Um ditado africano nos ensina que quando um homem morre, queima-se uma biblioteca. Penso que assim posso definir a perda de meu bom amigo Paulo James Andrade. Mas muito mais que seus conhecimentos, seu silêncio permanente faz calar em todos nós o sorriso que ele nos permitia. Sua presença era a alegria personificada, a grandeza de alma, um certo que de luz sempre positivamente acesa.
Havia no Paulo James o transbordamento persistente de alegria e de virtudes que o fizeram uma pessoa especial para tantos quantos o conheceram. Todos evidentemente tomados por luto em razão de sua partida, todos tendo um pedaço de si e de suas experiências vividas levadas pelo amigo que agora está para sempre silente.
O que poderia haver de tão especial em um homem aparentemente comum, do tipo de que frequenta os amigos tão-somente pelo prazer da companhia, da conversa, do compartilhamento de prazeres à mesa? Muitos poderão dizer que nada de especial se pode ter em coisas tão prosaicas, tão frugais. Porém, num mundo em que as pessoas estão próximas por telas e cada vez mais distantes fisicamente, quem nos recebe com sorriso real e sincero faz, sim, uma enorme diferença. Eis uma virtude do Paulo James.
Sou testemunha disso. Não conto as ocasiões em que me encontrei com ele, em ocasiões sociais ou em restaurantes, e para mim mesmo dizia que aquela era uma sorte, porque haveria uma boa conversa de nosso encontro. Foram muitos, foram incontáveis boas conversas – algumas só agradáveis porque nos faz bem falar com pessoas positivamente boas; outras carregadas de ensinamento, mas sempre boas conversas.
Tantas vezes o encontrei e sempre cercado de amigos – uma característica de sua positividade: tinha enorme facilidade em fazer e preservar amizades, essa última parte mais difícil, porque requer que a pessoa elimine de si os interesses e que se mova com a mesma naturalidade entre pessoas de diferentes categoriais sociais e econômicas. Outra virtude de Paulo James: para ele, amigo era amigo e ponto final.
Essa capacidade de enxergar os amigos para além das diferenças era uma grandeza de Paulo James, que construiu em si a figura de uma pessoa incapaz de expressar sentimentos negativos. Se estava bem, sorria e espalhava sorriso; se não estava bem, mantinha a postura alegre talvez porque se guiasse por palavras como as de Vinicius de Moraes: “É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração”.
É bem possível que essa iluminação transbordasse no coração do Paulo James, o que a gente pode notar por uma característica própria dele: aonde quer que estivesse, sempre compunha uma mesa cheia, farta de tudo, sobretudo de alegria, que traz desde sempre, no exercício de seu mister enquanto engenheiro eletricista que trabalhou na Cepisa e de lá saiu para se tornar um pioneiro empreendedor piauiense na produção de cabos elétricos. Inovador e determinado, fez acontecer o que de bom e necessário se deveria fazer.
No percurso de vida pessoal e profissional, espalhou coisas boas, gerou admiração e respeito, foi determinante na vida de pessoas das mais variadas posições sociais, econômicas e culturais. Cito aqui as palavras muito carinhosas e verdadeiras do Chico, do Restaurante Dona Maria, um empreendedor vitorioso em nossa cidade, ao falar do Paulo James:
“Quando você chegava perto de todos nós as coisas clareavam, o sol abria, e tornaria abrir, pois você também ensinou, além de generosidade, a ter esperança. Em cada pedacinho onde nós andamos tem sua pisada e seu exemplo de melhor amigo do mundo para nos guiar”.
Seguimos em frente, com parte de nós indo embora com o Paulo James, mas como bem disse o Chico, tudo o que ele fez segue imortal em nós outros que ficamos. O legado que ele deixa estará espalhado e vivo.
Álvaro Mota
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