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Razões para guardar a água


Dia mundial da água

Dia mundial da água Foto:

Desde que me dispus a expor ideias sobre variados temas a água – ou recursos hídricos, como mais usualmente se diz na área técnica – tem sido um mote recorrente em meus escritos. Tendo sido ontem o Dia Mundial da Água, mais uma vez este parece ser um assunto para mais uma abordagem, não nova, mas necessária, porquanto tenho manifestado a preocupação em que nosso Estado se disponha a ter nas suas águas estoques futuros de um patrimônio fundamental para nosso progresso socioambiental e econômico.

O Piauí tem boa parte de seu território no semiárido, onde o bioma Caatinga, com sua vegetação adaptada à rudeza climática e a permanente déficit hídrico, é indicador de que, sim, podemos e devemos nos espelhar nessa magnifica capacidade da região de viver com menos água que a maior parte do país. E nisso temos lições apreendidas, mas ainda muito o que aprender.

Tomo o semiárido e a Caatinga por exemplo porque nos últimos dias não têm sido poucas as notícias sobre a abundância de chuva na região do Piauí coberta por esse clima e esse bioma. Possivelmente, neste ano poderemos ter o registro de chuvas além da média histórica para essa região, que, apesar de sua condição climática, tem capacidade para uma boa estocagem de água – com uso de tecnologia que reduza a evaporação e, consequentemente, a redução de estoques hídricos para os períodos de estiagem.

Reside exatamente neste ponto o cerne da abordagem que trago à baila, e não pela primeira vez, posto que já citei o tema em outras ocasiões e textos: a abundância de chuvas registradas na região semiárida do Piauí nos últimos anos poderia e deveria ser alvo de um bem desenhado sistema de armazenamento, com a construção de mais barragens, baseadas em estudos de hidrologia que permitissem maior capacidade com menor perda por evaporação.

É cabível que o governo, em conversações com a sociedade, o que inclui organizações sociais, empresas e a academia, foque na construção de um plano de longo prazo de melhor uso dos recursos hídricos, com mais armazenagem, recuperação de nascentes no semiárido e outras áreas do estado, acesso a tecnologia de irrigação com maior produtividade e menor consumo de água.

O ponto fundamental, porém, segue sendo a armazenagem de água, considerando dois aspectos. O primeiro é o fato de que a abundância de chuvas acima da média histórica não é para sempre, mas um ciclo que certamente será interrompido pela ação de sistemas climáticos globais e o segundo é, em longo prazo, a ação do aquecimento global sobre nossa região, com mais calor e, claro, mais perdas hídricas.

Precisamos estar prontos para essas excepcionalidades, com estudos, planejamento e execução de medidas mitigadoras das ações do tempo e do clima sobre nossa vida e nossa economia. Não se trata aqui de uma constatação de agora, mas de lições anteriores a nós, uma delas bíblica, apreendida na leitura de José no Egito: sabedor da abundância de chuvas que garantiam boa colheita, seguida pela seca que dizimaria as safras e os rebanhos, ele aconselhou o faraó a fazer estoques que garantissem a comida nos tempos de escassez.  Temos que fazer o mesmo com nossa água.

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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