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IRMÃOS BRAZÃO

Ronnie Lessa diz que matou Marielle por promessa de chefia na mílicia

Em delação premiada, Ronnie Lessa apontou Domingos e Chiquinho Brazão como mandantes do crime

Da Redação

Segunda - 27/05/2024 às 08:44



Foto: Lucas Landau/Reuters Ronnie Lessa
Ronnie Lessa

Em uma reportagem exclusiva para o Fantástico, foi divulgado um vídeo da delação de Ronnie Lessa, ex-policial militar e um dos assassinos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Pela primeira vez, Ronnie confessa o crime e revela os mandantes, além de detalhar o planejamento e o pagamento prometido pela execução de Marielle. 

Ronnie Lessa falou durante duas horas sobre o plano para assassinar a vereadora, acreditando que a proposta criminosa seria o negócio da vida dele.

"Não é uma empreitada, para você chegar ali, matar uma pessoa, ganhar um dinheirinho... Não", afirmou.

O Plano

Ronnie Lessa indicou os mandantes: Domingos Brazão, ex-conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão. Segundo Lessa, como pagamento, eles ofereceram a ele e a seu comparsa, o ex-PM Edimilson de Oliveira (conhecido como Macalé), um loteamento clandestino na Zona Oeste do Rio, avaliado em milhões de reais.

"Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de 20 milhões de dólares. A gente não está falando de pouco dinheiro [...] ninguém recebe uma proposta de receber dez milhões de dólares simplesmente para matar uma pessoa."

Ronnie Lessa apontou aos investigadores, com o uso de satélite, as supostas áreas onde seriam criados os loteamentos. No relatório das investigações, a Polícia Federal afirma que não foi possível encontrar evidências concretas de planejamento para ocupar a área.

Lessa não especificou quando começaria a ocupação, mas afirmou que os irmãos Brazão prometeram que ele seria um dos donos do empreendimento criminoso.

"Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle, como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade."

Segundo a delação, eles se reuniram três vezes. Nas conversas, Marielle era citada pelos Brazão como um obstáculo para o esquema. A PF destacou que não conseguiu comprovar os encontros entre os três, devido à falta de registros das operadoras anteriores a 2018, o que impediu o cruzamento de dados dos celulares dos envolvidos no período em que teriam acontecido os encontros.

A defesa de Domingos Brazão alega que não existem elementos que sustentem a versão de Lessa e que não há provas da narrativa apresentada. Os advogados de Chiquinho afirmam que a delação de Lessa "é uma desesperada criação mental na busca por benefícios, e que são muitas as contradições, fragilidades e inverdades."

Rivaldo Barbosa

Ronnie Lessa também afirmou que Domingos Brazão mencionou que o delegado Rivaldo Barbosa, então chefe da Delegacia de Homicídios do Rio, participava do plano e atuou para protegê-los da investigação após o assassinato.

"Falaram o tempo todo que o Rivaldo estava vendo, que o Rivaldo já estava redirecionando e virando o canhão para outro lado, que ele teria de qualquer forma que resolver isso, que já tinha recebido pra isso no ano passado, no ano anterior, ele foi bem claro com isso: 'ele já recebeu desde o ano passado, ele vai ter que dar um jeito nisso'. Então ali, o clima já estava um pouco mais tenso, a ponto até mesmo na forma de falar", relatou Lessa.

O advogado de Rivaldo Barbosa alegou que ele nunca teve contato com os supostos mandantes do crime e que não há registro de recebimento de valores provenientes de atos ilícitos. Também criticou a atuação da PF, dizendo que o relatório da investigação se baseia apenas nas palavras de um assassino, sem provas concretas.

Um dia antes do crime, Rivaldo Barbosa se tornou o chefe de polícia do Rio de Janeiro e, um dia depois do assassinato, nomeou o delegado Giniton Lajes para comandar a Delegacia de Homicídios.

No relatório da investigação, a Polícia Federal afirma que a escolha de um homem de confiança serviu para que os trabalhos de sabotagem se iniciassem no momento mais sensível da apuração do crime. Os investigadores dizem ainda que Rivaldo e o delegado escolhido por ele só prenderam os executores por pressão imposta pela sociedade e pela mídia - e para preservar os autores intelectuais.

A defesa de Giniton Lajes chamou a acusação contra ele de "infâmia grosseira". Disse que ele é o responsável por descobrir a autoria do crime, não a Polícia Federal.

Prisão de Ronnie Lessa e Assassinato de Macalé

Ronnie Lessa foi preso em março de 2019, um ano após as mortes de Marielle e Anderson. A arma usada no crime nunca foi encontrada.

Já o ex-PM Edimilson de Oliveira, o Macalé, foi assassinado em novembro de 2021.

Fonte: G1

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