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Ano para esquecer?


Ano novo

Ano novo Foto: Divulgação

Quase 30 anos atrás, em 1992, ficou popular uma expressão em latim escrita pela rainha da Inglaterra, Elizabeth II: “annus horribilis”. Usada ela primeira vez em 1891, em um texto anglicano que refutava o dogma católico da infalibilidade do papa, esta é a expressão que parece ser a mais adequada para nós usarmos numa definição neste ano de 2020, que fecha uma década e abre espaço para mais dez anos em nossas vidas.

Quando fez uso da expressão, a soberana do Reino Unido da Grã-Bretanha disse o seguinte: “1992 não é um ano o qual hei de lembrar com extrema felicidade. Nas palavras de um de meus correspondentes mais compreensivos, acabou sendo um “annus horribilis.”.

O ponto, portanto, é de lembrança e não do esquecimento. A rainha argumentou que não iria se lembrar do ano com alegria, mas iria lembrar-se dele porque haviam ocorrido coisas das quais não tinha razão para gostar – todas elas no âmbito de sua família, o que não vem ao caso rememorar aqui, porque o propósito dessa lembrança é de nos guiar para a resposta à pergunta do título deste texto.

É bastante razoável que a gente responda, logo de cara, ao questionamento proposto: sim, o ano é para lembrar. Esquecer 2020, como a qualquer outro ano, não é plausível nem uma ideia que deva ser sequer considerada.

É claro que, como aconteceu com a rainha da Inglaterra, o mundo inteiro não haverá de lembrar-se de 2020 com extrema felicidade, talvez sem felicidade alguma. Mas é sempre aconselhável que a gente busque por lembranças as melhores possíveis. É bom também que a gente tente guardar na memória toda uma fase ruim, porque erros e problemas podem nos guiar a um aprendizado, a meios para conviver com as dificuldades. Sobreviver a 2020 nos fez e nos fará mais fortes.

É claro que essa afirmativa parece simples, óbvia, mas muitos de nós tendem a considerar que um ano como esse, em que mais sobrevivemos que vivemos, é para ser esquecido. O esquecimento poderia nos purgar do sofrimento passado, poupando-nos ainda das agruras de lembranças ruins no futuro. Porém, não é razoável que nos esqueçamos de um ano somente porque foi ruim. De onde tiraremos lições e forças para seguir adiante se não no padecimento passado?

Temos que lembrar de 2020, último ano de década com anos igualmente ruins, mas dos quais, frise-se, podem sempre ser tiradas lições

Findamos uma década em um ano difícil, estamos vivos, bem e dispostos a seguir em frente. Assim, será também preciso agradecer pelo que houve de bom, pelas lições apreendidas. E as lições não foram poucas, bastando que cada um de nós olhe em volta para obtê-las, o que inclui desde solidariedade e união de nossas famílias, por exemplo, até o avanço muito célere da ciência médica em busca de uma terapia capaz de livrar o mundo da sombra ameaçadora de uma pandemia.

Ante tudo isso, face a impossibilidade do esquecimento, talvez seja bom propor que os tempos futuros sejam encarados com uma outra expressão em latim: “carpe annus” ou aproveite o ano!

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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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