O pesquisador Luciano Andrade Moreira, da Fiocruz, acaba de ser apontado pela Nature — uma revista científica interdisciplinar britânica, reconhecida por publicar pesquisas de alto impacto que orientam o avanço global da ciência — como um dos cientistas mais influentes do mundo em 2025. A escolha destaca o trabalho que ele lidera há mais de 15 anos no combate às arboviroses, com o desenvolvimento do Método Wolbachia — técnica que infecta o Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, capaz de reduzir a transmissão da dengue, zika e chikungunya. A técnica consiste em infectar o mosquito transmissor, Aedes aegypti, com a bactéria Wolbachia, um microrganismo natural em cerca de 60% dos insetos do planeta.
Em 2009, Moreira e sua equipe publicaram um estudo mostrando que mosquitos infectados com Wolbachia têm muito menos chance de transmitir vírus como os da dengue, zika e chikungunya. A explicação — ainda em investigação — é que a bactéria pode “disputar recursos” com os vírus ou estimular respostas antivirais no mosquito, dificultando a replicação viral.
O Brasil, porém, vive um cenário de recorrentes epidemias de dengue, agravadas pela urbanização acelerada, pelas mudanças climáticas e pela dificuldade de manter ações contínuas de prevenção. Em vários estados, surtos recentes colocaram hospitais em alerta e pressionaram redes municipais de saúde. As altas temperaturas e a irregularidade das chuvas favoreceram a expansão do mosquito, fazendo da doença uma ameaça anual, que volta com força a cada verão. Esse contexto reforça a urgência por soluções inovadoras e sustentáveis — e explica o peso que o trabalho de Moreira ganhou nos últimos anos.
Para levar a descoberta ao campo, Moreira coordena uma grande biofábrica em Curitiba (PR), resultado de uma parceria entre a Fiocruz, o Institute of Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e o World Mosquito Program (WMP). Lá, os pesquisadores produzem milhões — agora com escala crescente — de ovos de mosquitos “wolbitos”, que são liberados em áreas urbanas.
O grande ganho desse método está no fato de que a Wolbachia é transmitida de mãe para filhos: uma vez que os mosquitos infectados se reproduzem com os da população local, a bactéria se espalha naturalmente pelas gerações, tornando o efeito duradouro — sem necessidade de novas liberações contínuas. Com essa combinação de pesquisa de ponta, biotecnologia e ações de saúde pública, o trabalho de Moreira foi incluído em 2025 na prestigiada lista “Nature’s 10”, que aponta os dez nomes que mais influenciaram a ciência no ano.
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