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100 anos de dois grandes homens

Dirceu Arcoverde morreu cedo, 16 de março de 1979, aos 53 anos – o que nem de longe o impediu de escrever bem sua biografia

Alvaro o Mota

Quinta - 23/01/2025 às 10:04



Foto: Reprodução/Wikipédia Petrônio Portella e Dirceu Arcoverde, 100 anos de dois grandes homens
Petrônio Portella e Dirceu Arcoverde, 100 anos de dois grandes homens

Neste ano de 2025, dois grandes piauienses fazem 100 anos de nascido: Dirceu Mendes Arcoverde (7 de setembro de 1925) e Petrônio Portella Nunes (12 de setembro de 1925), nascidos no mesmo mês, com somente cinco dias de diferença, em duas cidades históricas do Piauí, Amarante e Valença, contemporâneos na política, ambos governadores e senadores.

Os 100 anos desses dois piauienses certamente serão alvo de algum tipo de justas celebrações. Tomo para mim a primazia de lembrar deles já no começo do ano se seus centenários, porque como um homem com pouco mais de 50 anos, era jovem quando ambos partiram, mas trago deles algumas lembranças, por suas obras políticas e suas vidas pessoais bastante ligadas a Teresina a partir de minha experiência pessoal.

Dirceu Arcoverde morreu cedo, 16 de março de 1979, aos 53 anos – o que nem de longe o impediu de escrever bem sua biografia na condição de médico, professor, secretário da Saúde do Piauí, na gestão do ex-governador Alberto Silva (1971-1975), de quem foi sucessor no Palácio de Karnak (1975-1978), de onde saiu para concorrer ao Senado, sendo eleito com ampla votação.

Dirceu formou-se médico pela Faculdade de Medicina da hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro – depois cursar os estudos básicos em Belém (PA) e no Rio. De volta ao Piauí, tornou-se professor da Escola Normal e também da Faculdade de Medicina, que seria um dos pilares da institucionalização da Universidade Federal do Piauí.

Escolhido secretário da Saúde do Piauí, num tempo em que a ação preventiva do Estado era uma política pública quase inexistente, pautou-se por esse diapasão, o que saúde se faz com profilaxia. Quando governador, mirou neste rumo ao promover uma ampliação dos sistemas de abastecimento de água para todo o Estado, como nunca antes se tinha feito no Estado.

As obras de captação, tratamento e distribuição de água feita sob a administração de Dirceu Arcoverde foram importantes para garantir o acesso dos piauienses à água tratada pelo menos por duas ou mesmo três décadas após a saída dele do governo do Piauí, em 1978.

Dirceu é tributário do grupo político liderado por Petrônio Portella, seu conterrâneo e contemporâneo – o mais influente político do Piauí em todo o século XX, advogado, conhecido pela habilidade política e pelo que se hoje se chamaria de “low profile” quando se trata de negociar politicamente.

Petrônio Portella é sempre visto pelos críticos por seu apoio ao regime autoritário que se instalou no Brasil em 1964, ao qual se opôs inicialmente, mas do qual se aproximou a ponto de tornar-se um dos seus formuladores orgânicos a partir de 1974, quando a morte de Filinto Müller fez dele o dirigente máximo do partido governista Arena (Aliança Renovadora Nacional).

Essa condição o alçou à Presidência do Senado e rendeu-lhe uma influência sem precedentes para um político do Piauí no cenário nacional, a ponto de seu trabalho de aproximação entre o governo e oposição, unida no Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, ter sido batizado com seu nome: Missão Portella.

Morto aos 54 anos, em 6 de janeiro de 1980, quando ocupava o Ministério da Justiça do presidente João Figueiredo (1979-1985), Petrônio Portella legou ao país uma Lei de Anistia que permitiu a volta de políticos exilados para uma retomada vigorosa da democracia, o que se daria cinco anos após sua morte, em 1985, com a eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República, um destino que muitos diziam estar fadado ao político piauiense se a morte não o tivesse alcançado antes.

Os centenários desses dois homens piauienses, importantes para o Estado por suas ações, podem e devem ser lembrados e festejados. Nascidos no mesmo ano e mortos em lapso de tempo inferior a um ano, precisam ser lembrados em seus legados de trabalho pelo Piauí e o país.

Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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