Teresina (PI) - Teresina registrou três mortes violentas de pessoas LGBTQIAPN+, de janeiro até 12 de dezembro deste ano. Uma quarta morte, dessa vez de um estudante, está sendo investigada se teve motivação devido a sua orientação sexual. O Grupo Matizes denuncia que o estado é omisso e a transfobia da sociedade em relação às mortes violentas de pessoas dessa comunidade têm matado, espancado e marginalizado toda essa parcela da população.
“A omissão do estado e transfobia da sociedade mataram a Paloma, assim como mataram os outros LGBT, que foram assassinados brutalmente também em setembro”, diz Marinalva Santana, coordenadora do Matizes.
Segundo ela, a falta de políticas públicas eficazes para combater e prevenir os crimes vai provocar mais violência.
“Por isso, nós temos cobrado do poder público a implementação de políticas públicas efetivas para coibir essa violência e para garantir a cidadania da população LGBT do nosso Estado. São mais de 300 mil pessoas que ficam à mercê, que são ignoradas pelo Estado, que são deixadas de lado todos os dias”, disse Marinalva.
Entre as políticas públicas importantes para a inclusão ela destaca a educação, especialmente para as travestis e trans, que, muitas vezes, não têm a sua identidade de gênero respeitada, são discriminadas pela comunidade escolar, professores e equipe pedagógica, por isso, a necessidade de uma formação continuada de servidores públicos.
Outra política importante é na área de empregabilidade. O Rio Grande do Norte, por exemplo, recentemente, adotou que fosse determinado um percentual de vagas nas empresas terceirizadas contratadas pelo estado para pessoas trans, que não conseguem acessar o mercado de trabalho.
“A Paloma é um exemplo, ela estava há três meses sem usar drogas e estava à procura de um emprego. Infelizmente essas políticas não existem no nosso estado e terminam em fatos como esses, como a Paloma e as duas mortes em setembro”, afirma Marinalva.
SETEMBRO – No dia 23 de setembro, o cabeleireiro Rivaldo de Sousa Barreto, 38 anos, deu entrada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
Rivaldo foi espancado na Vila da Paz e apresentava escoriações no rosto e por todo corpo. No dia 24, ele não resistiu aos ferimentos e morreu.
No dia 16 de setembro, uma travesti identificada como Samara Amaral foi executada a tiros no bairro Parque Alvorada, zona Norte de Teresina.
Ele morreu com seis disparos de arma de fogo quando tentava fugir dos criminosos.
NOVEMBRO – O Grupo Matizes está investigando a orientação sexual do estudante Marcos Vinicius da Costa Barros, de 17 anos, que foi assassinado a tiros na Unidade Escolar Professor Antônio Tarcísio, localizado no bairro Santa Bárbara, na zona Leste de Teresina.
Há indícios que a sua morte tenha sido mais um crime homofóbico.
DEZEMBRO – No dia 6 de dezembro, a travesti Paloma Silva deu entrada no Hospital de Urgência de Teresina com sinais de espancamento na cabeça.
No dia 10, Paloma não resistiu aos ferimentos e morreu. Em 2021, ela foi amarrada e espancada dentro do porta-malas de um carro.
1º BOLETIM DE DADOS DA VIOLÊNCIA
Em setembro deste ano, a Secretaria de Segurança Pública do Piauí lançou o Boletim de Dados de Violência Contra as Pessoas LGBTQIAPN+ do Piauí, onde traz o perfil das vítimas que morreram em 2022.
Foram quatro mortes violentas, sendo a maioria de pessoas negras (pardas/pretas) e jovens entre 15 e 29 anos. Foram três homicídios e um transfeminicídio, demonstrando também um racismo estrutural com as vítimas.
É a primeira vez que este tipo de estudo é feito por órgãos do estado.