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A empresários de Brasil e Bolívia, Lula diz que países exportarão sustentabilidade

Em Santa Cruz de La Sierra, em evento empresarial, Lula exalta resistência aos golpes no Brasil e na Bolívia e alerta para importância do estado de direito para economia funcionar

da Redação

Quarta - 10/07/2024 às 14:49



Foto: Ricardo Stuckert / PR Antes de se reunir com empresários, Lula encontrou movimentos sociais do Estado Plurinacional da Bolívia
Antes de se reunir com empresários, Lula encontrou movimentos sociais do Estado Plurinacional da Bolívia

Em visita oficial à Bolívia, nesta terça-feira (9/7), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que sem estabilidade política e jurídica não há desenvolvimento social e econômico. Em discurso durante fórum com empresários do Brasil e da Bolívia, em Santa Cruz de La Sierra, Lula disse que a tentativa de golpe sofrida há poucos dias pelo país vizinho demanda uma reflexão sobre a democracia.

“O setor produtivo tem plena consciência da importância do estado de direito para o bom funcionamento da economia”, disse. “Assim como a pobreza e as desigualdades estão na origem de instabilidades de toda ordem. Os empresários sabem que podem ser tão vítimas das arbitrariedades de um regime autoritário quanto os trabalhadores”, acrescentou.

Segundo Lula, ele e o presidente da Bolívia, Luis Arce, querem que as indústrias dos dois países se desenvolvam, para que não vendam apenas produtos primários. E destacou que a energia renovável é fundamental para a neoindustrialização e o Brasil e a Bolívia têm recursos energéticos e minerais abundantes.

“Investir em energia solar, eólica, hidrelétrica é imperativo da transição energética e uma grande oportunidade para criar empregos de qualidade para nossos jovens”, afirmou Lula, ao ressaltar o potencial brasileiro e boliviano de produzir energia limpa e de liderar a transição energética na região.

Ele afirmou que "não é preciso buscar uma caldeira ou um trator na China, quando há opções no âmbito do Mercosul". E que o bloco deve se converter em plataforma para os mercados mundiais de minerais estratégicos e componentes de alta tecnologia. "Queremos agregar valor ao lítio e a outros minerais críticos aqui mesmo no coração da América do Sul (...) Como países amazônicos e membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) devemos alicerçar nossa visão de desenvolvimento sustentável na bioeconomia e na biotecnologia (...) Brasil e Bolívia devem exportar sustentabilidade."

Confira íntegra no vídeo e em texto abaixo


Minha visita à Bolívia não seria completa sem um evento empresarial deste porte.

Em uma situação normal, eu iniciaria este discurso exaltando as oportunidades de comércio e investimentos entre nossos países.

Mas a tentativa de golpe sofrida há poucos dias pela Bolívia demanda uma reflexão sobre a democracia.

O setor produtivo tem plena consciência da importância do estado de direito para o bom funcionamento da economia.

A resiliência das instituições nacionais frente ao 26 de junho na Bolívia e ao 8 de janeiro no Brasil demonstra que não há margem para retrocessos.

Sem estabilidade política e jurídica não há desenvolvimento social e econômico.

Assim como a pobreza e as desigualdades estão na origem de instabilidades de toda ordem.

Os empresários sabem que podem ser tão vítimas das arbitrariedades de um regime autoritário quanto os trabalhadores.

Nossos países são a prova de que é possível crescer com distribuição de renda sem abrir mão de direitos.

A Bolívia quintuplicou seu PIB entre 2005 e 2023. E a renda per capita quase quadruplicou.

No caso do Brasil, na esteira da Constituição Cidadã de 1988, superamos os fantasmas da inflação e da dívida externa.

Reduzir déficit fiscal sem comprometer a capacidade de investimento público é um compromisso da minha gestão.  

Contrariando os pessimistas, o PIB do Brasil cresceu 2,5% nos últimos 12 meses.

O Programa de Aceleração do Crescimento prevê que serão investidos recursos da ordem de 320 bilhões de dólares, 75% dos quais até 2026.

A nova política industrial brasileira se propõe a aumentar a complementaridade com os vizinhos e adensar nossas cadeias produtivas.

O desenvolvimento de infraestruturas comuns é a base para um continente mais próspero e unido.

Investiremos na integração física por meio de rotas multimodais que cruzarão toda a América o Sul, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico.

Duas das cinco rotas previstas passarão pela Bolívia, incontornável por sua centralidade neste continente.

Até o final de meu mandato, quero concluir a principal, a rota rodoviária do Quadrante Rondon, que integra os estados do Acre, de Rondônia e do Mato Grosso, à Bolívia e ao Peru.

Quando a interconexão ferroviária entre Santa Cruz e Cochabamba for completada, as cargas que saem do porto de Santos poderão chegar diretamente ao Pacífico.

A conclusão desses corredores permitirá uma economia de, no mínimo, mil dólares para cada contêiner brasileiro exportado para a Ásia, bem como a redução no tempo de transporte de mercadorias em, pelo menos, quinze dias.

A Ponte sobre o rio Mamoré, um compromisso histórico do Brasil, finalmente vai sair do papel.

Temos em curso estudos que também permitirão o acesso da Bolívia ao Atlântico por meio de hidrovias na bacia Amazônica e na Bacia do Paraguai-Paraná.

