O município de Gilbués, no sul do Piauí, é cenário de um dos processos de desertificação mais alarmantes do Brasil. Diferentemente de regiões naturalmente áridas, como Cabrobó (PE) e o Seridó (RN), Gilbués possui índices de chuva expressivos, mas sofre com graves intervenções humanas.
Segundo o climatologista Werton Costa, em entrevista ao Podcast Piauí Hoje, o problema é resultado de um "crime ambiental de dimensão assustadora". Atividades como mineração de diamantes, compactação do solo pelo gado e práticas agrícolas inadequadas deixaram a terra sem vida, expondo-a à erosão severa e à infertilidade.
Werton, que é Diretor de Prevenção e Mitigação da Defesa Civil, destaca que a desertificação no estado não é um fenômeno uniforme, mas se manifesta de forma distinta em diferentes áreas. "Mesmo em ambientes de transição, como o cristalino para a bacia sedimentar, o Piauí apresenta solo degradado por ações históricas predatórias, como a pecuária extensiva e o desmatamento", afirma o climatologista. Ele alerta para o risco de áreas semiáridas do Nordeste avançarem para a condição de áridas, uma ameaça que o estado deve evitar com urgência.
Além da crítica às práticas do passado, Werton defende uma postura proativa, que ele chama de "esperançar": engajar a população em uma cidadania ativa, responsável e mais empática. Ele destaca a importância de usar tecnologias modernas, como sensoriamento remoto e manejo sustentável, para reverter a degradação.
"A educação ambiental, especialmente entre os jovens, é a chave para mudar paradigmas e construir um futuro sustentável. Essa juventude não embarca mais na ideia de que desmatar, queimar ou depredar é progresso", enfatiza.
Ele ressalta que Semarh e a Defesa Civil do Piauí são atuantes na fiscalização ambiental, mas que enfrentam desafios adicionais em áreas de risco, como a existência de pequenas barragens sem manutenção, conhecidas como “barreiros”, e rios assoreados.
"O exemplo de Gilbués nos erve como alerta para adoção de políticas que combinem proteção ambiental, inovação tecnológica e educação para evitar que outras regiões sigam pelo mesmo caminho", finalizou, ressaltando que há boas referências de enfrentamento da desertificação em outros estados que podem ser adotadas pelo Piauí.
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