Senadores reagiram com palavras fortes ao anúncio do presidente da República, Jair Bolsonaro, de que pediria que o Ministério da Saúde desobrigue o uso de máscaras sanitárias para cidadãos que já foram vacinados contra a covid-19 ou que já tiveram a doença. Os parlamentares classificaram a ideia como “imbecil” e “criminosa” e afirmaram que ela se baseia em “mentiras”.
Líder da oposição e vice-presidente da CPI da Pandemia, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) destacou que a proposta aparece quando o Brasil se aproxima da marca de 480 mil mortos devido à pandemia. Ele lembrou que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ex-ministro dessa pasta Eduardo Pazuello afirmaram à CPI que Bolsonaro não interfere nas políticas de saúde pública. Mas a iniciativa do presidente, segundo o senador, mostra que isso não é verdade.
“A estratégia do governo está clara: infectar a todos. Matar muitos. Uma demonstração clara de como o negacionismo está matando o nosso povo”, escreveu ele nas suas redes sociais.
O senador Jean Paul Prates (PT-RN), líder da minoria, foi o relator da proposta que se transformou na lei que obriga o uso de máscaras em locais públicos (Lei 14.01, de 2020). Para ele, Bolsonaro “não se importa” com os efeitos da pandemia, e o anúncio do presidente é uma “ordem idiota” que os cidadãos deveriam ignorar. Ele lembrou que pessoas vacinadas ainda podem transmitir a doença.
“Vacina não quer dizer que alguém não possa ser contaminado e se transformar num transmissor da covid-19. O que [Bolsonaro] faz é perigoso para o Brasil e o mundo. Ele luta contra o fim da pandemia”.
De forma semelhante, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) ressaltou que é comprovada a possibilidade de reinfecção para pessoas que já contraíram a covid-19. Ela também cobrou do ministro Marcelo Queiroga uma posição firme contra o pedido de Bolsonaro.
“É claro que o presidente sabe que uma pessoa que foi infectada não está imune e que apenas a vacinação da maior parte da população trará segurança aos brasileiros. Pergunta que eu gostaria de ter feito para o ministro Queiroga: qual é o limite do senhor Queiroga entre a honra e um pedido de demissão?”
Alessandro Vieira (Cidadania-SE), membro suplente da CPI da Pandemia, afirmou que o presidente espalha desinformação e, assim, é responsável pelo alto número de casos da doença no Brasil. “Bolsonaro está acelerando as mentiras, as teorias conspiratórias e os factoides, tentando tirar o foco dos brasileiros do que importa. Já são mais de 17 milhões de infectados. Mais de 480 mil mortos. E esses números seriam menores sem os inúmeros erros dele”.
Já Fabiano Contarato (Rede-ES) acusou Bolsonaro de crime contra a saúde pública e “a vida humana” com essa atitude, e pediu que a CPI trabalhe para responsabilizá-lo. “Bolsonaro quer aposentar as máscaras? Bastaria ter feito o dever de casa e acelerado a vacinação. Sua sabotagem deliberada ao enfrentamento da pandemia reforça seu indiciamento na CPI”.
Alvaro Dias (Podemos-PR) citou uma pesquisa que apontou que pessoas que usam máscara regularmente apresentam taxas menores de contaminação pela covid-19 que o restante da população.
Em discurso nesta quinta-feira (10) no Palácio do Planalto, durante o anúncio de medidas do Ministério do Turismo, o presidente Jair Bolsonaro disse que o ministro Marcelo Queiroga divulgaria um parecer tornando opcional o uso de máscaras por pessoas já vacinadas ou que já tiveram covid-19. Queiroga publicou um vídeo nas redes sociais confirmando a conversa, dizendo que o presidente pediu “um estudo” sobre o assunto.
Agência Senado