ZONA SUDESTE

Zeladores faturam até mil reais por mês limpando sepulturas em cemitério de Teresina

Cuidadores de sepulturas vivem na informalidade, mas garantem o sustento da família e às vezes chegam a faturar cerca de mil reais por mês


Cemitério do Renascença I em Teresina

Cemitério do Renascença I em Teresina Foto: Valciãn Calixto

Em uma rápida passagem pelo Cemitério do Renascença I, localizado na zona Sudeste de Teresina, a reportagem do Piauihoje.com conversou com Irenilde Evangelista (52), Francisca Oliveira (60) e Agenor da Silva Porfírio (69), zeladores de túmulos. Para manter as sepulturas limpas, os canteiros bonitos, cobertos de plantas cobram de R$ 20 a R$ 30 reais e por vezes chegam a faturar uma média de mil reais por mês com a atividade da qual sobrevivem suas famílias há mais de dez anos.

O Cemitério do Renascença I foi inaugurado oficialmente em janeiro de 1988 durante a gestão do ex-prefeito Wall Ferraz. Dos 32 anos de existência desse espaço público, Irenilde faz sua renda há mais de 17 anos no campo santo. Já dona Francisca trabalha há 16 anos, desde que chegou à capital e o senhor Agenor, antes de ser zelador de túmulos, foi coveiro por oito anos na zona Sudeste, passou uma temporada abrindo o chão no cemitério do bairro São Cristóvão, onde se aposentou e hoje se dedica ao cuidado dos jazigos.

“Quando é assim túmulo fechado, a gente varre e passa o pano, os de planta criam mato, a gente vai arrancar os matos, a gente vai aguando no tempo de ‘aguação’, agora não, agora a gente faz mesmo só tirar os matos”, explica Irenilde como é o trabalho, referindo-se ao período do inverno na capital.

Ela conta que quando começou essa atividade havia poucas covas para cuidar, um máximo de duas fileiras. As sepulturas mais simples, com acabamento de cimento ou barro ganham plantas, as mais usadas são conhecidas pelas zeladoras como Boa Noite, Pega Rapaz, Onze Horas, Pica Pau, Loucura de Criança e Espada de São Jorge. “Todo tipo de planta a gente bota”, diz.

Questionados se dá para viver com a renda que o trabalho na necrópole proporciona, eles titubeiam e demostram perseverança quanto ao único meio de sustento que encontraram.

“Cuido de mais de 50 túmulos capinando, limpando os matos e a sujeira, plantando e cuidando das plantas. Dava um trocado até bom se as pessoas pagassem tudo certo. Mas parece que depois que o homem [presidente Jair Bolsonaro] entrou ninguém mais tem dinheiro. Cobro 30 reais por túmulo e tem gente que ainda reclama, tem gente que deixa recado pra eu cuidar só no verão, sendo que no inverno é quando o mato mais cresce, aí eu falo pra mulher lá em casa e ela diz pra eu deixar de mão, aí eu digo pra ela que não é bem assim”, conta Agenor Porfírio.

“Tem gente que paga 20, outros que pagam 25, é assim, depende da pessoa. A gente cobra um preço e a pessoa diz: ‘ouh, deixe por tanto’, e a gente pra não perder, né, porque aqui é o emprego da gente, aí a gente deixa, cuida um mês, dois meses, três e tem gente que não paga, aí a gente faz de conta que não vê e deixa pra lá, pega outra que pague e assim a gente vai levando a vida. Dá pra viver, é o jeito, né, do jeito que toca a música, como se diz, a gente dança”, diz entre risos Irenilde.

Seu Agenor conta que também tem prejuízos. “Se for botar todo meu prejuízo aqui cuidando dá mais de cinco mil”, comenta sobre as pessoas que fecharam o serviço com ele, mas não lhe pagaram o combinado.

Senhor Agenor é natural de Buriti dos Lopes, município localizado a 298 quilômetros de Teresina

Boa parte da rotina de Irenilde é tomada pela presença no cemitério.

“Todo dia estou aqui, só mesmo quando tá chovendo que a gente não vem porque é impossível. Estou pela manhã e tarde. As vezes venho só pela manhã. Esse período agora [do inverno] quando vem pela manhã, não vem mais a tarde, mas no verão é manhã e tarde por causa da aguação”, explica.

Tanto tempo cuidando da morada de pessoas que morreram recentemente e das que morreram há bastante tempo, as zeladoras contam que não sentem medo da morte, que na verdade, nem querem morrer, mas que quando chegar o dia, que seja rápido.

“Não, eu não tenho medo da morte. Sabe do quê que eu tenho medo? É de adoecer. Ficar sofrendo, mas se for uma morte ligeira como foi a do meu filho. Ele veio pra Teresina, no dia 1º de outubro foi embora e morreu no dia 10, adoeceu e foi ligeira a morte dele. Morreu fazendo pão, que ele tinha uma padaria. Ele tinha dado derrame duas vezes, na terceira morreu. Se for pra eu adoecer e ficar sofrendo como minha mãe está na mão dos outros, eu quero que deus me tire numa morte ligeira. Meu filho pedia muito isso e graças a deus foi atendido”, revela.

“Eu medo de morrer não tenho não, só tenho medo assim de eu adoecer e ficar sofrendo na mão dos outros. É uma coisa certa que a gente tem, né, mas querer ir não quero não, diz entre risos. E adoecer também de jeito nenhum”, fala Irenilde.

As duas contaram que não pagam a contribuição da aposentadoria, que um tempo a associação da categoria realizou algumas reuniões visando regularizar a situação dos zeladores, mas o projeto, como quase tudo no cemitério, morreu.

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