Em um debate sobre o cenário midiático atual, o jornalista e educador Iraildo Mota, diretor da escola ConRádio, destacou um paradoxo central das redes sociais: as mesmas ferramentas que permitem a difusão global de conteúdos locais também podem sufocá-los em um oceano de informações padronizadas, ameaçando a identidade cultural. Ele foi entrevistado por Gilson Calland no podcast Conexão Cultura, gravado no estúdio do Portal Piauí Hoje.
Mota, que se define como um entusiasta das novas formas de comunicação, foi incisivo ao criticar o que chamou de "sequestro do nosso tempo" pelos algoritmos. "Ao mesmo tempo que elas impulsionam possibilidades, como gravar um podcast, também tomam a nossa atenção de uma forma tão perversa que a gente acaba esquecendo que coisas valiosas, como a nossa cultura e a nossa literatura, são tão importantes quanto qualquer tendência nacional", afirmou. Ele relacionou esse fenômeno a uma "inversão de valores", onde o "ter" (status digital, seguidores, equipamentos caros) frequentemente supera o "ser".
A discussão iniciou com uma constatação sobre a valorização prática da cultura piauiense. O apresentador Gilson Calland observou que muitas pessoas se declaram amantes da cultura local, mas não consomem ativamente peças de teatro, shows ou literatura regional. "Sou do Piauí, mas não sigo o Piauí", resumiu, citando um comportamento comum. Iraildo Mota apontou a educação como uma raiz do problema. "Acho que as escolas deixam a desejar um pouco na difusão da nossa cultura", disse, mencionando a obra de escritores como H. Dobal e Mário Faustino, que, em sua opinião, não recebem a devida atenção nem mesmo em salas de aula.
Sobre o jornalismo e a produção de conteúdo na era digital, Mota diferenciou "interesse de público" de "interesse público". Ele criticou a tendência de veículos tradicionais priorizarem conteúdos sensacionalistas em suas redes sociais para gerar engajamento, em contraste com sua programação linear. "O maior perdedor nisso não é o veículo, é a sociedade, que deixa de ter conteúdos mais honestos e justos", analisou. Para comunicadores que desejam se destacar, ele ofereceu uma chave: "É você saber perguntar. Mais do que falar, é saber ouvir e perguntar". No entanto, alertou para a prática nociva dos "cortes" de vídeo fora de contexto, que alimentam a desinformação. "As pessoas passam a entender o mundo pelos cortes, e isso não é bom".
Ao final da entrevista, citando Umberto Eco, o jornalista concordou que a internet "deu voz aos imbecis", mas manteve um tom de cautelosa esperança, enfatizando a responsabilidade que a liberdade de expressão digital carrega. A conversa destacou a necessidade de um consumo consciente das mídias e um apoio ativo à produção cultural regional como antídotos para a homogeneização imposta pelos algoritmos.