O gasoduto Brasil – Bolívia é um patrimônio estratégico que pode ser aproveitado para transportar gás do campo de Vaca Muerta, na Argentina, até o Brasil, suprindo demanda da indústria nacional.

Também poderá contribuir para abastecer as plantas para produção de fertilizantes que queremos construir no Mato Grosso e aqui em Santa Cruz de la Sierra.

Nosso importante comércio bilateral pode crescer ainda mais e se diversificar com a integração física e energética do continente. 

Em 2023, a corrente de comércio alcançou 3,3 bilhões de dólares. O Brasil foi o segundo maior fornecedor da Bolívia e o maior destino de suas exportações.

Essas cifras serão ainda maiores com a adesão da Bolívia ao MERCOSUL, ratificada ontem na Cúpula de Assunção.

Com sua entrada no Sistema de Pagamentos em Moeda Local, reduziremos a dependência do dólar e os custos de transação nas operações de câmbio entre os nossos países.

Essa é uma medida de grande utilidade, sobretudo para pequenas e médias empresas do nosso continente.

Na área de produtos agrícolas, nossas trocas ainda estão aquém de seu potencial. Com práticas sustentáveis, podemos garantir a segurança alimentar e promover o desenvolvimento rural dos dois lados da fronteira.

Além de fornecer material genético, rações e tecnologias de manejo, o Brasil tem interesse em avançar no diálogo sobre a certificação sanitária para exportação de proteína animal.

E temos muito o que aprender com a experiência boliviana de extrativismo, beneficiamento e comercialização de castanha, como ficou evidente com a realização, ontem, do Fórum Bilateral, com a participação de empresas dos dois países e da EMBRAPA.

Articular a promoção conjunta da castanha no mercado internacional é só um exemplo do muito que podemos fazer juntos.

O Presidente Arce e eu queremos que as indústrias da Bolívia e do Brasil se desenvolvam, para que não fiquemos vendendo apenas produtos primários. 

A energia renovável é fundamental para a neoindustrialização.

Bolívia e Brasil são abençoados com recursos energéticos e minerais abundantes.

Investir em energia solar, eólica, hidrelétrica é imperativo da transição energética e uma grande oportunidade para criar empregos de qualidade para nossos jovens.

O Brasil optou pelos biocombustíveis há quarenta anos, muito antes que a discussão sobre alternativas a combustíveis fósseis ganhasse atenção.

A tecnologia e a experiência brasileira nessa área podem contribuir para acelerar a transição ecológica aqui.

Não falo apenas sobre o aumento da demanda boliviana por etanol em função da recente atualização no percentual permitido para mistura na gasolina, que passou de 12% para 25%.

O Brasil que contribuir para a modernização e ampliação das seis usinas de açúcar e etanol que existem na Bolívia, cinco delas aqui na região de Santa Cruz.

Também podemos exportar máquinas e implementos agrícolas adaptados à produção local.

Não é preciso buscar uma caldeira ou um trator na China, quando há opções no âmbito do MERCOSUL.

É urgente fazer do bloco uma plataforma para nossa participação nos mercados mundiais de minerais estratégicos e componentes de alta tecnologia.

Queremos agregar valor ao lítio e a outros minerais críticos aqui mesmo no coração da América do Sul.

Compartilhamos a maior floresta tropical do mundo, uma reserva de biodiversidade incomparável e fonte de conhecimento e tecnologias valiosas.

Como países amazônicos e membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) devemos alicerçar nossa visão de desenvolvimento sustentável na bioeconomia e na biotecnologia.

Fomentá-las pressupõe o uso adequado desses recursos, em harmonia com a natureza e com os povos da floresta, como pactuamos na Cúpula da Amazônia em agosto passado.

A batata, a quinoa, a chia, as castanhas da Amazônia, todos são produtos que os povos originários na Bolívia e no Brasil ajudaram a desenvolver ao longo de séculos e que ganharam o mundo.

Brasil e Bolívia devem exportar sustentabilidade!

Em Belém, na COP-30, vamos mostrar ao mundo todo o potencial de nossa região, ao aliar nossas riquezas naturais ao compromisso político, no mais alto nível, com metas ambiciosas de transição para economias de baixo carbono.

Nossa fronteira é a 8ª maior do mundo, com mais de 3.400 km de extensão, do Pantanal à Amazônia.

É preciso levar dignidade, bem-estar e emprego às populações fronteiriças.

Assinamos hoje um protocolo de intenções que permitirá que bolivianos e brasileiros usem os sistemas de saúde públicos nos dois países.

Retomamos todos os mecanismos bilaterais para combate ao crime transnacional.

Vamos garantir que brasileiros e bolivianos possam conviver nas nossas fronteiras livres da violência e da ameaça do crime organizado.

Senhoras e senhores,

A participação numerosa de empresários e empresárias que vejo aqui é a expressão do empreendedorismo latino-americano, da força da integração regional, e do potencial econômico-comercial de nossos países.

O sucesso do encontro confirma que o setor privado está plenamente engajado nesse projeto de desenvolvimento.

Peço aos líderes empresariais aqui presentes que busquem conhecer e aproveitar oportunidades na Bolívia e no Brasil.

Vamos aproveitá-las, superar os desafios e construir um futuro do qual nossos filhos e netos se orgulharão.

Muito obrigado.

Fonte: Agência Gov

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