomei conhecimento sobre a cirurgia bariátrica, imediatamente entrei em contato com a produção do programa, consegui o telefone do médico da entrevista, liguei, falei com ele, que me solicitou diversos exames, alguns até poderiam ser feitos aqui em Teresina, mas ou outros só quando eu fosse ser operado em São Paulo e me colocou numa lista de espera".

Enquanto esperava para ser atendido em São Paulo, Leonardo comentou com alguns conhecidos sobre a decisão de fazer a cirurgia e um deles falou de outro médico, aqui mesmo de Teresina, que se especializava no Paraná para implementar a mesma cirurgia. "Eu já conhecia a família dele, mas não ele pessoalmente. Comparei os custos e concluir que fazer a cirurgia aqui sairia mais em conta", diz Leonardo.

O médico era Gustavo Santos de Sousa, cirurgião bariátrico do Hospital São Marcos, especialista em cirurgia do aparelho digestivo, que fez a primeira cirurgia bariátrica no estado há 21 anos, em 1998, no Leonardo, que na ocasião tinha apenas 22 anos e 198 quilos. "Durante o processo das negociações nos tornamos amigos, com ele tive um ótimo acompanhamento tanto físico como psicológico. Todo o processo cirúrgico foi realizado no São Marcos, não existia outro hospital com a estrutura que o hospital sempre teve, lá tive uma excelente estadia e grande satisfação com o resultado".

Logo após a bariátrica o jovem realizou a Bypass, outra cirurgia que grampeia parte do estômago para evitar a grande ingestão de alimentos. Também aumenta o nível de hormônios que dão a sensação de ansiedade, diminuem a fome e se perde mais de 40%  do peso. "De 198 quilos fiquei com 120 quilos, logo após a cirurgia, com auxilio de  exercício físico. Mudei totalmente meus hábitos alimentares, cortei vários alimentos como álcool, refrigerantes , salgados entre outros. A cirurgia em si ajuda bastante mas o mais importante é a força de vontade do paciente", afirma Leonardo que hoje pesa 87 quilos.

"Quando realizamos essa primeira bariátrica aqui, parecia coisa de louco, porque as pessoas não entendiam que cirurgia era essa para emagrecer, diziam que era aventura, maluquice, invenção da minha cabeça. Existia um certo preconceito porque era algo que não existia no Piauí", relembra o médico Gustavo.

Na verdade poucas pessoas realizavam no Brasil, somente no Rio e São Paulo. De lá para cá, o procedimento teve grande evolução. "A técnica era convencional, drástica, feita com corte na barriga, agressiva. Evoluímos para a videolaparoscopia, na qual são feitas pequenas incisões e o trauma se torna menor. Neste tipo, o especialista faz de três a cinco pequenos furos no abdômen e introduz os instrumentos necessários, colocando inclusive uma microcâmera ligada a um monitor, que permite a visualização do estômago e a realização da cirurgia".

Gustavo Santos já realizou mais de duas mil cirurgias como esta.  "As primeiras cirurgias demoravam em média quatro horas, depois o paciente era levado para UTI, ficava com drenos, sondas, passava de três ou quatro dias no hospital. Hoje a cirurgia é minimamente invasiva, o procedimento cirúrgico dura em torno de 50 minutos e não há necessidade de UTI, dreno ou sonda.   No dia seguinte o paciente já tem alta e pode ir pra casa", afirma.

SOBRE A CIRURGIA BARIÁTRICA

A Cirurgia Bariátrica está consolidada como um tratamento eficaz contra a obesidade grave. No Brasil aproximadamente 3,5% da população são obesos mórbidos, são mais pessoas do que se consegue operar. As estatísticas crescem muito e a cada ano pioram. O avanço de técnicas e tecnologias levou a especialidade a se tornar uma alternativa segura e eficiente não só contra a obesidade, mas também contra doenças associadas como diabetes, hipertensão e outras agravadas pelo excesso de peso. O Brasil é o segundo país no mundo que mais realiza operações deste tipo, com 100 mil registros por ano, fica atrás apenas dos EUA. Apesar do crescimento nos últimos dez anos ainda não são atendidos nem 1% dos candidatos à cirurgia.

Novas técnicas e abordagens surgem para o tratamento cirúrgico da obesidade grave e de doenças metabólicas, mesmo quando não há acúmulo acentuado de tecido gorduroso no organismo. O entendimento ampliado dos reflexos das intervenções no tubo digestivo nos mecanismos neuro-humorais tem estimulado novas ideias, ainda em comprovação científica. A visão multidisciplinar também ganhou maior relevância: o entendimento que o tratamento cirúrgico é muito mais do que operar permitiu a maior participação de endocrinologistas, nutrólogos, psiquiatras, cardiologistas, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas educadores físicos e outros profissionais da saúde. "Essa atuação conjunta evita complicações cirúrgicas imediatas e tardias, obtém resultados satisfatórios quanto a perda e a manutenção do peso e abre caminho para o treinamento mais qualificado de novas equipes". Um bom preparo pré-operatório e um acompanhamento eficaz de longo prazo são realidades no tratamento bariátrico e estão cada vez mais valorizadas.

Fonte: Claudia Bezerra

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