
A relação entre o Palácio do Planalto e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), entrou em crise. Integrantes do governo Lula (PT) afirmam que o parlamentar tem se mostrado politicamente “fraco” para conduzir a Casa e vem rompendo acordos assumidos em reuniões com ministros de Estado. A avaliação, revelada nesta segunda-feira (16), foi publicada pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.
A frustração no governo começou a ganhar força após uma reunião realizada entre Motta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil), para discutir alternativas à alta do IOF. Na ocasião, o presidente da Câmara sinalizou apoio às propostas do governo, que incluíam a taxação de 5% do Imposto de Renda sobre aplicações hoje isentas, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA).
Ao deixar o encontro, Motta classificou a medida como uma iniciativa “histórica” e se comprometeu a conduzir o tema junto aos parlamentares. No entanto, dias depois, o deputado recuou e passou a criticar abertamente as propostas. Segundo ele, a taxação teria uma repercussão “muito ruim” no Congresso e entre empresários.
Mudança de posição
A mudança de posição acendeu o alerta no Executivo, que passou a ver o presidente da Câmara como um ator instável e pouco confiável. Para ministros, o recuo evidenciou a dificuldade de Motta em sustentar acordos e resistir a pressões políticas. A percepção interna é de que o deputado não possui a mesma capacidade de articulação que seu antecessor, Arthur Lira (PP-AL), conhecido por garantir votações estratégicas em meio a embates com o governo.
Na última sexta-feira (13), Haddad chegou a elogiar a postura de Lira durante a tramitação da PEC da Transição, no início da atual gestão. “Na gestão do presidente Arthur Lira (PP-AL), ele disse antes da minha posse, ainda na PEC da Transição, ele falou: ‘Haddad, eu não vou misturar as nossas brigas com o governo com a questão econômica. Nós vamos resolver a questão econômica num outro ambiente’”, relatou o ministro.
Além da dificuldade de articulação política, Motta também tem provocado incômodo no Supremo Tribunal Federal (STF), ao ceder à pressão de parlamentares em temas que ampliam os atritos com a Corte. De acordo com relatos de bastidores, o deputado teria menos apoio interno por não conseguir manejar de forma eficaz a liberação de emendas parlamentares, uma das principais moedas de negociação na Câmara.
A comparação com Arthur Lira tem sido constante. Segundo ministros, o ex-presidente da Casa garantia maior liberdade no uso das emendas e mantinha a pauta econômica ativa, mesmo em momentos de tensão institucional com o Planalto.
O cenário revela que, a menos de seis meses do fim de 2025, o governo Lula enfrenta um novo obstáculo na articulação com o Congresso, agora com um líder que, na visão do Planalto, ainda não demonstrou capacidade de manter coesão política entre os deputados e viabilizar pautas prioritárias da gestão.
Fonte: Brasil 247