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DIREITOS HUMANOS

Militares envolvidos na morte de Rubens Paiva foram promovidos e elogiados

Documentos revelados pela Fiquem Sabendo mostram que cinco oficiais ligados ao assassinato do ex-deputado avançaram na carreira durante a ditadura

Da Redação

Terça - 08/04/2025 às 12:30



Foto: Reprodução/Montagem Selton Melo, Rubens Paiva e José Antônio Nogueira Belham
Selton Melo, Rubens Paiva e José Antônio Nogueira Belham

Mais de 50 anos após a morte do ex-deputado Rubens Paiva, novos documentos confirmam a impunidade do caso. De acordo com informações obtidas pela agência de dados Fiquem Sabendo por meio da Lei de Acesso à Informação, cinco militares mencionados pela Comissão Nacional da Verdade como envolvidos no assassinato foram promovidos e, em alguns casos, receberam elogios formais após o crime. As informações são do Metrópoles.

Rubens Paiva foi preso em 20 de janeiro de 1971 e levado para o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no Rio de Janeiro. Dois dias depois, ele foi dado como morto, e seu corpo nunca foi encontrado. Durante muito tempo, o Exército manteve a versão falsa de que ele teria sido resgatado por militantes armados durante uma transferência, uma tese desmentida por investigações e pela Comissão Nacional da Verdade.

Os documentos revelam os nomes de Freddie Perdigão Pereira, Rubem Paim Sampaio, Raymundo Ronaldo Campos, Jacy Ochsendorf e Jurandyr Ochsendorf, que, segundo as investigações, tiveram diferentes papéis no caso. Enquanto Perdigão e Sampaio participaram diretamente do interrogatório de Paiva, os outros três estariam envolvidos na ocultação do seu desaparecimento.

Os registros indicam que:

  • Freddie Perdigão Pereira foi promovido a major em 1974, três anos após a morte de Paiva. Mais tarde, ele se tornaria tenente-coronel e chegou a ser oficial de gabinete da Presidência da República.

  • Rubem Paim Sampaio ascendeu a tenente-coronel em 1975 e trabalhou como oficial de gabinete do ministro do Exército, sendo transferido para a reserva em 1976.

  • Raymundo Ronaldo Campos se tornou major em 1973 e alcançou a patente de coronel antes de se aposentar em 1984.

  • Jacy Ochsendorf foi promovido a 2º sargento em 1974 e subiu ao posto de capitão antes de se aposentar em 1996, após mais de 20 anos no gabinete do ministro do Exército.

  • Jurandyr Ochsendorf se tornou subtenente em 1976 e alcançou o posto de capitão antes de ir para a reserva em 1994.

Desses cinco, apenas Jacy Ochsendorf e Rubem Paim Sampaio não receberam elogios formais após 1971. Todos os outros foram elogiados em seus históricos funcionais, mesmo após o desaparecimento de Rubens Paiva.

Rubens Paiva, um parlamentar cassado durante o regime militar e defensor da democracia, ganhou notoriedade com o livro Ainda estou aqui, escrito por seu filho, o autor Marcelo Rubens Paiva, e pelo filme homônimo, estrelado por Fernanda Torres, que venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025.

A Fiquem Sabendo ainda aguarda acesso às fichas funcionais de dois outros envolvidos no caso: Antônio Fernando Hughes de Carvalho, acusado de torturas diretas, e José Antônio Nogueira Belham, então major e comandante do DOI, que é considerado responsável pelo desaparecimento de Paiva, já que sabia e consentia com as torturas no órgão.

Passados mais de 50 anos, o corpo de Rubens Paiva continua desaparecido e o Estado brasileiro ainda não responsabilizou criminalmente os envolvidos. No entanto, a certidão de óbito foi retificada, agora constando que sua morte foi "causada pelo Estado". O caso será julgado pelo Supremo Tribunal Federal, o que pode levar a novas decisões sobre crimes cometidos por agentes da ditadura.

Fonte: Brasil 247

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