O preço do café no Brasil teve um aumento significativo nos últimos meses, refletindo os impactos da seca e das altas temperaturas nas lavouras. De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o café moído registrou uma alta de quase 33% no acumulado dos 12 meses até novembro. Nos supermercados, o pacote de 1 kg passou de R$ 35,09 em janeiro para R$ 48,57, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Esse aumento deve continuar, pelo menos, até 2026, uma vez que as lavouras podem demorar para se recuperar, dependendo das condições climáticas de 2025.
Altas temperaturas
A seca e o calor intenso no primeiro semestre de 2024 afetaram as principais regiões produtoras, como Minas Gerais e São Paulo. Esses fatores prejudicaram a saúde das plantas, que, para sobreviver, abortaram parte dos frutos. Apesar de chuvas durante a florada, crucial para o desenvolvimento do grão, as plantas redirecionaram sua energia para a produção de folhas e galhos, impactando a colheita. O consultor de café do Itaú BBA, Cesar Castro Alves, explicou que até as áreas irrigadas sofreram com o clima e muitos produtores optaram por "esqueletar" as lavouras, realizando podas drásticas para permitir a recuperação das plantas para a próxima safra.
A situação é ainda mais preocupante devido à incerteza em relação às safras futuras. Nos últimos quatro anos, problemas climáticos como secas, geadas e calor excessivo afetaram a produção, interrompendo o padrão bienal da colheita. Celírio Inácio da Silva, diretor executivo da Abic, destacou que a redução da produção, combinada com o aumento da demanda, gerou um cenário de preços altos. A saca de café, que em janeiro estava em torno de R$ 700 a R$ 750, ultrapassou os R$ 2.100 a R$ 2.200, com a cotação chegando a R$ 2.561,78 em 11 de dezembro na bolsa de Nova York.
Consumo
Apesar do preço elevado, o consumo de café continua crescendo. Entre janeiro e outubro de 2024, o consumo da bebida aumentou 0,78%, conforme dados da Abic. A tendência é impulsionada pelo café ser a segunda bebida mais consumida no Brasil e no mundo, além da expansão das exportações para novos mercados internacionais, como a China, que tem registrado um crescimento anual de 17% nas compras de café.
O Brasil também tem aumentado suas exportações de café robusta, devido aos prejuízos enfrentados pelo Vietnã, maior produtor mundial deste grão. O café robusta brasileiro, que geralmente representa uma menor parte da produção nacional, passou a atender à crescente demanda internacional.
O aumento nos custos logísticos, agravado pelos conflitos no Oriente Médio, também contribui para o encarecimento do café. A dificuldade de navegação no canal de Suez, que impactou o transporte de contêineres, elevou os preços de frete, encarecendo a exportação.
Para os especialistas, os preços do café devem continuar altos até 2026. O consultor Cesar Alves acredita que, apesar da maior resistência do café conilon ao calor, a produção de arábica deverá diminuir nos próximos anos. Celírio Inácio da Silva, da Abic, explicou que as previsões para 2025 dependem das condições climáticas, como as chuvas nos primeiros meses do ano. Se as chuvas não ocorrerem, a expectativa é mais pessimista. No entanto, ele ressaltou que "não há indícios de queda no mercado, e o aumento do preço do café deve continuar em 2025", finalizou o diretor.