Arte e Cultura

ENTREVISTA

Irmãos Bezerra: pioneiros do ijexá no Piauí e guardiões da “música negra”

Irmãos Bezerra combinam ijexá, samba, soul e carimbó para celebrar a diversidade musical afro-brasileira

Da Redação

Terça - 24/06/2025 às 19:52



Foto: Piauí Hoje Luiz Brandão, Irmãos Bezerra e Roberto John no estúdio do portal Piauí Hoje
Luiz Brandão, Irmãos Bezerra e Roberto John no estúdio do portal Piauí Hoje

Quando o violão de Assis se juntou ao tambor de terreiro empunhado por Dimas, em 1985, muita gente no festival estudantil da Universidade Federal do Piauí se surpreendeu com o ritmo diferente. Era ijexá, batida nascida nos terreiros de Salvador e, até então, praticamente desconhecida por aqui. A canção “Coisa de Negro”, parceria dos irmãos com o poeta Toinho de Teresina, venceu o festival e abriu caminho para uma nova sonoridade na cena local.

Em entrevista ao Podcast do portal Piauí Hoje, os irmãos contam como levaram o ritmo baiano aos palcos piauienses nos anos 80, falam do legado afro-brasileiro e defendem a arte como ferramenta de reparação histórica

“Nós subimos ao palco com dois violões e percussão. O resto era piano, violino, música tradicional europeia”, lembra Dimas. A diferença marcou. O ijexá, base de muitos blocos afro baianos, tornou-se marca registrada do duo, que passou a defender abertamente a cultura negra em suas composições.

Entre as principais inspirações, estão Luiz Caldas, um multi-instrumentista brilhante, Gilberto Gil e os blocos de afoxé de Salvador. “Quando o Fifi (Feliciano Bezerra) voltou dos congressos de estudantes na Bahia, nos fez perceber o quanto carregamos a África na nossa música. Era hora de assumir isso no palco”, conta o violonista Assis Bezerra, hoje professor da Escola de Música de Teresina.

Para os irmãos, valorizar o legado afro-brasileiro é uma forma de reparação histórica. “O Brasil deve muito à cultura negra na comida, na dança, na religião. Ainda sofremos preconceito, mas a arte é nossa voz”, diz Dimas. Eles apoiam as cotas raciais e se engajam em rodas de hip-hop da periferia, que segundo Assis “ainda enfrentam a patrulha policial mesmo quando só existe poesia no microfone”.

No repertório atual, eles misturam ijexá, samba, soul e carimbó. Entre os destaques estão “Bibelô”, balada para o Dia dos Namorados, e “Toda Tribo”, celebrando a força do povo negro. Os shows são animados, com direito a passinhos aprendidos “na varanda lá de casa, ouvindo rádio de pilha”, brinca Dimas.

Fora do palco, a atuação continua: Assis está prestes a lançar um disco instrumental de guitarra baiana, revivendo o instrumento criado por Dodô & Osmar. Já Dimas prepara oficinas de percussão no Quilombo Grande, em São João do Piauí, onde pretende “ligar artistas da capital à cultura comunitária”.

Quem quiser conferir o resultado ao vivo deve ficar atento às redes sociais. Os Irmãos Bezerra prometem nova temporada de pocket shows ainda neste semestre. É música para dançar, pensar e, sobretudo, reconhecer a herança africana que pulsa no Piauí.

Veja entrevista completa dos irmãos Bezerra ao portal Piauí Hoje:

Siga nas redes sociais

Compartilhe essa notícia: