
O ano de 2020 vai ficar em nossas memórias pela quantidade de saudades deixadas em meio a uma crise de saúde que nenhum de nós gostaria de vivenciar. A última dessas saudades se chama Gerardo Juraci Campelo Leite, 88 anos, falecido na segunda-feira, vítima da doença causada pelo novo coronavírus.
Juraci parte pouco tempo depois de sua esposa, Jandira Lopes Campelo Leite, falecida em junho, e menos de três meses após a morte daquele que, seguramente, era seu maior amigo, João Claudino Fernandes. Três saudades em tão pouco tempo!
Antes de ser o deputado estadual Juraci Leite, presidente da Assembleia Legislativa, governador interino do Piauí, o político conciliador que nunca se exasperava, ele era o dentista que percorreu boa parte do estado para exercer seu mister e foi nessa jornada que se tornou amigo de minha família.
Quando criança, frequentei a casa do dr. Juraci, participando de alguns aniversários de família, porque meu pai residiu no mesmo endereço que ele, em Batalha(PI). Papai sendo o juiz da comarcar, Juraci Leite exercendo a Odontologia. Daí surgiu uma grande amizade, que se manteve mesmo após a morte de meu pai. Aliás, ter um amigo de seu pai te orientando após você ficar órfão é um refrigério. Deu-se isso na minha relação com Juraci Leite.
Tenho boas lembranças de Juraci Leite nas conversas na casa da professora Nerina Castelo Branco, outra grande amiga de minha família. Era homem atento, de ouvir mais e falar menos, mas de falar o que era certo, na hora certa. Isso fazia dele um pacificador, sempre disposto a propor a prática de uma das maiores sabedorias humanas: um mau acordo é sempre melhor que uma boa briga.
Ser conciliador exige bem mais que as qualidades de ouvir mais. Requer que quem ouve seja capaz de dialogar com facilidade com quem quer que seja. Eis outra virtude de Juraci Leite: sua capacidade de entabular uma boa conversa, buscando alinhar os extremos, contemporizar os antagonismos, propor soluções viáveis ou melhor aceitáveis para as pessoas.
As virtudes de estar sempre usando o diálogo, de ouvir muito, de acolher a todos, de contemporizar podem e devem ter sido componentes essenciais de seu êxito na política, como deputado estadual durante 34 anos – entre 1982 e 2014, ano em que se retirou da política para ser somente o cidadão bom e cordato que sempre foi e que agora, em nossas memórias, vira saudade e exemplo.
