A Academia Piauiense de Letras faz sessão especial em Floriano e aproveita para ver, de dentro, a cidade maior do médio rio Parnaíba. E viu que se trata mesmo de um centro citadino bem articulado com a meso regionalidade que polariza. Relembremos.
A implantação colonizadora europeia no interior deste continente se deu subindo e descendo rios. Deu-se lavrando ribeiras e abrindo caminhos para dentro. Caminhos e passagens de rios, riotes e riachões.
Quanto ao Piauí, o referido “rio grande”, torna-se o eixo organizador de sua unidade econômica e vetor de prosperidade. Piauí que se define histórica e geopoliticamente como a margem direita lavrada de sua bacia. Claro, com os rios mansos e arborados de sua afluência. E em tudo subjugando/jugulando/afastando a humanidade que aqui pousava.
O lado direito do Parnaíba logo buscou o esquerdo e, e nas passagens do rio, lugar de maiores demoras, ergueram-se clareiras, que são o útero a fecundar várias cidades. Por volta do ano de 1800, as duas margens do Parnaíba já se encontravam unidas por várias povoações-passagens. Somente em seu curso médio e alto: Passagem dos Veados, da Manga, Bom Jardim, São Francisco, Queimadas, Santo Antonio, Estanhado...
A Passagem do Bom Jardim é a célula original de Floriano e Barão de Grajaú. Na ribeira direita, Bom Jardim é lugar-cabeça de sesmaria, 1762, na “Chapada da Onça”. Cento e dez anos depois, 1873, junto a essa póvoa de origem colonial-curraleira, uma impactante novidade que mudará o lugar: ergue-se, junto ao rio, o Estabelecimento Rural São Pedro de Alcântara, escola pública imperial, intencionada na educação de nascidos do “ventre livre”. Na linguagem popular, Colônia de São Pedro, que se enramou ao lado esquerdo.
Essa iniciativa acelerou mudanças na localidade: em 1890 se torna sede da municipalidade; em 1897, 8 de julho, obtém o título honroso de “Cidade Floriano”, hoje havida como data magna na cultura cívica local. Não somente a iniciativa escolar: o início, no mesmo contexto, da navegação a vapor pelo rio Parnaíba, potencializara a expansão dos tratos comerciais de toda a bacia. Tudo se dinamiza: o arredor da sede do Estabelecimento ganha casario residencial e comercial.
Comparada com outras cidades piauienses, Floriano, grande entreposto de negócios, abrirá as cortinas do século XX já uma urbs com muitos sinais de cosmopolitismo. Exemplo: apenas quatro anos da entrada no circuito comercial europeu, as fitas cinematográficas são também exibidas em Floriano. Já na primeira década do Novecentos tem hospital fazendo cirurgia mais complexa etc.
A presença da APL na cidade permite, a quem dela participa, conferir sinais da cidade 2023, a exemplo da mega Cidade Cenográfica, governada pelo grupo cultural Escalet, com forte apoio estatal; a Albeartes; os espaços culturais Maria Bonita e Estabelecimento Rural; o Floriano Club; a Escola Municipal Padre Pedro; Fundação Sobral Neto; Fundação de Ensino Superior Elza e Elda Bucar.
Acadêmicos da APL e da Albeartes plantam árvores na avenida Beira Rio, compartilham lançamento de um livro, feito por Aci Campelo, no e sobre o Teatro Escalet e seus protagonistas. Na unidade Padre Pedro, uma demonstração de escola básica no caminho da oferta qualificada do ensino básico. No centro de memória da Fundação Sobral Neto há um acervo de fotografias de fazer inveja a qualquer outra cidade; um verdadeiro museu de variedades, entre objetos e outras formas de registro da vida e sociabilidades florianenses.
Além do Teatro do Escalet, e do Teatro-Sala Maria Bonita, em franca utilização, o espaço do antigo Estabelecimento encontra-se arruinado e deve ser mais uma vez recuperado e ter vida, isto é, aproveitado pelo Serviço Público, com adequadas atividades. Trata-se de marco estruturante em pedra e cal da cidade. E não somente: ele foi idealizado pensando no futuro. E esse futuro é o presente momento.
Ponto alto de tudo, a sessão magna da APL/Albeartes, dia 16, no Floriano Club. A intelectualidade local, acorre. APL e Albeartes em opas. Discurso e poesia. Jônathas Nunes oferta à cidade um livro de memórias.
Vale dizer que Cristóvam Augusto é um mobilizador cultural louvável. E o prefeito Reis Neto coloca entre seus afazeres principais acompanhar todos os atos da Visita. Salve a Floripa do Bom Jardim. Das delícias?