Olhe Direito!

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Nosso fazer sertanejo

Todos nós trazemos um fazer sertanejo na nossa alma piauiense, muito impregnada pelos tipos sertanejos, os que lidam com o gado bovino desde tempos imemoriais.

Alvaro Mota

Quinta - 17/09/2020 às 13:00



Foto: Tyba Sertanejo
Sertanejo

Todos nós temos muito dos nossos antepassados familares ou não. A gente herda a cultura mais próximas, de pai e mãe, de avós e tios, de contraparentes e parentes afins. Mas e de onde eles trazem essa cultura que a gente absorve sem mesmo saber? Acredito que de uma longa experiência repassada por tipos piauienses os mais variados, como os vaqueiros, as doceiras, os quitandeiros espalhados pelo Piauí afora.

Todos nós trazemos um fazer sertanejo na nossa alma piauiense, muito impregnada pelos tipos sertanejos, os que lidam com o gado bovino desde tempos imemoriais. Nessa pegada, a gente tem uma riqueza cultural sobre a qual a gente nem se dá conta e que, ironia das ironias, pode se perdem sem que a gente se dê conta disso.

Quantos dos nossos filhos e sobrinhos ou netos mesmos sabem sobre as nossas comidas ou sobre danças típicas ou ainda sobre as artes manuais que foram conservadas na tradição oral, passada de geração a geração e que, justamente na geração que mais acesso a informação tem, pode se perder porque não se transmite esses nossos fazeres sertanejos ou porque eles não estão devidamente registrados.

Sem que o imaginário se registre ou se torne sólidos, há o risco de morte aos fazeres sertanejos. Os pratos mais comuns no semiárido, herdados de gerações remotas de piauienses, vão-se tornando uma raridade.

 quem olhe para certos preparos alimentícios e veja neles “exotismo”, numa leitura errada do que seja exótico, termo que entre nós virou sinônimo de estranho ou curioso, mas que em verdade significa o que nos é estranho por ser de fora de nosso meio. Assim, panelada, sarapatel ou pintado, três caldeiradas típicas do nosso fazer sertanejo, não podem jamais ganhar uma identidade de exótico. O que é exótico numa mesa piauiense é um filé ao molho madeira, mas de tão presente, parece que é coisa nossa. Não é.

Nossas coisas, o nosso fazer sertanejo, está é nos doces típicos de leite ou de cajuí, nas já citadas caldeiradas – e abro parêntese para citar de novo o pintado, que resulta do cozimento de milho, feijão e partes de porco. É parte de nosso fazer típico, portanto não exótico, o talho da carne de sol ou o desossar do carneiro ou do bode para uma boa salga da carne; é o típico fazer sertanejo a maria-izabel com o arroz macio e molhado, servida fumegante, com um ovo de galinha caipira sobre o prato; e já que se fala em galinha caipira, esteja a criação dela e do capote, bem assim seu preparo, incluídos em lugar de honra nos nossos fazeres sertanejos.

Dizer sobre o que somos requer gostar dessa nossa identidade, incluindo nossa fala e nossos sotaques. Fazer disso orgulho, conservar essa cultura para a preservação de nossa essência, do que a gente verdadeiramente é.

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.

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