Em 24 de janeiro de 1835, trabalhadores africanos escravizados ocuparam Salvador (BA) e enfrentaram civis e soldados coloniais por mais de três horas na Revolta dos Malês, a maior rebelião urbana de escravizados no Brasil. O episódio, ocorrido há 190 anos, segue sendo lembrado em estudos, livros, blocos de carnaval, filmes e exposições de arte.
Estimativas indicam que cerca de 600 africanos participaram da revolta, o que, proporcionalmente, representaria cerca de 12 mil pessoas se considerarmos a população atual de Salvador. Mais de 70 pessoas morreram e cerca de 500 foram punidas com penas severas como morte, prisão e açoites.
O historiador João José dos Reis considera a revolta como "o levante de escravos urbanos mais sério ocorrido nas Américas", destacando a importância da organização dos revoltosos, especialmente os africanos muçulmanos, conhecidos como malês, que formaram a maioria dos envolvidos.
A revolta não foi apenas um ato espontâneo; de acordo com Clóvis Moura, o movimento foi planejado, contando com apoio de um fundo financeiro e reuniões secretas entre os escravizados.
Malês HojeA memória da Revolta dos Malês continua viva. Em 1979, o bloco afro Malê Debalê foi fundado em Salvador para homenagear os revoltosos. Em 2006, o livro "Um Defeito de Cor", de Ana Maria Gonçalves, narrou a história de Kehinde, personagem que participou da revolta e teve um papel importante na luta abolicionista como mãe de Luiz Gama.
Recentemente, o filme "Malês", estrelado e dirigido por Antônio Pitanga, estreou nos cinemas e retrata a insurreição de 1835. Além disso, a exposição "Eco Malês" está em cartaz em Salvador, com 114 obras que refletem a influência contemporânea da revolta.
A revolta, marcada para o 25 de janeiro (data do fim do Ramadã), foi antecipada por uma delação e gerou um conflito violento nas ruas de Salvador. Os líderes da insurreição, como Pacífico Licutã e Ahuna, foram uma mistura de africanos de diversas nações e escravizados urbanos.
A luta dos escravizados, além de política, foi também psicológica, refletindo o medo das classes dominantes diante da crescente organização dos negros e o exemplo da independência do Haiti, em 1804, onde escravizados conquistaram a liberdade e fundaram a primeira República negra das Américas.
Fonte: Agência Brasil