Economia

LEVANTAMENTO

Estudo do Ipea aponta que novo Bolsa Família reduziu ocupações precárias no país

Segundo o estudo, ao garantir uma renda mínima de R$ 600 por domicílio, o programa permitiu que beneficiários deixassem empregos informais

Da Redação

Terça - 07/10/2025 às 10:06



Foto: Reprodução: Roberta Aline MDS Bolsa Familia é o maior programa de transferência de renda do país.
Bolsa Familia é o maior programa de transferência de renda do país.

Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o novo Bolsa Família, relançado em março de 2023, provocou o que os pesquisadores chamam de “fuga da precariedade”. Segundo o estudo, ao garantir uma renda mínima de R$ 600 por domicílio, o programa permitiu que beneficiários deixassem empregos marcados pela informalidade, baixos salários e instabilidade, especialmente mulheres com filhos pequenos.

A pesquisa, intitulada “O efeito do aumento no valor das transferências de renda sobre a inserção dos beneficiários no mercado de trabalho”, foi conduzida pelos pesquisadores Ricardo Campante e Fábio Soares e utilizou dados da PNAD Contínua (IBGE). O recorte analisa o período entre o Auxílio Brasil, que pagava R$ 400, e a elevação do benefício para R$ 600 com o novo Bolsa Família.

De acordo com o estudo, o valor maior não desestimulou a busca por trabalho formal. “Os dados indicam que o aumento do benefício não gerou um incentivo para que os trabalhadores migrassem de empregos formais para informais”, destaca o relatório.

Os pesquisadores observaram que a saída do mercado de trabalho se concentrou em ocupações precárias e informais, como entre trabalhadores domésticos sem carteira assinada ou familiares auxiliares.

O grupo mais afetado tem um perfil definido: mulheres nordestinas, com baixa escolaridade, moradoras da zona rural e responsáveis por crianças de até dez anos. Entre essas mulheres, 34,4% afirmaram ter deixado o trabalho para cuidar da casa, filhos ou parentes, revelando o peso da chamada “economia do cuidado” na decisão.

O estudo reforça que as mulheres realizam 81,7% do trabalho de cuidado no país, segundo dados da PNAD. Em 2022, um terço das mulheres fora do mercado declarou motivos ligados a responsabilidades familiares, enquanto entre os homens o índice foi de 3,5%.

Para o Ipea, o novo formato do Bolsa Família, que considera o tamanho e a composição familiar na distribuição dos recursos, melhora a focalização e corrige distorções. O programa paga R$ 150 adicionais por criança de 0 a 6 anos e R$ 50 por dependente entre 7 e 18 anos incompletos, gestantes e nutrizes.

O estudo conclui que investimentos em creches e serviços de cuidado para idosos são essenciais para reduzir o custo do trabalho formal para as mulheres. “Esses serviços são fundamentais não apenas para o bem-estar das famílias, mas também para facilitar a inserção feminina no mercado de trabalho”, finaliza o Ipea.

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