A nova versão de "Nosferatu", o clássico de terror de 1922, já estreou nos cinemas brasileiros, marcando o centenário da original produção dirigida por F.W. Murnau. A adaptação moderna do filme é assinada por Robert Eggers, cineasta de destaque no gênero de terror, conhecido por seus trabalhos em “A Bruxa” (2015) e “O Farol” (2019).
O filme original de Murnau é um dos maiores exemplos do expressionismo alemão, movimento artístico que explorava temas emocionais intensos através de uma estética sombria, com ênfase em sombras e contrastes fortes. A história de “Nosferatu” é uma adaptação livre do livro Drácula de Bram Stoker, porém com modificações nos personagens para contornar as questões de direitos autorais, o que levou à criação do personagem Conde Orlok.
Orlok e Drácula: Duas Versões de um Vampiro Icônico
Ao tentar fazer uma versão expressionista do famoso Drácula, os produtores Albin Grau e Enrico Dieckmann enfrentaram dificuldades para obter os direitos do livro, já que a viúva de Bram Stoker, Florence Stoker, não quis vender a obra. Além disso, na época, a Alemanha já seguia as normas da Convenção de Berna, que garante a proteção dos direitos autorais. Para evitar problemas legais, os nomes dos personagens foram alterados: o Drácula virou Conde Orlok, e a trama manteve a premissa de um homem que vai à Transilvânia negociar com um misterioso cliente, que acaba sendo um vampiro.
A interpretação de Max Schreck como Conde Orlok se tornou lendária, gerando boatos de que ele seria, na verdade, um vampiro. O visual e a personalidade do personagem também foram ajustados para criar uma figura mais assustadora e menos sedutora do que o Drácula original.
Distinções Entre Orlok e Drácula
Luz Solar
Enquanto o Conde Orlok morre quando exposto ao sol, o Drácula de Stoker apenas perde seus poderes na luz, mas não chega a morrer.Modo de Morder
O Conde Drácula prefere morder no pescoço de suas vítimas para transformá-las em vampiros. Já Orlok morde no peito das suas vítimas, matando-as após sugar o sangue.Aparência e Sedução
O Drácula de Stoker é sedutor e humano em aparência, podendo até hipnotizar suas vítimas. O Conde Orlok, por outro lado, é monstruoso, com uma pele pálida, garras e feições de morcego.
O filme de Murnau foi inicialmente promovido como uma adaptação do livro “Drácula”, o que resultou em um processo judicial movido por Florence Stoker. Como consequência, todas as cópias do filme foram ordenadas a serem destruídas, levando à falência da produtora Prana. No entanto, algumas cópias foram enviadas para os Estados Unidos, onde o livro de Stoker já estava em domínio público, ajudando a garantir a popularidade do filme.
Contribuições Inovadoras de Murnau
Embora não tenha sido o primeiro filme inspirado em Drácula, “Nosferatu” de Murnau é considerado o marco inicial das histórias de vampiros no cinema. A produção introduziu o conceito de que os vampiros morrem ao serem expostos à luz solar, e estabeleceu técnicas visuais que se tornaram padrão no gênero, como o uso de sombras e a identificação do monstro através da sua silhueta.
Murnau também utilizou efeitos cinematográficos inovadores para criar um clima de tensão e terror, como a taxa de quadros reduzida para aumentar a sensação de velocidade, e o uso de filmes fotográficos negativos para dar um efeito sobrenatural às cenas.
Além disso, Murnau filmou o longa em locações reais, como o Castelo de Orava e a cordilheira High Tatras, criando uma atmosfera mais autêntica para a história.
Lançado pouco após a pandemia de gripe espanhola, o filme reflete o clima de doenças e pestilências que assolavam a época, além de ser uma possível representação das tensões antissemitas no início do século 20, com algumas interpretações sugerindo que o filme usou o vampiro como metáfora para os judeus, vilificados pela propaganda nazista.
Releituras de 'Nosferatu'
Mais de 50 anos após o lançamento de Murnau, o cineasta Werner Herzog trouxe sua versão de “Nosferatu – O Vampiro da Noite” (1979), que foi bem recebida tanto pela crítica quanto pelo público, mantendo a atmosfera sombria e gótica do original. Mesmo com semelhanças com o clássico de 1922, os nomes dos personagens foram alterados para refletir o livro “Drácula” de Bram Stoker, com o Conde Drácula como o vilão. O ator Klaus Kinski interpretou o vampiro, recebendo elogios pela performance.
A versão de Herzog possui 94% de avaliações positivas no site Rotten Tomatoes. Kinski reprisou seu papel como Drácula no filme “Drácula em Veneza” (1988), mas essa produção teve uma recepção muito negativa, com apenas 24% de aprovação no Rotten Tomatoes.
Além disso, o personagem Conde Orlok foi referenciado em diversas produções culturais, incluindo o episódio “Turno Macabro” (2001) de Bob Esponja Calça Quadrada, que introduziu a figura do vampiro para uma nova geração de fãs.
A história também inspirou o filme “A Sombra do Vampiro” (2000), que brinca com o boato de que Max Schreck realmente era um vampiro. No filme, o ator Willem Dafoe interpreta Schreck, abordando de forma fictícia as filmagens do clássico de Murnau.
O novo "Nosferatu" de Robert Eggers apresenta Willem Dafoe novamente no elenco, mas agora no papel de um caçador de vampiros, com Bill Skarsgård interpretando o Conde Orlok. Estreando nos cinemas dos Estados Unidos em 25 de dezembro de 2024, o remake tem sido amplamente elogiado pela crítica, com 86% de aprovação no Rotten Tomatoes, e arrecadou mais de US$ 48 milhões (aproximadamente R$ 297 milhões) nas bilheteiras.
O lançamento do remake de "Nosferatu" marca uma nova era para este clássico do terror, mantendo a essência da história enquanto atrai novas gerações para a lenda do Conde Orlok.
Fonte: Com informações de NEXO