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UFPE cria curso de educação quilombola em homenagem ao piauiense Nêgo Bispo

O curso vai atender à demanda por professores qualificados nas escolas quilombolas de Pernambuco

Da Redação

Quarta - 14/08/2024 às 20:15



Foto: Redes sociais Antônio Bispo: reconhecimento nacional
Antônio Bispo: reconhecimento nacional

A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) aprovou a criação da Licenciatura em Educação Escolar Quilombola, uma nova iniciativa destinada a garantir a formação docente específica para as populações quilombolas do estado. O curso faz uma homenagem ao professor e intelectual quilombola piauiense Antônio Bispo dos Santos, o "Nêgo Bispo".

A proposta é fruto de uma colaboração com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) – Campus Garanhuns, e o Instituto Federal de Educação do Sertão Pernambucano (IFSertãoPE), com o apoio da Coordenação Estadual de Articulação das Comunidades Quilombolas de Pernambuco.

O novo curso de licenciatura visa suprir a demanda por formação inicial e segunda graduação para professores em escolas quilombolas de Pernambuco. Ele atenderá tanto a profissionais em exercício na educação básica pública quanto àqueles que buscam uma formação conforme a resolução nº 8, de 20 de novembro de 2012, do Conselho Nacional de Educação (CNE), que estabelece diretrizes curriculares para a educação escolar quilombola.

Estrutura e vagas

A licenciatura será oferecida em três áreas: Pedagogia, Matemática e Ciências da Natureza, e Ciências Sociais. Serão disponibilizadas 100 vagas, distribuídas da seguinte forma: 50 para Pedagogia, 25 para Matemática e Ciências da Natureza, e 25 para Ciências Sociais. O curso terá uma duração de oito semestres, será presencial e adotará a alternância pedagógica, com períodos de formação tanto nos campi das instituições parceiras quanto nas comunidades quilombolas.

Os graduados terão a oportunidade de atuar em diversas modalidades da educação básica, incluindo anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio, e também poderão trabalhar com gestão escolar e práticas educativas nas comunidades quilombolas.

Seleção em homenagem

O processo seletivo para o curso será exclusivo para candidatos quilombolas e incluirá um edital específico voltado para estudantes egressos do Ensino Médio e professores que atuam em escolas de Pernambuco. O início das aulas está previsto para o primeiro semestre de 2025.

De acordo com a instituição, a licenciatura quilombola homenageia o quilombola Nêgo Bispo, intelectual, poeta, escritor, professor e ativista do movimento quilombola, nascido no Povoado de Papagaio, Francinópolis (Piauí), e falecido em dezembro de 2023.

Quem é Nêgo Bispo

Antônio Bispo dos Santos, o Nêgo Bispo, nasceu em 10 de dezembro de 1959, no vale do Rio Berlengas, região da cidade de Francinópolis, e viveu boa parte de sua vida no Quilombo Saco-Curtume, em São João do Piauí, cidade onde faleceu.

Formou-se pelos ensinamentos de mestras e mestres de ofício do quilombo Saco-Curtume e completou o ensino fundamental, tornando-se o primeiro de sua família a ter acesso à alfabetização.

Foi presidente do Sindicato de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Francinópolis e diretor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Piauí (FETAG/PI).

Atuou ainda na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e na Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas.

Nêgo Bispo tratou sobre a história de luta do povo negro e propôs o conceito de contra-colonialismo, uma atitude de reforçar a cultura, as práticas, a organização social e todas as manifestações coletivas de povos colonizados contra os esforços de imposição dos colonizadores. Para ele, a contra-colonização seria o "antídoto" contra a colonização, que definia como "veneno".

Nêgo Bispo é reconhecido como um dos principais pensadores do tema comunidades tradicionais do Brasil. Escreveu os livros “Quilombo, Modos e Significados” e “Colonização Quilombos: Modos e Significados”, além de vários outros artigos, também dirigiu o filme-documentário “O Jucá da Volta”, em parceria com o IPHAN.

Fonte: UFPE e Alma Preto Jornalismo

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