Lavradores da agricultura familiar de Teresina e outros municípios da microrregião Centro-Norte do Piauí estão preocupados com a falta de chuvas regulares no chamado "período chuvoso", que geralmente começa no final de dezembro.
Por causa da estiagem muitos agricultores perderam o que plantaram entre dezembro e janeiro e outros nem plantaram ainda porque não houve chuvas suficientes para garantir o crescimento das lavouras de milho, feijão, macaxeira, mandioca e hortaliça-fruto, como melancia e abóbora.
Moradores da zona Rural do entorno de Teresina estão prevendo que, se não tiver chuvas nos próximos dias, vai ter muita fome e miséria nessa região, onde muitas pessoas ainda vivem da agricultura e da criação de pequenos animais, como galinha, pato, bode, carneiro e porco.
O agropecuarista Sebastião Rodrigues, de um sitio no povoado Retiro Bom Jesus, na área da Cacimba Velha, disse que preparou uma boa área de terra para plantar milho e feijão, mas até agora não plantou nada porque a terra está seca.
"A situação é grave. Aqui na região muita gente ainda não plantou suas roças porque não teve chuva suficiente pra molhar bem a terra e criar as condições para crescimento das plantações", diz Sebastião.
Outro que se diz preocupado com a falta de chuvas é o também lavrador Francisco Pessoa Cabral, de 56 anos, que trabalha em um sitio na Cacimba Velha. Todos os anos ele planta milho, feijão, abóbora, melancia e outras culturas típicas do período chuvoso na região. Ele diz que não se lembra de um "inverno" tão ruim quanto o atual.
"Aqui as primeiras chuvas, boas, começaram em novembro. No dia finados (2 de novembro) sempre chove. Em dezembro também chove e em janeiro já está tudo bem molhado e plantado. Agora, já estamos entrando na segunda semana de fevereiro e nada de chuva que molhe a terra. O campo está arado a espera de chuvas. Por isso ainda não plantei nada", diz Francisco.
O lavrador Antônio Felipe Martins, de 78 anos, conhecido como Antônio Pequeno, também diz que está achando estranho essa mudança climática. Mas ele ressalta que não é a primeira vez que esse tipo de estiagem ocorre na área em vive.
Nascido e criado no povoado Fazenda Nova, também na região da Cacimba Velha, ele lembra que no final da década de 1960 houve falta de chuvas e tudo que foi platando se perdeu. "Foi uma seca danada. As famílias não passaram muita fome porque os padres da Socopo davam leite 'pau de índio', feijão e arroz", explica Pequeno.
O lavrador lembra ainda que, em 1987 a estiagem também causou muito problema na região onde vive. Foi o ano em que ocorreu um fenômeno batizado de "Seca Verde" porque as chuvas caíam, mas não eram suficientes para molhar bem a terra.
Mas Antônio Pequeno também se diz assustado com a falta de chuvas. Eu andei plantando na minha roça, mas já está tudo perdido. Nos meus quase 80 anos, só me lembro de situações como a de hoje poucas vezes. É estranho não estar chovendo em pleno mês de fevereiro", diz Antônio Martins.
Explicação científica
A climatologista Sara Cardoso, coordenadora da Sala de Monitoramento de Eventos Climáticos Extremo da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, explica que não está chovendo em Teresina por essa região do estado está sofrendo impactos diretos das mudanças climáticas que estão ocorrendo no planeta, bem como dos efeitos do fenômeno El Niño, que está bem ativo.
"Nos estamos vivendo um super El Niño, que vem influenciados nos sistemas que produzem chuvas aqui na Região Nordeste", diz Sara, acrescentando que o fenômeno também está gerando impactos na temperatura e na umidade relativa do ar.
Previsão de Chuvas
Mas o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) diz que nem tudo está perdido. O órgão federal prevê um mês de fevereiro chuvoso para o Piauí e outras partes do Matopiba, que engloba áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Segundo o Inmet, a previsão de chuvas acima da média deve contribuir para a manutenção da umidade no solo e o desenvolvimento das lavouras de primeira safra, após um aumento na umidade do solo devido ao retorno das chuvas mais regulares que não ocorrem nos meses de dezembro de 2023 e janeiro de 2024.
De acordo com o Inmet, em grande parte das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste do país, além de áreas do Pará, Amapá, Tocantins e Paraná, a previsão indica um total de chuva dentro ou ligeiramente acima da média. Este cenário também é previsto para o Brasil Central, onde a previsão de chuvas acima da média deve favorecer o desenvolvimento dos cultivos de primeira safra.