O Partido Liberal (PL) oficializou neste domingo (24) a candidatura do presidente Jair Bolsonaro à reeleição. No discurso, Bolsonaro fez diversos ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas, e também ao STF (Supremo Tribunal Federal). O público reagiu com gritos de "o Supremo é o povo". Bolsonaro chegou a convocar um ato para o dia 7 de setembro, dizendo que os "surdos de capa preta" precisam entender o que é a voz do povo.
Em um aceno ao Nordeste, ele prometeu manter o Auxílio Brasil de R$ 600 se for reeleito. No evento, Braga Netto também foi oficializado com candidato a vice-presidente.
A convenção do partido foi no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, e contou com a participação do público vestido de verde e amarelo, e aliados políticos.
Bolsonaro começou o discurso falando que reza o Pai Nosso e pedindo ao público que "não experimente as dores do comunismo", regime político que nunca foi implantado no país. Ele destacou sua trajetória até a Presidência e fez menção ao atentado sofrido em 2018, em Juiz de Fora. Em seguida, afagou aliados.
Ataques ao STF
Bolsonaro conclamou os apoiadores a protestarem contra o STF, na escalada de tensão envolvendo seus questionamentos ao sistema eleitoral. Sem especificar por que, Bolsonaro disse que a manifestação em 7 de setembro será "a última vez" que os apoiadores irão às ruas. Ele atacou mais uma vez o STF, chamando os ministros de "surdos de capa preta".
Nós não vamos sair do Brasil. Nós somos a maioria, somos do bem. Nós temos disposição para lutar pela nossa liberdade e nossa pátria. Convoco todos vocês agora para que todo mundo no 7 de setembro vá as ruas pela última vez. Esses poucos surdos de capa preta tem que entender a voz do povo. Tem que entender que quem faz as leis é o legislativo e o executivo. Todos tem que jogar dentro das quatro linhas da constituição".
Ataques a Lula
Ao citar Lula, o presidente procurou associar o concorrente a regimes como Cuba e Venezuela. "Alguém acha que o povo cubano ou venezuelano não quer a liberdade? Querem a liberdade, mas porque chegaram a esse ponto? Escolhas erradas, somos escravos de nossas decisões", afirmou.
Em outro trecho, fez um ataque direto: "De nada vale um país rico se o povo escolhe um bandido para a Presidência da República. Querem dar a presidência para um cachaceiro descondenado?", afirmou, referindo-se às condenações que foram anuladas. "O que eu falo não é um ataque, é uma constatação", disse.
Forças Armadas
Em um afago às Forças Armadas, Bolsonaro criticou a criação do Ministério da Defesa —pensado para submeter os militares ao controle civil. Ele também defendeu a presença de mais de 6 mil militares em cargos civis no governo.
"Falaram que eu botei muito militar. Não botei muito, botei o suficiente. Mas, se fosse para botar bandido, vocês tinham votado no outro candidato", falou.
Afago a aliados
Ao citar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), parte do público vaiou. O presidente então saiu em defesa dele. "Graças a ele conseguimos aprovar leis que vieram a baixar o preço dos combustíveis. A grande maioria dos parlamentares está com o governo e o governo está com eles. Temos três poderes, mas o legislativo e o executivo são irmãos", disse, arrancando aplausos da plateia.
O pastor Marco Feliciano abriu o evento, com orações e citação à família. Ao passar a palavra para Bolsonaro discursar, ele falou pouco e logo deu o microfone para Michelle Bolsonaro. A ideia da organização da campanha é atrair o público feminino e evangélico. Ela citou a facada, disse que o país é mal administrado e falou sobre o amor ao País. Michelle também disse que a gestão do Bolsonaro criou leis de proteção às mulheres e fez políticas para o Nordeste.
Para evitar ciúmes entre ministros e parlamentares, a cúpula da campanha decidiu que apenas Bolsonaro discursaria. A organização também definiu os lugares em que cada autoridade iria sentar para demarcar quem ficaria mais próximo ao presidente.
Condenado no escândalo do mensalão, o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, foi colocado em uma das cadeiras mais afastadas do local destinado a Bolsonaro.
Público de verde e amarelo e vuvuzela
A entrada ao público no Maracanãzinho começou por volta de 8h15. O público compareceu vestindo roupas nas cores da bandeira, verde e amarelo, e munidos de vuvuzela —um tipo de corneta de plástico. A entrada foi organizada por ordem de chegada, para evitar o esvaziamento do evento.
Nos últimos dias, militantes de esquerda fizeram campanha nas redes sociais para que opositores de Bolsonaro retirassem ingressos para o evento em uma plataforma virtual, como forma de esvaziar a plateia. A iniciativa repete estratégia adotada por fãs do estilo musical k-pop nos Estados Unidos contra a campanha de Donald Trump, em 2020.
De acordo com o PL, foram retirados cerca de 50 mil ingressos —cinco vezes mais que a capacidade máxima do Maracanãzinho. No entanto, foram identificados indícios de fraude em 40 mil solicitações. O partido protocolou uma representação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra o boicote, mas não detalhou qual foi a argumentação adotada.
A entrada do público e da imprensa ocorreu lado a lado, separadas por grades de ferro. Houve certa hostilidade, com música citando "Globolixo" e xingamentos. O advogado Frederick Wassef chegou a desfilar no palco antes do início da convenção e filmar o público.
Durante a manhã do evento, o entorno do Maracanãzinho ficou marcado pelo ribombar ocasional de vuvuzelas, breves e e esparsados gritos de ordem, como "a nossa bandeira jamais será vermelha", e carros customizados rodando o quarteirão. Dentre os veículos mais chamativos, destacou-se um fusca verde e amarelo com um homem fantasiado de Jair Bolsonaro, vestindo uma desproporcional máscara alegórica com o rosto do presidente.
Fonte: UOL