O relatório "Um olhar sobre o ensino superior no Brasil", divulgado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), apresenta uma série de propostas para aprimorar o ensino superior público no país e promover a democratização do acesso à educação de qualidade. As recomendações visam, entre outras coisas, ampliar o acesso e melhorar a formação de profissionais qualificados com custo mais baixo e maior flexibilidade.
Faculdades Federais
Uma das principais propostas do relatório é a criação de faculdades federais, instituições dedicadas exclusivamente ao ensino superior, com foco na formação de estudantes em diversas áreas do conhecimento. Essas faculdades seriam diferentes das universidades federais, que, além do ensino, também realizam pesquisa e extensão, geralmente com um custo mais alto por aluno. A ideia é que essas faculdades possam expandir o acesso ao ensino superior público de forma mais eficiente, especialmente em modalidades como o ensino noturno, atendendo às necessidades de estudantes que têm horários flexíveis.
O Brasil apresenta um índice de escolaridade universitária abaixo da média global. Apenas 22% da população de 25 a 34 anos tem diploma universitário, muito abaixo da média da OCDE, que é 47%. Além disso, 79% das matrículas estão concentradas no setor privado, o que limita o acesso de muitas pessoas ao ensino superior público de qualidade.
Centros de Formação em Áreas Estratégicas
O relatório também sugere a criação de Centros de Formação em Áreas Estratégicas (CFAEs) nas universidades públicas. Esses centros seriam focados em seis áreas prioritárias para o desenvolvimento do país:
- Bioeconomia
- Agronegócio e Agricultura
- Transição energética
- Saúde e bem-estar
- Transformação digital e inteligência artificial
- Materiais avançados e tecnologias quânticas
A proposta é que os CFAEs promovam soluções inovadoras e o desenvolvimento de novas tecnologias, estimulando a interdisciplinaridade e atendendo a setores estratégicos para o futuro do Brasil.
Expansão e Qualificação da Educação a Distância (EaD)
Outro ponto importante do relatório é a ampliação da educação a distância (EaD), especialmente em cursos públicos. O ensino a distância tem crescido significativamente nos últimos anos. Entre 2011 e 2021, o número de estudantes de graduação EaD aumentou 474%, enquanto o número de estudantes presenciais diminuiu 23,4%. Em 2022, 81% dos ingressantes em cursos de licenciatura optaram pela EaD.
No entanto, a expansão da EaD acendeu um alerta sobre a qualidade desses cursos, com o Ministério da Educação (MEC) suspendendo até 2025 a criação de novas vagas EaD para revisar o marco regulatório. Atualmente, a maioria das vagas EaD está no setor privado, mas o relatório propõe que as instituições públicas federais aumentem a oferta de cursos EaD, atendendo a uma demanda real da sociedade por flexibilidade de horários, especialmente para estudantes de localidades remotas ou que necessitam de horários mais flexíveis.
Valorização do Ensino Superior
O relatório também defende uma maior valorização do ensino superior e destaca a necessidade de ampliar o acesso de mais brasileiros ao ensino superior. Segundo o professor Rodrigo Capaz, membro da ABC, o aumento da taxa de escolaridade é crucial para o desenvolvimento do país. Ele argumenta que, sem uma expansão do ensino superior de qualidade, o Brasil terá dificuldades em alcançar seu potencial de crescimento econômico e justiça social.
Contexto Econômico e Prioridade à Educação
O relatório é apresentado em um contexto de corte de gastos do governo federal, o que dificulta a implementação de algumas das propostas. No entanto, Helena Nader, presidente da ABC, ressaltou que, mesmo com os cortes, a educação deve ser uma prioridade para o Estado brasileiro. Segundo ela, sem uma educação de qualidade, o país não conseguirá atingir estabilidade econômica nem justiça social. Além disso, Nader destacou a necessidade de qualificação profissional frente às transformações tecnológicas, como o avanço da inteligência artificial.
Conclusão
O relatório da ABC apresenta um diagnóstico urgente sobre o ensino superior no Brasil e oferece sugestões para democratizar o acesso e melhorar a qualidade da educação superior pública. A criação de faculdades federais, a formação de Centros de Formação em Áreas Estratégicas e a expansão da EaD são algumas das propostas que podem ajudar a construir um sistema educacional mais inclusivo e preparado para os desafios do futuro.
Fonte: Agência Brasil