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Deportado por Israel, Tiago Ávila denuncia cárcere e chama Netanyahu de "inimigo do mundo"

Ativista brasileiro retorna ao Brasil após ser detido durante missão humanitária rumo à Faixa de Gaza e relata ter sido mantido em cela escura e sem alimentação

Da Redação com informações do Brasil 247

Sexta - 13/06/2025 às 08:24



Foto: Reprodução/TV Band Tiago Ávila retorna ao Brasil e denuncia abusos sofridos após ser detido por Israel em missão humanitária
Tiago Ávila retorna ao Brasil e denuncia abusos sofridos após ser detido por Israel em missão humanitária

O ativista brasileiro Tiago Ávila desembarcou na manhã desta sexta-feira (13) no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, após ser deportado por Israel. Detido desde o último domingo (9), Ávila integrava uma missão humanitária com destino à Faixa de Gaza a bordo do veleiro Madleen, interceptado por forças israelenses em águas internacionais, no Mar Mediterrâneo. A embarcação, que levava ajuda coordenada pela Coalizão Flotilha da Liberdade (FFC), foi abordada a mais de 100 quilômetros da costa palestina.

No saguão de desembarque, Ávila foi recebido por familiares e cerca de 40 ativistas, que erguiam cartazes com críticas ao governo israelense e ao presidente Benjamin Netanyahu, além de exigirem que o Brasil rompa relações diplomáticas com o país. Os manifestantes também pediram uma postura mais firme do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diante da escalada do conflito em Gaza.

Durante entrevista coletiva, o ativista fez duras críticas a Israel, relatou os abusos que sofreu sob custódia e rechaçou ser visto como herói. 

A gente tentou o máximo que a gente pôde levar nossa missão humanitária e a gente foi impedido por um Estado racista, supremacista, que há oito décadas realiza limpeza étnica". “Não tem nada a ver com religião, tem a ver com ideologia, o sionismo. E esse sionismo precisa ser enfrentado.

Segundo Ávila, os ativistas detidos foram “sequestrados” e submetidos a pressões psicológicas para assinarem documentos em hebraico, nos quais admitiriam entrada ilegal em Israel. Ao se recusar, ele foi isolado em uma cela sem luz e sem ventilação por dois dias. “Eles ameaçaram me colocar no isolamento total, e foi o que fizeram. Foram dois dias lá dentro. Sofri um processo de violência, mas não quero falar muito sobre isso porque nada se compara ao que os palestinos enfrentam. Estamos lá por eles”, disse o ativista, que iniciou uma greve de fome em protesto.

Tiago Ávila e Greta Thunberg foram deportados por Israel após missão humanitária rumo a Gaza 

O veleiro Madleen, de bandeira britânica, havia partido da ilha da Sicília, na Itália, em 6 de junho, com destino a Gaza, transportando voluntários de diferentes nacionalidades. Entre os passageiros estavam a ativista sueca Greta Thunberg, deportada na terça-feira (11), e a deputada do Parlamento Europeu Rima Hassan (França). Também foram expulsos de Israel os cidadãos Mark van Rennes (Holanda), Suayb Ordu (Turquia), Yasemin Acar (Alemanha) e Reva Viard (França). Dois franceses, Pascal Maurieras e Yanis Mhamdi, seguem detidos na Prisão de Givon, com previsão de deportação ainda nesta sexta-feira.

Troca de farpas

Antes de retornar ao Brasil, Tiago Ávila passou por Madri, na Espanha. No trajeto de volta, manteve as críticas à ocupação militar israelense e cobrou medidas da comunidade internacional. “Por conta dessa ocupação, colocam crianças em prisão administrativa. O mundo felizmente acordou pro horror que é o sionismo e agora a gente precisa encontrar algum jeito, o que é que o mundo vai fazer para deter esse horror?”, afirmou.

Durante a semana, a esposa do ativista, Lara Souza, foi recebida pela secretária-geral do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha. Em nota oficial, o Itamaraty reiterou o apoio do Brasil ao Estado da Palestina, reconhecido desde 2010, e destacou o papel da UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos, cuja Comissão Consultiva será presidida pelo Brasil a partir de julho.

Israel deporta ativistas de sete países após interceptar barco com ajuda humanitária para Gaza - Israel Foreign Ministry/Reprodução

Tiago também criticou diretamente o governo dos Estados Unidos, aliado histórico de Israel, e voltou a cobrar um posicionamento mais incisivo do Brasil. “Os palestinos amam os brasileiros. Espero que a gente consiga honrar isso, que sejamos um país que não é cúmplice, que não exporte petróleo para lá”, declarou. “Eu tenho certeza que no coração de cada brasileiro está a convicção de que é errado bombardear hospitais, crianças. Precisamos deter esse regime odioso.”

Na quinta-feira (12), o Ministério das Relações Exteriores de Israel publicou uma mensagem irônica na rede social X (antigo Twitter), em tom de deboche aos ativistas: 

Adeus, e não se esqueçam de tirar uma selfie antes de partir 

Escreveu o perfil oficial, referindo-se ao grupo como tripulantes do “iate das selfies”. Ávila rebateu a provocação. “Não somos turistas. Somos aliados de um povo que está sendo massacrado”, afirmou o brasileiro ao deixar o aeroporto.

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Fonte: Brasil 247

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