Filosofia de Vida

Uso das redes sociais pode levar a manipulação de consumo e massificação de gostos


Redes sociais

Redes sociais Foto: Getty Imagens

Não é uma novidade que as redes sociais afetam o comportamento de quem as consomem. Inclusive, diversos estudos já comprovam que o uso exagerado e alienado à realidade pode trazer inúmeros prejuízos não apenas emocionais como físicos. Um exemplo é a pesquisa realizada pela Royal Society for Public Health, no Reino Unido em parceria com o Movimento de Saúde Jovem que constatou que o Instagram é uma das redes sociais mais nocivas do mundo, afetando o sono, a autoimagem e a percepção de acontecimentos. Facebook e Snapchat vieram logo em seguida.

O filósofo, escritor e estudioso do tema Fabiano de Abreu aponta que a vida nas redes se assemelha a uma encenação, onde a ostentação e a venda de uma vida perfeita levam à manipulação dos usuários. "As redes sociais engoliram de vez a mídia televisiva, e a tendência é que engula as pessoas também, em especial pela característica de controle e influência onde modas temporárias de vestimenta, consumo e comportamento se tornam referência mundial rapidamente", analisa.    

Um exemplo de consequência que migra das redes para a vida real é o consumismo exagerado, que tem como principal aliado a base de dados que dita o comportamento dos usuários. "Sofremos devido ao bombardeamento de propagandas de empresas que nos conhecem extremamente bem. Eles possuem todos os nossos dados e com os nossos desejos em mão, nos oferecem constantemente, mais e mais opções para que possamos comprar, comprar e comprar", aponta Fabiano de Abreu.

Além de provocar a impulsividade, esse consumismo pode levar ao endividamento, já que a vida financeira está baseada não no que se precisa, mas na ansiedade de consumir o que as redes dizem que você precisa. "Tem muita gente passando por uma crise horrível, mas não perde a oportunidade de ostentar vida boa nas redes sociais. Esses são exemplos de indivíduos que já estão imensamente embaraçados na trama toda e que se tornaram peças facilmente manipuláveis das redes", aponta.

Consumir por gosto ou por influência?  
A era das redes sociais também levanta a pauta dos gostos pessoais, já que estes podem ser apenas um reflexo do que se consome nos aplicativos e não um resultado da personalidade. "O que você veste condiz com quem você é? O fast-fashion é o melhor exemplo sobre padronização de gostos. A moda chega mais rápido ao consumidor final e nas redes sociais elas funcionam como uma espécie de cartel que monopoliza o que será tendência para os próximos meses e todo mundo usa a mesma coisa", reflete o filósofo.

E não é apenas o consumismo de bens que as redes podem influenciar. De acordo com Fabiano de Abreu músicas também podem seguir a mesma lógica. "Hoje em dia existem os hits comerciais que viram sucesso em questão de minutos, basta encaminhar em massa para aplicativos de mensagens ou redes sociais. Passamos a viver como se todos tivessem que cantar e escutar os mesmos estilos musicais para pertencer a um grupo", aponta.

Porém, mais que a massificação de gostos, a preocupação do escritor é quanto a apatia do indivíduo que não dá um tempo para refletir sobre seus consumos e preferências. "O mais preocupante é que desde que o mundo é mundo seguimos aceitando ser manipulados como uma máquina e de uns tempos para cá, essa manipulação ficou mais evidente. Mesmo que inconscientemente entramos em um sistema de influência, no qual os gestores das plataformas digitais e da mídia em geral são responsáveis por selecionar e filtrar o que será consumido pela grande massa. São eles quem determinam o padrão a ser seguido", preocupa-se Fabiano.

Segundo Fabiano, isso é um sinal de que a estratégia da indústria está sendo efetiva. A publicidade é construída para manipular o indivíduo a pensar que é ele quem escolhe o que está consumindo, sejam informações ou bens. "Já se deu conta que quando você pega o seu celular só aparecem as coisas que, ou você acabou de pesquisar no Google ou que se tornou viral e todos estão vendo? Ou seja, as informações são selecionadas e apresentadas a partir das pesquisas que fazemos e do que a massa está vendo", defende.

O que para muitos parece uma facilidade ou até mesmo uma demonstração de eficiência da internet, é na verdade apenas uma manipulação de rede. "Alguns ficam cismados e percebem a forte manipulação e a influência que sofrem. Mas apenas uma minoria entende que as grandes potências mundiais estão no controle de praticamente tudo e possuem o máximo poder. Elas têm todas as informações sobre nós, assim como os dados necessários para estabelecerem uma real influência e controle sobre o que vamos consumir, principalmente sobre as notícias que serão divulgadas", analisa Fabiano.
 
É possível falar em democratização da mídia?


Ao mesmo tempo que deram voz e audiência para pessoas comuns, as plataformas digitais também democratizaram a comunicação para pessoas mal intencionadas que usam do poder da comunicação em benefício próprio e de forma irresponsável. Eis o nascimento das famosas "Fake News".

O filósofo Fabiano de Abreu usa como exemplo a plataforma Youtube, que segundo ele trouxe à tona a "era dos especialistas". "O problema é que nem sempre essas pessoas têm formação suficiente para tal. Dentro das redes sociais, por onde olhamos, sempre existirão os que 'sabem tudo' sobre qualquer assunto. Basta digitar a palavra-chave na ampulheta de pesquisa e surge algum vídeo de 'alguém' nos ensinando o passo a passo", aponta.

Mas não apenas de desinformação vive a plataforma. O Youtube também possibilitou que muitas pessoas realmente capacitadas pudessem promover estudos sérios e trabalhos honestos. "Em todos os setores da vida, assim como em tudo que o homem cria, há o lado positivo e o lado negativo, por isso, precisamos ficar atentos. A manipulação das redes sociais é evidente, e manda quem possui maior poder e sabe utilizá-las", conclui.

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Fabiano de Abreu

Fabiano de Abreu

Prof. Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues é PhD em Neurociências; Doutor e Mestre em Ciências da Saúde nas áreas de Psicologia e Neurociências; Mestre em Psicologia; Mestre em Psicanálise com formações em neuropsicologia, licenciatura em biologia e em história, tecnólogo em antropologia, pós graduado em Programação Neurolinguística, Neurociência aplicada à Aprendizagem, Psicologia Existencial Humanista e Fenomenológica, MBA, autorrealização, propósito e sentido, Filósofo, Jornalista, Especialização em Programação em Python, Inteligência Artificial e formação profissional em Nutrição Clínica. Atualmente, é diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito; Membro ativo da Redilat - La Red de Investigadores Latinoamericanos; Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, Professor e investigador cientista na Universidad Santander de México, diretor da MF Press Global, membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e da Society for Neuroscience, maior sociedade de neurociências do mundo, nos Estados Unidos. Membro da FENS, Federação Européia de Neurociências; Membro da Mensa International, Intertel e Triple Nine Society (TNS), associação e sociedades de pessoas de alto QI, esta última TNS, a mais restrita do mundo; especialista em estudos sobre comportamento humano e inteligência com mais de 100 estudos publicados.
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