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Enem: 1 em 4 candidatos 'muda de cor' ao se inscrever no Exame Nacional

O resultado, presente em estudo recém-publicado na revista acadêmica Dados, corrobora as evidências do chamado processo de escurecimento da população

Sexta - 22/04/2022 às 18:38



Foto: @Rovena Rosa/Agência Brasil Enem
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Em um intervalo de apenas seis anos, mais de 1 em cada 4 participantes alterou sua declaração de raça/cor ao se inscrever uma nova vez no Enem. No saldo geral, as mudanças tendem a elevar a parcela de pardos em detrimento da de brancos, e a de pretos em detrimento da de pardos e brancos.

O resultado, presente em estudo recém-publicado na revista acadêmica Dados, corrobora as evidências do chamado processo de escurecimento da população brasileira, mostra que ele está ocorrendo de forma acelerada ao menos entre os mais jovens e destaca o caráter dinâmico da identificação racial, que envolve outros fatores além da pigmentação da pele.

Para chegar aos números, Adriano Senkevics, autor do trabalho e pesquisador do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), analisou microdados de sete edições do Enem entre 2010 e 2016. O ano de 2010 foi escolhido como ponto de partida porque foi quando começou a ser adotado o sistema de inscrição pela internet, que tornou obrigatório o preenchimento do quesito cor/raça.

Com isso, o número de candidatos que não declaravam essa informação caiu de quase 2 milhões de candidatos para 169 mil -estes optaram por de forma deliberada não se classificar em nenhuma categoria em 2010. Já 2016, o sistema de inscrição passou a retornar automaticamente a cor/raça declarada na edição anterior. Embora o candidato ainda possa mudá-la, Senkevics avalia que o mecanismo induziu uma maior estabilidade na declaração racial entre uma edição e outra.

Com um formato de inscrição homogêneo na maior parte do período analisado, pode-se também descartar eventuais erros de preenchimento como explicação para uma mudança massiva na autodeclaração dos candidatos. O ano de 2016 também é significativo por ser o prazo limite de implantação da Lei de Cotas aprovada em 2012. Ela reservou metade das vagas nas instituições federais de ensino a estudantes egressos de escolas públicas e, dentro desse percentual, a proporção correspondente de pretos, pardos e indígenas no estado.

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Sua análise mostrou que cerca de um quinto dos inscritos alterou sua declaração racial em anos consecutivos e 26,5% fizeram o mesmo considerando-se também inscrições em anos não subsequentes.

A mudança mais frequente no quesito raça/cor realizada pelos candidatos ao Enem foi de branco para pardo, realizada por 779,2 mil candidatos. A segunda mais frequente foi a de pardo para branco, realizada por 551,4 mil.

Também é expressivo o contingente de pardos que se reclassificaram como pretos (533,3 mil), e, em menor grau, o de pretos que passaram a se identificar como pardos (355,5 mil).

No saldo geral, o contingente de brancos diminuiu em 5,1%, o de pardos aumentou 1% e o de pretos teve um aumento expressivo, de 13,7%. Em 2016, essas categorias respondiam por 35,3%, 46,4% e 13,4%, respectivamente.

No caso dos pretos, o peso da reclassificação racial é tão importante que responde por dois terços do aumento da participação desse grupo no Enem ao longo do período analisado.

Fonte: Folhapress

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